no De Olho Nos Ruralistas
Guarani de 28 anos é morto a pauladas e pedradas no Paraná
Por Priscilla Arroyo
A polícia encontrou o corpo cerca de três horas depois, a quinhentos metros do bar, no meio de uma plantação de soja, com marcas de pedradas e pauladas. “Por volta das 20 horas, avistamos viaturas e uma ambulância passar em direção à plantação de soja”, conta Ilson Gonçalves, cacique da Tekoha Y Hovy, aldeia mais próxima do local onde aconteceu o crime. “Não imaginamos que se tratava de um assassinato de um dos nossos”.
Gonçalves ficou sabendo do assassinato na sexta (15) pela manhã, quando a polícia o procurou para pedir ajuda na identificação da vítima. “Mandamos a foto do corpo de Demilson para todos os parentes que tínhamos contato até que, por volta de meio dia, conseguimos identificar”. Ele considera estranho a polícia ter encontrado o corpo muito rápido. Mendes foi morto no fim da tarde e, por volta das 20 horas, já tinha sido localizado. “Podemos entender que alguém chamou a ambulância e a polícia, uma vez que o local do delito não foi na rua, à vista de todos”, avalia. “Ou seja, há testemunhas, embora ninguém tenha dito o que viu”.
De acordo com um indígena que prefere não se identificar, Mendes fora acusado por um branco de ter roubado a sua bicicleta, e por isso tinha sido ameaçado de morte. “No entanto, ele tinha um problema físico, só conseguia andar de muletas ou com a sua própria bicicleta adaptada”, afirma. “Acho difícil que tenha cometido algum roubo”.
Na opinião de Ortiz, não havia motivo aparente para alguém querer fazer mal à vítima. “Era um rapaz tranquilo, que pouco falava, não tinha namorada e nem filhos”, diz. O corpo foi encaminhado no domingo para o Instituto Médico Legal (IML) de Toledo e liberado no mesmo dia para o enterro na aldeia Tekoha Jevi. A família fez um boletim de ocorrência e o caso está sendo investigado. Por enquanto, não há suspeitos.
FAZENDEIRO AMEAÇA PARENTES DA VÍTIMA
Um grupo de indígenas da aldeia Tekoha Y Hovy promoveu uma ocupação no lugar da morte de Mendes. Eles improvisaram uma barraca e colocaram faixas para marcar o lugar do crime e manifestar o desejo de que a justiça seja feita — ou seja, que o assassino seja apontado e punido.
No entanto, houve uma violenta retaliação. Na manhã desta segunda-feira, quando Gilberto Kunomi Reko e seu tio, Wilfrido Benitez Espindola, se aproximaram do local para manter a ocupação, avistaram fumaça. O fazendeiro que arrendou aquela plantação tinha colocado fogo nas faixas e no barraco.
Quando os dois se aproximaram do local, foram recebidos com ameaças. O latifundiário apontou uma pistola para a cabeça de Reko e disse que não tinha ocorrido crime nenhum naquele local, e que se eles insistissem em colocar outra faixa, seriam mortos. O fato foi registrado em um boletim de ocorrência.
INDÍGENAS EVITAM SAIR SOZINHOS À NOITE
O município de Guaíra tem 37 mil habitantes; 2 mil são indígenas da etnia Avá-Guarani. O fato de não terem as terras oficialmente demarcadas os coloca em constante alerta. Eles vivem em catorze aldeias nas margens do Rio Paraná, sem acesso à água potável e à educação. Estão, literalmente, cercados por fazendas de monocultura de soja e milho.
Para ter acesso às políticas públicas, os Guarani precisam ter a posse oficial das terras. O processo de demarcação foi iniciado em 2009 pela Fundação Nacional do Índio (Funai), mas está suspenso. Diante do cenário, os indígenas são hostilizados e recebem constantes ameaças de capangas dos latifundiários da região. “Toda semana somos coagidos de alguma maneira”, afirma Ortiz. “Eles querem nos expulsar daqui”.
Os indígenas não entendem o que motivou Mendes a sair de casa ao entardecer. O cacique da Tekoha Y Hovy, Gonçalves, conta que sofreu um atentado há três semanas:
— Um carro passou e disparou dezenas de tiros em direção à minha casa. Sofremos preconceito e violência constantemente. Por isso, os guarani evitam sair sozinhos à noite.
Não raro, as investidas se traduzem em danos físicos. Em novembro do ano passado, o indígena Ava-Guarani Donecildo Agueiro, de 21 anos, morador da aldeia Tekoha Tatury, sofreu um atentado a tiros quando deixava reunião com a Coordenação Técnica Regional da Funai. O encontro tratava de processos de licenciamento de duas linhas de transmissão que passam em Guaíra. Como consequência do atentado, Agueiro ficou tetraplégico.
“Não podemos chamar o que acontece em Guaíra de conflitos”, afirma Clovis Brighenti, professor de história da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) que acompanha de perto a situação dos indígenas. “Os Guarani estão sendo massacrados pela ação dos fazendeiros”.
As ofensas não se originam somente dos latifundiários. Parte da população também trata os indígenas com antipatia, pois a desinformação em relação ao processo de demarcação faz alguns moradores acreditarem que podem perder suas casas quando o território ancestral for reconhecido.
“Nesse contexto, somente o fato de ser guarani é motivo suficiente para estar vulnerável a violência verbal ou física”, analisa Brighenti. “O conflito fundiário é o pano de fundo para o exercício de racismo e xenofobia”.
Até a condição indígena dos Avá-Guarani é questionada, como relata Brighenti: “Parte da cidade nutre a crença de que eles são paraguaios e invadiram. O que não faz sentido. Seus ancestrais viveram ali. A cidade se chama Guaíra, nome de um antigo cacique Guarani”.
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Enquanto o novo Procurador Geral da República dorme em berço esplêndido apreciando as iguarias e os salamaleques oriundos do cargo, a pedagogia do assassinato de Jair Bolsonaro segue fazendo vítimas fatais. Ambos serão responsáveis pelos massacres que estão sendo planejados. https://jornalggn.com.br/violencia/a-pedagogia-bolsonariana-do-assassinato/
O articulista não sabe o nome do fazendeiro que ameaçou parentes da vítima ou teme retaliações?
Pois é. Prestam continências no Havan. Matam um aqui , outro ali. Retiram direitos sociais.
Chile e Bolívia estão resistindo.
Cedo ou tarde, a revolta acontece, as broncas estão se acumulando.
O povo indigena, verdadeiros nativos, sofrendo tanta crueldade dessa gente que se diz pela familia, patria e deus. São uns bandidos falando em nome de instituições que não representam. Na Bolivia mais massacres. Essa terra que nunca muda!
O que acontece é que o massacre de indígenas brasileiros, bolivianos, etc., são regidos pelos demônios oriundos dos Estados Unidos da América, que massacrou até seus próprios índios. Tudo em nome de Deus. E a nossa política de segurança pública visa exclusivamente o extermínio da classe pobre e a escravatura da classe trabalhadora.