Banco multiplica capital de organizações do terceiro setor

Banco sem fins lucrativos oferece empréstimos a 1% am

Por Lilian Milena, Do Brasilianas.org 

Banco brasileiro sem fins lucrativos oferece empréstimos a 1% ao mês para organizações do terceiro setor. A instituição criada há cinco anos já realizou empréstimos que totalizam R$ 1,5 milhão a 11 organizações sociais, sendo também reconhecida com o prêmio beyondBanking, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), como melhor investimento socialmente responsável da América Latina, no início de 2012.

A Sitawi-Finanças do Bem foi fundada há cinco anos pelo engenheiro Leonardo Letelier com o objetivo de trazer a experiência dos negócios para o setor social, melhorando assim a eficiência e o impacto dos trabalhos realizados pelas organizações não governamentais.

Segundo Letelier, o fundo de empréstimos do banco é totalmente constituído por doações de pessoas físicas, jurídicas e fundações, dentre elas o Grupo +Unido, uma parceria entre a Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional e 18 multinacionais, entre elas Cargill, Motorola, 3M e IBM.

A Sitawi oferece de R$ 100 mil a R$ 400 mil por empréstimos. Das 11 organizações sociais que já recorreram a Sitawi, nove regularizaram todo o débito, uma está em dia e outra se encontra em atraso. “Nesse último caso estamos estudando a situação para entender o que está acontecendo com essa organização, como podemos ajudá-la antes de avaliar qualquer outra opção”, explica Letelier.

A ideia de substituir a simples doação por empréstimo aumenta a aplicabilidade dos recursos doados, isso porque o dinheiro emprestado pelo banco volta à carteira para ser novamente aplicado em outras iniciativas de impacto social. A Sitawi estima que os empréstimos já concedidos por ela (R$ 1,5 milhão) beneficiaram 15 mil pessoas.

Uma das organizações sociais auxiliadas é o Centro de Integração de Educação e Saúde (CIES), idealizado pelo médico Roberto Kikawa. O projeto leva atendimento médico especializado móvel às populações de baixa renda. A organização, sediada na cidade de São Paulo, realiza parcerias com prefeituras ou estados cobrando os atendimentos com base na tabela do SUS.

Segundo a assessoria de imprensa, o CIES possui dois box de saúde, uma van e uma carreta. No final de 2011 o centro necessitava de R$ 200 mil para reformar equipamentos médicos da carreta, executar a construção do box da saúde do homem e também investir na especialização de pessoal. O recurso foi financiado pela Sitawi. Hoje a carreta circula em São José dos Campos, onde o CIES mantém uma parceria com a prefeitura. A organização também realiza trabalhos junto as prefeituras de São Francisco do Sul e Itapema, em São Paulo, e em Três Lagoas, no Mato Grosso, esse último, em parceria com a Metalfrio S/A. 

Outro exemplo é da Solidarium, rede que reúne 6.600 micro-empreendedores de artesanato, fornecendo produtos a grandes varejistas. O diretor executivo da organização, Tiago Davil, conta que, em 2009, receberam uma encomenda do Wal-Mart para a confecção de 30 mil bolsas feitas a partir da reciclagem de garrafas PETs. Para atender ao pedido necessitavam de R$ 150 mil para compras de insumos da produção. “Recorremos a vários bancos tradicionais, mas os empréstimos oferecidos eram muito altos, de 3 a 4% na época”, explica. O acordo feito com a Sitawi foi pago em apenas dois meses sendo que cerca de 300 artesãos participaram da confecção das bolsas.

Hoje a Sitawi corre contra o tempo para empregar, até o final deste ano, R$ 1 milhão em empréstimos para atender as exigências dos clientes donos dos fundos que gerencia. O banco realiza empréstimos apenas às organizações sociais que operam algum tipo de negócio para se manter. Os demais critérios utilizados pela instituição financeira na aprovação de crédito são: avaliação do impacto social da atividade-fim da organização; a capacidade de repagamento através do fluxo de caixa da operação de negócios; análise da equipe de gestão e, por último, “a fibra ética dos líderes da organização”. “Conhecemos muitas pessoas do setor social, direta ou indiretamente, então podemos avaliar esse ponto com seriedade”, completa Letelier.

Segundo dados do IBGE, existem no Brasil cerca de 400 mil ONGs. Letelier explica que anualmente todas elas recebem perto de R$ 10 bilhões, “isso resulta numa renda média anual de apenas R$ 25 mil para cada uma, o que mostra que as doações em si não são capazes de sustentar o terceiro setor” avalia.

Informações preliminares de um estudo da Sitawi, ainda não publicado, aponta que menos de 50% das organizações sociais no país operam algum negócio para se manter. O trabalho também revelou que a parcela de organizações sócias que alimentam linhas de negócios costuma ser maior em termos de impactos sociais e sustentabilidade financeira, do que aquelas que sobrevivem apenas de doações. Ainda assim, Letelier destaca que tanto o pequeno negócio quanto as doações são importantes para a saúde financeira das organizações sociais.

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador