Porque conselhos de Assistência Social se manifestam contra o Criança Feliz

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – A jornalista Mônica Bergamo publicou nesta quarta (8), em sua coluna na Folha, uma nota informando que o Conselho Municipal de Assistência Social foi influenciado pelo Coletivo de Servidores Públicos Municipais em Defesa do Suas (Sistema Únido de Assistência Social) quando decidiu não aceitar a entrada do programa Criança Feliz na cidade administrada por João Doria Junior (PSDB).

Segundo Bergamo, dias antes de o Conselho barrar o Criança Feliz, o Coletivo lançou um “manifesto pedindo ao órgão que rejeitasse a adesão ao programa. Segundo a carta, o projeto do governo federal ‘carrega o preconceito de que famílias pobres não sabem cuidar de suas crianças’.”

A posição do conselho municipal sobre o Criança Feliz é a mesma do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS). Em artigo divulgado na terça (7), o CFESS apontou uma série de motivos que colocam em xeque a finalidade do programa que conta com a imagem de Marcela Temer para cativar a opinião pública.

Na visão do Conselho Federal, o Criança Feliz foi mal elaborado quando avaliado tecnicamente, “retoma das tumbas o primeiro-damismo” e, acima disso, tenta estabeceler no serviço social a ideia de que famílias felizes não geram filhos que no futuro irão se envolver com criminalidade ou se curvar ao desemprego.

O artigo destaca que o Criança Feliz está permeado de “conservadorismo e filantropia” e diz que o programa é “exógeno ao SUAS, ao SUS, à educação infantil e  deslocado de todas as demais políticas públicas e  direitos sociais. É um verdadeiro retrocesso! Sua operacionalização está sob a coordenação da assistência social nos entes federados, fora do SUAS –  desrespeitando  a  tipificação  nacional dos serviços socioassistenciais, o pacto federativo e os critérios de instalação dos serviços”, entre outros pontos.

“É um programa que, na essência, prioriza o ‘terceiro setor’, indo na contramão da LOAS e do SUAS, que priorizam a execução direta do Estado nos serviços, programas e projetos.”

Diz o decreto que instituiu o Criança Feliz que o município que aderir ao programa “terá a contrapartida de R$ 50,00 por criança/família e a fonte do financiamento ainda é controvertida, havendo fortes razões para acreditar-se que esteja saindo do orçamento da assistência social, em prejuízo aos serviços cofinanciados  e  programas  do  SUAS  – os quais já acumulavam defasagem historica.”

“Como se não bastasse, o Criança Feliz vai também na contramão do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), quando defende, segundo informação do site MDSA [Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário], que ‘uma criança bem estimula-da no início da vida tem maiores chances de  ter  escolaridade  e  profissão  melhores e de ajudar a família a superar a pobreza’.  Tal  afirmação  desresponsabiliza  o Estado pela oferta de serviços públicos de saúde e de educação com qualidade des-de a primeira infância (como asseguram a Constituição Federal de 1988, o SUS e a LDB) e coloca nas famílias a responsabi-lidade pelo (não) acesso/aproveitamento escolar que implique na superação da po-breza. Mais uma vez, a população pobre é responsabilizada pela sua pobreza e a ela cabe superá-la! Mais uma vez, é imputada às famílias pobres a ignorância e a falta de cuidados dos filhos, mesmo que o Estado não lhes assegure condições para isso! Segundo o Programa, é preciso ensinar às famílias cabe à mulher esse papel.” 

Segundo Mônica Bergamo, mesmo barrado pelo Conselho Municipal, a gestão Doria pretende dar um jeito de implantar o programa de Temer em São Paulo. “A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social diz que espera conseguir reverter a rejeição. Uma alternativa em estudo é fazer a adesão mesmo sem o aval do Comas. Depois da implementação, ele seria submetido novamente à avaliação do conselho.”

A jornalista ainda informou que o Conselho “é formado por nove representantes da sociedade civil e outros nove do poder público” e que a gestão Doria tentou politizar a questão dizendo que “boa parte dos integrantes ainda é ligada à gestão do ex-prefeito Fernando Haddad (PT)”.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

1 Comentário

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  1. é “um” após o outro….

    …” Um festival ”  de tiros  no pé.  Um amador  após  o outro metendo os  pés-pelas mãos  no duro caminho trilhado pela democracia  desde  a  ” redemocratização”.  

    *  Primeiro, o usurpador “ignóbel ”   na  EDUCAÇÃO:  O cara mal sabe  fazer um Ó-com-copo e  já vem vomitando “doutrinas escritas em guardanapo ”  para  desancar Paulo Freire, Darci Ribeiro,  Anisio Teixeira  e  outros  próceres do ramo…  Quem conhecia  a  índole deste forasteiro  era  o  imortal Ariano Suassuna. ( todo pernambucano sabe disso ) !!

    *  Segundo, o espírito de ” raposa tomando conta do galinheiro”  da  SAÚDE.   querendo entregar a  todo o custo, um sistema-campeão criado na Inglaterra , para  os  lobos   e coiotes selvagens yankees !!  

    *  E agora, esta mocinha, que tá mais perdida  que cego-em-tiroteio: não sabe  se é  dona de casa, se é mãe do vampirinho,  ou  se compra  uma  bicicleta !!

    Mas, vai se exigir o quê  afinal de usurpadores, fascistas, golpistas e machistas que, segundo o Passapusso: Não passarão !!

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