Debatendo a política de segurança do Rio

Prezado Gustavo Barreto

Reconheço mérito em sua multifacetada análise do problema da violência no Rio de Janeiro, a política de segurança do governo e seus desdobramentos. Sinto falta, porém, da apresentação de caminhos e propostas alternativas para colocar em prática diante desse grave quadro. Como encarar a situação de total insegurança da população do Estado, principalmente a das a comunidades condenadas ao jugo do tráfico e, como aponta o Marcelo Freixo, das milícias? Qual estratégia você propõe para, o combate a essa situação insustentável. Em minha opinião, apesar dos pontos que você levantou, o governo está desenvolvendo algo concreto, que já apresenta resultados reais e visíveis. Posso testemunhar e constatar isso, pelo que observo em meu próprio bairo, Botafogo, junto à comunidade do Morro de Santa Marta com a qual tenho contato. É inegável o fato de que estamos em uma guerra. E não é de hoje. Gostaria que você nos apresentasse um caminho alternativo para discussão. 

Por Gustavo Barreto

Prezado Augusto, recebendo o comentário, continuo a conversa.

As alternativas foram colocadas amplamente e estão em parte sendo efetivadas. Mas há problemas graves. Por pontos:

1. O objetivo de pacificar o Santa Marta é claríssimo: a violência evidente que existia na região e a proximidade com áreas turísticas fez com que o Governo do Estado visse o morro como estratégico para convencer autoridades internacionais de que o Rio de Janeiro era capaz de sediar grandes eventos. Isso não é dito por mim, e sim pelo próprio Secretário, que declarou que o Santa Marta foi o morro-padrão mostrado para membros do COI, por exemplo.

2. O modelo das UPPs, como falei, é um modelo de polícia comunitária, que o Governo do Estado tem toda a capacidade de estudar, para tentar integrá-lo ao conjunto de ações. É disso que se trata: a polícia deve ser comunitária, e não existir uma “polícia comunitária” versus a polícia-polícia.

3. A polícia comunitária possui três características básicas: (I) A aproximação com a sociedade; (II) A valorização do policial (salário, preparação, atendimento de reivindicações de classe); e (III) Controle social. No primeiro tópico, o avanço é mínimo, restrito às 13 UPPs (e mesmo assim há críticas em algumas delas pelo baixo grau de participação). No segundo, nem se fala: salárias baixíssimos, estruturas de trabalho ruins (como foi exposto no artigo) e treinamento insuficiente para a maior parte das tropas (nesse caso seria necessário ouvir líderes trabalhistas da classe, o que é raro, perceba). No terceiro item, estamos falando da Ouvidoria da PM, cuja qualidade é sofrível (vide reclamações das vítimas da violência policial sobre instalação dos IPMs).

4. Por último, por ser o mais importante: a favela é um problema social. A falta de estrutura na educação e na saúde dentro da favela, unido ao desrespeito aos pisos salariais destes profisssionais, acaba por reforçar o papel dos criminosos, que entram na ausência do Estado.

De modo que, pelo que foi exposto aqui, não creio em melhorias substanciais, a não ser que estas questões comecem a ser exigidas pela população e contempladas seriamente pelo Estado.

Um forte abraço,

Gustavo Barreto

Luis Nassif

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