Pelo fim do mercúrio na odontologia e no meio ambiente, por Mário Maurici

O mercúrio pode atingir e causar efeitos deletérios nos pulmões, coração, fígado, rins, pele e os fetos em desenvolvimento.

Pelo fim do mercúrio na odontologia e no meio ambiente

por Mário Maurici

Todo brasileiro com mais de 30 anos que restaurou ao menos um dente ao longo da vida seguramente teve ou tem alguma quantidade de mercúrio na boca, pois desde há muito tempo esse é um dos principais componentes do amálgama utilizado para restaurações dentárias.

O que pouca gente sabe é que o mercúrio, existente nos amálgamas dentários, também utilizado nos termômetros, conservantes de vacinas e alguns processos industriais, é um elemento altamente tóxico e nocivo à saúde.

Esse seu aspecto nefasto foi descoberto no Japão nos anos 50, depois de a ciência associar a contaminação de milhares de pessoas e a morte de centenas delas ao mercúrio descartado na baía de Minamata por várias indústrias químicas.

Recentemente ele ocupou as manchetes da mídia nacional e internacional no caso da triste contaminação dos índios Yanomami pelo garimpo ilegal. Sim, o mercúrio é utilizado no garimpo para separação do ouro e contamina rios e toda a vida que nele habita.

O mercúrio é capaz de danificar as células endoteliais microvasculares cerebrais que compõem a importante barreira hematoencefálica. Além do sistema nervoso central, o mercúrio pode atingir e causar efeitos deletérios nos pulmões, coração, fígado, rins, pele e os fetos em desenvolvimento.

Daí a necessidade de banir a utilização, a exploração e a comercialização desse material. E uma maneira de contribuir para isso é proibir sua utilização e substituindo sua aplicação por outros materiais menos tóxicos, inclusive na odontologia.

Há quem diga que o contato dos profissionais da odontologia com o mercúrio se dá numa quantidade muito pequena e que mesmo as pessoas que o carregam em suas bocas não estão expostas a risco. Lamento, mas não é verdade! A própria Anvisa tem uma resolução que admite o uso apenas do mercúrio encapsulado, o que já demonstra a periculosidade da substância.

Os consultórios privados já substituíram o amálgama por resinas e apenas os consultórios públicos seguem utilizando, o que mantém a exposição à contaminação apenas das pessoas mais pobres.

Por fim, vale lembrar que o final desse mercúrio, com todos os cuidados que se possa adotar na sua manipulação, é o meio ambiente. Por isso é fundamental o banimento do uso dessa substância, é preciso que não haja mais mercado para o mercúrio, em nenhuma atividade legal.

Por isso apresentei o Projeto de Lei 1475/2023, para disciplinar a utilização de amálgamas de mercúrio em procedimentos odontológicos.

Seu objetivo é vedar o uso do amálgama de mercúrio imediatamente em todo território do estado de São Paulo, devendo ser banido para toda a população em três anos.

Para discutir esse tema e levar mais informações às pessoas, no dia 23 de novembro de 2023, a partir 18h, ocorreu na Assembleia Legislativa de São Paulo o Seminário “Convenção de Minamata: Por uma Odontologia Livre de Mercúrio” em que esses e outros assuntos foram abordados por especialistas e discutidos com o público presente.

Por fim, é importante salientar que o “Brasil Sorridente”, considerado o maior programa de saúde bucal do mundo, implementado pelo governo Lula, terá R$ 3,8 bilhões de investimentos em 2024. Portanto é preciso garantir de que esses recursos empregados na saúde bucal não se revertam em nenhuma gota a mais de mercúrio nos serviços odontológicos públicos.

Mário Maurici é deputado estadual pelo PT. É jornalista e professor de História. Foi prefeito de Franco da Rocha (SP), presidente da CEAGESP e vice-presidente da EBC.

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Redação

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