Atentado no Quênia e preconceito contra mulçumanos.

wesgate shopping quenia

Houve o atentado no shopping “WestGate” em Nairobi, capital do Quênia. O grupo somali “Al Shabab” (a juventude) invadiu o local matando aleatoriamente os frequentadores do local, em sua maioria cidadãos pertencentes à elite local e estrangeiros.

Três dias de cerco pelo exército e a situação estava resolvida.

Evidentemente quem está disposto a dar a vida e tirar a vida de inocentes é movido pelo ódio, caso deste grupo terrorista. Talvez o que alimente este sentimento seja a presença das forças armadas quenianas na Somália. Pode ser também para lembrar aos norte-americanos os 20 anos do fracasso da missão Black Hawk Down na Somália, quando foram abatidos dois helicópteros Black Hawk e os corpos de dois soldados arrastados pelas ruas da cidade. Essa imagem correu o mundo.

Bem, pode ser qualquer coisa e muito mais.

Os países africanos, em sua grande maioria, surgiram por interesses colonialistas europeus. Juntaram sobre uma mesma e única administração tribos e etnias historicamente antagônicas. Depois da independência quem assumiria o poder e as riquezas do país, os tutsi ou os hutus, por exemplo?

Já sabemos o fim dessa história: guerras, massacres e atrocidades.

No entanto quero me ater à maneira tendenciosa que a mídia dá a esse caso. As reportagens sempre lembram que trata-se de um grupo mulçumano.  E publicam entrevistas de sobreviventes realçando este fato da religião, alçando ao primeiro posto dos motivos da invasão, com isso recrudescendo a imagem negativa que os ocidentais têm dos islamitas.

Os terroristas perguntavam o nome da mãe de Maomé, se não soubesse matavam. Pediam em outros casos para fazer tal oração, se não conseguissem matavam também. Em outro aparece um israelense afirmando que por saber falar português e ter morado no Brasil usa este conhecimento para se salvar de situações como essa, pois se descobrissem que é judeu estaria morto.

Ora este é o real motivo para a chacina? Acordam e saem à cassa. Vamos matar não mulçumanos. Assim, do nada? Alguém acredita nestes motivos religiosos e apenas neles?

E o pior, corre nas redes sociais imagens de cristãos mortos pelos mulçumanos. Alguns com uma cruz enfiada na boca. Pergunto: isto é ou não é alimentar ódio e preconceito contra outras crenças? Quem vê a imagem solta fica horrorizado. Estamos de volta aos tempos de Nero. Façamos cruzadas para salvar os irmãos cristãos, que só o bem querem levar.

Então para fazer um contraponto e mostrar o puro preconceito exalado nestas reportagens, escrevo sobre o extremismo cristão. Há um grupo na África central chamado Exército de Resistência do Senhor (LRA, em inglês). Seu fundador e líder chama-se Joseph Kony. São famosos pelo uso da violência. Acusados de sequestrar crianças e adolescentes para torna-las escravas sexuais, servos ou serem usados como soldados.

Eis alguns depoimentos de vítimas desses cristãos: Vumilya assistiu seu irmão ser esfaqueado, ter os olhos e a cabeça decapitados com facão. Josiane teve os lábios cortados com lâmina de barbear enquanto era insultada. Relatou um garoto: “primeiro eles amarraram a pessoa e depois me ordenara que a matasse a pauladas e diziam: pegue esse bastão e mate este animal”. O exército do Senhor existe desde 1987.  Relatório “Uma Vida de Medo e Fuga”.

Bem, os seguidores da bíblia que se sentiram indignados podem argumentar: mas não são todos os cristãos. Estes não são cristãos. Eles não seguem a Bíblia. Jesus não permitiria essa barbaridade. Não podemos generalizar.

Pois é, os cristãos estão certos nos seus ultrajes, e os mulçumanos também. Eles poderiam usar perfeitamente qualquer justificativa do cristianismo a seu favor, não é mesmo?

Para aqueles que espalham o preconceito, principalmente os formadores de opinião: a violência só leva a mais violência. Concordam?

Redação

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