Déficit da Previdência ‘não existe’, defende Paim

Segundo presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) desequilíbrio é fruto de sonegação, desvios e má gestão e, ainda, Temer estuda trocar dívidas de Estados pelo apoio na Reforma  
 
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(Foto Reprodução) 
 
Jornal GGN – O senador Paulo Paim (PT-RS), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou as contas da Previdência Social brasileira, afirma que o sistema INSS não precisa de uma reforma para equalizar o suposto déficit da Previdência, divulgado pelo governo do presidente Michel Temer como principal fator do endividamento público da União.
 
Em entrevista para o Portal da CUT, o parlamentar foi taxativo: “O alegado déficit não existe. O que existe é a conivência por parte do governo com os grandes devedores da Previdência. Um claro exemplo é que o governo tem R$ 500 bilhões para cobrar dos grandes devedores e não cobra”, explica.
 
Os devedores em questão são instituições financeiras como Bradesco e Itaú, mas abrange outros setores da economia. “E o que eles dizem: devo, não nego, não pago, estou esperando o perdão via Refis ou que o governo perdoe a dívida”.
 
Segundo Paim, só a JBS angariou lucro de R$ 1 bilhão com o conhecido programa de refinanciamento de dívidas de contribuintes que, muitas vezes, vem acompanhado de corte de multas e juros.
 
“O relatório da CPI mostrou que só de apropriação indébita, que é o que os empresários recolhem do trabalhador e não repassam à Previdência, dá R$ 1,5 trilhão.” 
 
Paim completou que, se as instituições privadas que devem ao Estado tivessem pago regularmente, o superávit da Previdência nos últimos 15 anos chegaria a R$ 821 bilhões. “Se atualizar isso pela taxa Selic, daria R$ 2 trilhões”.
 
“Ouvimos técnicos, juízes, promotores, procuradores, pessoal da Receita, da Previdência, especialistas na área e tantos outros, deixando muito claro para nós que o maior problema da Previdência é de gestão, má administração, anistias, sonegação, desvios de recursos e a roubalheira que é permitida que eles façam”, completou sobre os trabalhos da CPI.
 
Na entrevista, Paim trouxe ainda a denúncia de que os governadores articulam junto com Temer transferir a dívida que têm com os servidores estaduais em relação à Previdência para a União. Em troca, o governo pede apoio para a reforma da Previdência.
 
“Como é que um governo que diz que a Previdência está falida vai abrir mão de, no mínimo, R$ 500 bilhões e ainda vai assumir mais uma dívida, que seria pagar os servidores dos estados, que é uma responsabilidade de cada estado. Se dizem que a Previdência está quebrada e falida, como é que aceitam uma conta dessa, não faz sentido.”
 
Leia a seguir a entrevista na íntegra:
 
CUT
 
Temer negocia trocar dívidas dos estados por apoio à reforma
 
Em entrevista ao Portal da CUT, senador e presidente da CPI da Previdência, Paulo Paim (PT-SP), critica ofensiva do governo para aprovar fim da aposentadoria
 
Escrito por: Tatiana Melim e André Accarini 
 
A nova investida do governo ilegítimo e golpista de Michel Temer (MDB-SP) para conseguir os votos necessários para aprovar a reforma da Previdência é discutir um pacote para salvar o sistema previdenciário dos estados, municípios e Distrito Federal em  troca do apoio dos governadores à reforma.
 
Para entender o que está por trás do desespero do governo em aprovar o fim da aposentadoria de milhões de brasileiros e brasileiras, o Portal da CUT conversou com o senador Paulo Paim (PT-RS), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou as contas da Previdência Social brasileira.
 
Na entrevista, o senador explicou a negociação que tem sido feita com os governadores. “Eles levaram uma proposta para o governo dizendo que querem passar a dívida que têm com os servidores para a União”.
 
“Isso é um absurdo!”, contesta o senador. Segundo ele, não faz o menor sentido o governo dizer que a Previdência está falida e abrir mão de, no mínimo, R$ 500 bilhões dos cofres públicos e ainda assumir mais uma dívida, que seria pagar os servidores dos estados.
 
Confira a íntegra da entrevista, onde o senador e presidente da CPI da Previdência, Paulo Paim, fala sobre o suposto déficit da Previdência e explica que a CPI concluiu que o problema da Previdência é de gestão, má administração, anistias, sonegação, desvios e roubalheira.
 
Temer está dizendo que se não fizer a reforma da Previdência não conseguirá pagar a aposentadoria dos aposentados. De acordo com os resultados da CPI, existe, de fato, o déficit que ele anuncia?
 
O alegado déficit não existe. O que existe é a conivência por parte do governo com os grandes devedores da Previdência. Um claro exemplo é que o governo tem R$ 500 bilhões para cobrar dos grandes devedores e não cobra. Estamos falando de Bradesco, Itaú, esse time todo, que vem os banqueiros primeiro, mas que abrange também os outros setores. E o que eles dizem: devo, não nego, não pago, estou esperando o perdão via Refis ou que o governo perdoe a dívida.
 
Só a JBS, entre os Refis que ela participou, teve um lucro de mais de R$ 1 bilhão. O relatório da CPI mostrou que só de apropriação indébita, que é o que os empresários recolhem do trabalhador e não repassam à Previdência, dá R$ 1,5 trilhão. A CPI constatou que, se pegar os últimos 15 anos, o superávit da Previdência chega a R$ 821 bilhões. Se atualizar isso pela taxa Selic, daria R$ 2 trilhões.
 
Ouvimos técnicos, juízes, promotores, procuradores, pessoal da Receita, da Previdência, especialistas na área e tantos outros, deixando muito claro para nós que o maior problema da Previdência é de gestão, má administração, anistias, sonegação, desvios de recursos e a roubalheira que é permitida que eles façam.
 
Esse seria o motivo do alegado déficit do governo?
 
Da Constituição para cá, foi pactuado que a contribuição sobre lucro e faturamento, PIS, Pasep, jogos lotéricos, tributação de empregado e empregador, teria uma parte destinada para a Previdência. Infelizmente, ao longo desse período, isso não foi feito como deveria. Mas, o mais grave é que o governo não dá estrutura para que a Receita Federal cobre os grandes devedores. E isso quem diz é a própria Receita Federal.
 
Se tivesse a estrutura necessária, eles teriam condição de arrecadar, no mínimo, R$ 1 trilhão. E o Temer diz que com a tal reforma dele vai arrecadar por volta de R$ 200 bilhões, não dá para saber o número exato, pois eles mudam o número toda hora.
 
Se nós combatêssemos tudo isso e fizéssemos uma ‘revolução’ na administração da Previdência, teríamos superávit por décadas e décadas.
 
Isso o governo não diz em suas propagandas. Afirma apenas que vai quebrar amanhã e que não pagará mais os benefícios.
 
Para se ter uma ideia, os governadores trouxeram uma proposta para o governo dizendo que querem passar a dívida que têm com os servidores em relação à Previdência para a União. E o governo, na maior cara de pau, diz que aceita discutir a proposta desde que eles apoiem a reforma. Isso é um absurdo!
 
Como é que um governo que diz que a Previdência está falida vai abrir mão de, no mínimo, R$ 500 bilhões e ainda vai assumir mais uma dívida, que seria pagar os servidores dos estados, que é uma responsabilidade de cada estado. Se dizem que a Previdência está quebrada e falida, como é que aceitam uma conta dessa, não faz sentido.
 
E quais seriam os caminhos?
 
Os caminhos para resolver o problema da Previdência são: cobrar os grandes devedores; fortalecer os órgãos de controle e combate à sonegação; combater a fraude; fazer uma auditoria da dívida; acabar com a lei que diz que depois de cinco anos as dívidas serão perdoadas; acabar com os Refis; e acabar com a (DRU) Desvinculação das Receitas da União. A reforma tem de ser de gestão.
 
Se fizer isso, está resolvido o problema da Previdência. Não precisa nem olhar para trás. Se fizer a partir de hoje o que a CPI recomenda, a Previdência não terá problema de caixa pelos próximos 50/60 anos e nem precisará dessa reforma.
 
O que é mais grave nesse país é a sonegação.
 
O dinheiro da Seguridade Social, leia-se o dinheiro da Previdência, da Saúde e da Assistência Social, não pode ser em hipótese nenhuma destinado para outros fins. Não pagou, tem de executar. Se fizer isso, está resolvido o problema da Previdência.
 
Essa reforma então não é necessária?
 
Não. Não resolve nada, só vai piorar. Na verdade, os grandes empresários é que usam o dinheiro da Previdência. Eles usam o dinheiro e o governo perdoa. É praticamente um pacto entre os 5% mais rico e o governo.
 
Com a reforma Trabalhista, que aprovou aquelas loucuras de contrato autônomo exclusivo, trabalho intermitente, vai cair a receita da Previdência. Já estamos vendo nos dados que os empregos gerados são autônomos, os contratos intermitentes, todos que não contribuem. E isso irá impactar na receita da Previdência, que começará a diminuir. Então se eles não cortarem a DRU, que retirou R$ 1,5 trilhão, se não cortarem os Refis, e se não executarem os grandes devedores, aí não adianta nem mesmo fazer reforma.
 
E aonde o governo quer chegar com essa reforma, qual é a verdadeira intenção?
 
A intenção do governo, no fundo, é privatizar a Previdência e entregar para o sistema financeiro. Não tenho qualquer dúvida quanto a isso. Quando eles deram o golpe, comprometeram duas questões fundamentais, que foi entregar para o empresariado a reforma Trabalhista – e entregaram de uma forma incrível, revogando tudo o que era bom para o trabalhador – e a outra é entregar a Previdência.
 
Eles vão faturar trilhões em cima da Previdência porque a partir do momento que as pessoas perceberem que de fato a Previdência vai falir, porque eles vão trabalhar para isso, como já começaram a fazer com a reforma Trabalhista e com o perdão das dívidas, quem vai ganhar com isso é o sistema financeiro. As pessoas vão começar a recorrer ao plano de aposentadoria privado.
 
E um exemplo claro disso é que os fundos de pensão privados mais do que triplicaram desde que começou o debate em torno da reforma da Previdência. As pessoas perceberam que teriam de chegar aos 100 anos para conseguir se aposentar.
 
Imagina o cidadão que estudou, fez uns bicos, trabalhou com a família, mas conseguiu emprego com carteira assinada somente aos 30 anos, vai se aposentar aos 94 anos. Mesmo quem assinou a carteira com 20 anos, vai se aposentar com 84 anos e isso se não ficar desempregado até lá.
 
Ninguém consegue alcançar os 40 anos de contribuição, isso é muito difícil. Ninguém consegue isso, contribuir de forma ininterrupta todos os meses. Quando se percebe isso, as pessoas começam a querer sair do sistema e isso fortalece os fundos de pensão e previdência privados.
 
Apesar de o governo ainda não ter os votos necessários, Rodrigo Maia (DEM-RJ) diz que está mantida na pauta a votação da reforma da Previdência no final de fevereiro. Como você vê isso e como está o cenário no Senado?
 
Primeiro que a gente sente que eles não têm os 308 votos. O aumento da pressão popular, até mesmo utilizando aquela frase “Se voltar, não volta”, ressaltando que não voltarão se votarem a favor da reforma, deixou eles apavorados. Percebemos isso a cada dia que passa. Todos os cálculos mostram que faltam em torno de 50 a 60 votos. Como eles estão apertando e comprando, é muito voto ainda que eles precisam.
 
Mas, digamos que, mesmo assim, a reforma passe na Câmara. Nós vamos obstruir tudo o que pudermos no Senado para votar o mais próximo possível das eleições. Se conseguirmos empurrar, o desgaste deles será muito grande. E senador você sabe como é, se acha uma instituição, então são loucos para se reelegerem e ficar mais oito anos. Os deputados e senadores querem se reeleger e sabem do risco de votar essa reforma. A pressão popular continua sendo fundamental.
 
 
Redação

5 Comentários

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  1. Esse senador age

    Esse senador age criminosamente ao faltar com a verdade em assunto tão importante, apenas para ganhar votos dos mal informados. Como assim “…conivência com os grandes devedores da Previdência…”? Ele que explique melhor, para que a alegada conivência (que afinal é crime) seja punida. A verdade, queiramos ou não, é que nossa Previdência, como está hoje, é absolutame inviável e caminhamos a passos largos para o não pagamento das aposentadorias. E depois o senador mentiroso não terá a quem se queixar…

  2. Ao Senhor Caetano

    é que não irá se queixar mesmo .Ele é um dos senadores mais respeitado por todos, presidiu uma CPI para investigar o rombo, e vem um Caetano qualquer dizer que ele mente.! É igual ao juiz que imagina ser o Lula do mesmo naipe dos seus amigos Tucanos . Não gosto de maltratar ninguém , mas vá se catar meu senhor, ou meu “muleque de recados” .

    1. Prezada sra. Lenita, apesar

      Prezada sra. Lenita, apesar de sua falta de respeito, responderei educadamente. O déficit previdenciário está demonstrado pelo próprio IPEA e Ministério do Planejamento, então não há nada de ideológico por trás. Por isso digo que ele mente. Mente, ou engana, por inventar que o déficit é causado por dívidas não cobradas (veja aí a incongruência: então existe o déficit!). A maior parte das dívidas com a Previdência é de empresas falidas, portanto nunca serão pagas. Outra parte, como a que ele cita, bancos por exemplo, estão sendo questionadas na Justiça, ou seja, ainda não são dívidas comprovadas. O Estado está em busca desses valores, obviamente, através da mesma Justiça. Acontece também que, mesmo que todas essas dívidas fossem recebidas de uma vez, mal dariam para cobrir o rombo por dois ou três anos, e o problema continuaria. Logo, vê-se que não é por aí que se resolve o caso.

      O respeito que você diz que ele tem é por ele ser combativo, reconheço, porém com o demérito de não ter os pés no chão, ou seja, lutar por causas inviáveis, o que lhe confere fama e votos, por pura demagogia. Mas meu comentário não visa atacá-lo pessoalmente, e sim seus argumentos, que são ridículos.

  3. Simplificando
    Se a sonegação e a má gestão são os maiores geradores do déficit da previdência, então não são os únicos. O Senador deveria ir mais fundo em sua investigação.

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