O debate sobre o atendimento do SUS e a formação dos médicos

Do Jornal da Unicamp

Muito longe do armistício

Pacote do Ministério da Saúde incendeia debate sobre o atendimento prestado pelo SUS, a formação e a carreira dos médicos

Texto: ALESSANDRO SILVA
Edição de Imagens:  Diana Melo

Antes de se aprofundar neste assunto, descubra em que tipo de “mundo” de atendimento médico você vive. No Sistema Único de Saúde (SUS), que recebe 46% do investimento realizado no Brasil e atende 75% dos brasileiros (mais de 142 milhões de pessoas), com uma relação de 1,8 médicos por mil habitantes, portanto abaixo da média nacional. Ou nos planos privados, nos quais estão 54% dos investimentos em saúde no país para o atendimento de 25% da população (mais de 47 milhões de brasileiros), com média de profissionais médicos em torno de 3,4 por mil habitantes. Conhecer essas situações distintas pode ajudá-lo a entender melhor a recente polêmica em torno do Programa Mais Médicos, anunciado pelo Ministério da Saúde, e responder à pergunta principal desta reportagem: faltam ou não médicos no Brasil?

Mas antes de prosseguir, conheça ainda outros três “mundos” que coexistem no Brasil, nesse mesmo contexto: o dos municípios com médicos em número suficiente ou acima da média nacional, o daqueles que não os possuem profissionais em número razoável (menos de um profissional para cada mil habitantes, segundo a Organização Mundial de Saúde, a OMS) e os que, simplesmente, não possuem médicos. De acordo com o Ministério da Saúde, 22 Estados estão abaixo da média nacional de médicos por habitantes (1,8 por mil), sendo que cinco deles não possuem o mínimo recomendado pela OMS. De cada três cidades, uma tem menos de um médico para cada mil habitantes e 700 municípios (12,5%) não têm nenhum médico permanente. Saiba que onde há mais médicos, também existem aparelhos de saúde, como hospitais e unidades básicas; onde eles não estão, de fato, quase não há infraestrutura.

Agora que os cinco diferentes mundos foram apresentados a você, leitor, certamente, fica mais fácil explicar por que existem razões no discurso de todos os lados envolvidos nessa disputa: o seu (esteja você em qualquer um desses “mundos” de saúde), o dos médicos, o do governo federal e o das entidades médicas. Mas também existem equívocos. Dependendo do resultado dessa polêmica, o atendimento de saúde poderá, enfim, mudar e o Sistema Único de Saúde (SUS) dar um importante passo para o futuro. Mas nada disso pode acontecer, também, dependendo da batalha de argumentos, jurídica e política, que começou no dia 8 de julho.

Anunciado ainda no “calor” das recentes manifestações de rua que abalaram o país em junho, o Programa Mais Médicos do governo federal colocou em confronto o Ministério da Saúde, entidades e faculdades de medicina. Quatro pontos formam a base desse pacote, que tem como justificativa central suprir a carência de médicos na rede pública do SUS: contratar cerca de 10 mil médicos temporários para regiões mal atendidas; preencher parte dessas vagas, caso elas não sejam completadas por profissionais brasileiros, por meio da contratação de médicos estrangeiros; ampliar o número de vagas na graduação em medicina (11,4 mil novas vagas até 2017, ou seja, 63% de aumento) e de residência médica (12 mil novas vagas até 2017, o dobro do que há hoje no país); e criar um período adicional de experiência no SUS para os estudantes de medicina, o que ampliará o tempo do curso de medicina de seis para oito anos (“segundo ciclo”), no qual os alunos receberão autorização provisória para o exercício de medicina para atuar em serviços de atenção básica e de urgência e emergência.

O Jornal da Unicamp ouviu médicos professores de universidades públicas, representantes das principais entidades de medicina do país e o próprio Ministério da Saúde sobre o programa recém-lançado, com o objetivo de esclarecer pontos dessa polêmica. Em menos de dez dias, a medida provisória apresentada pelo governo para viabilizar de imediato as contratações, recebeu 567 emendas apresentadas por senadores e deputados no Congresso Nacional. Mais de 11 mil profissionais se inscreveram em busca da proposta de trabalho temporário, cuja bolsa é de R$ 10 mil por mês. A análise realizada, como em uma consulta médica, foi estruturada em três tópicos para facilitar o entendimento: a descrição dos sintomas da “doença” que atinge o serviço público de saúde no Brasil, o diagnóstico realizado por especialistas na área, entidades profissionais e pelo governo, mais o tratamento sugerido para curar o paciente, no caso, a população que precisa de atendimento. Tudo para facilitar a reflexão sobre um problema tão complexo.

Luis Nassif

1 Comentário

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  1. eficiência dos medicos

    As faculdades de medicina,estão formando muito mal os médicos, a maioria tem pouco conhecimento,e não sabem por insuficiência profissional,dar diagnósticos precisos,os mais antigos isso não quer dizer que são todos tão seguindo um caminho estranho sem se atualizar e vivendo do nome que construíram ao longo da carreira ,consulta de 5 min.e que se dane os pacientes.. Não digo que são todos mas em grande maioria se tivesse prova do tipo OAB,teríamos pocos médicos com CRM…PAÍSES COM MUITOS MENOS RECURSOS TEM UMA MEDICINA MELHOR E COM MELHORES MÉDICOS.ISTO TA UMA BAGUNÇA E OGOVERNO TEM QUE TOMAR PROVIDÊNCIAS.

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