Guaranis protestam na prefeitura de São Paulo contra precarização da saúde

"O juruá (homem branco) não entende a nossa dor, não respeita nosso lamento. O prefeito de São Paulo nos deu as costas sem nenhum parecer para nossa comunidade, por isso, estamos dispostos a derramar nosso sangue aqui para que essa morte não chegue à nossa aldeia."

Foto Carta Capital

Jornal GGN – Os guaranis da protestaram contra a situação precária do posto de saúde da região do Jaraguá. Fizeram manifestação na Prefeitura de São Paulo, que municipalizou a saúde e desassistiu os indígenas. A situação é tensa, pois os policiais militares chegaram e não foram pouco truculentos. No final da tarde desta sexta-feira, depois de uma noite acampados na frente do prédio, seis representantes conseguiram entrar na prefeitura e agendar reunião com o prefeito Bruno Covas para a semana que vem. Por enquanto, foi garantida a manutenção do posto de saúde para atendimento da população indígena. Leia o manifesto a seguir.

MANIFESTO GUARANI 

SAÚDE INDÍGENA

Nós Guarani da T.I. Jaraguá, estamos na Prefeitura do Município de São Paulo, desde o dia de ontem, 27 de março, em defesa da saúde indígena.

Viemos exigir que o prefeito nos receba e dialogue com as nossas lideranças, caciques, líderes espirituais, mulheres e crianças que vieram da comunidade. Estamos em aproximadamente 300 indígenas, entre estes 300 indígenas, 45 guerreiros e guerreiras dispostos a defender a comunidade.

Ontem o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, disse que nos atenderia e não nos atendeu, passamos a noite aqui entre crianças, mulheres grávidas e idosos, no frio, ao relento, pois o prefeito estabeleceu um prazo de nos atender até 3ª. feira da semana que vem.

Sabemos que o prefeito poderia ter nos atendido e conversado para que pudéssemos voltar para nossa aldeia, e contrário a isso adotou uma postura de total desrespeito com nosso povo, assim fomos destratados. Portanto, nós, guerreiros e guerreiras da T.I. Jaraguá, estamos aqui baixando as bandeiras hasteadas na Prefeitura de São Paulo, a meio mastro, simbolizando o luto da nossa vinda até aqui.

O juruá (homem branco) não entende a nossa dor, não respeita nosso lamento. O prefeito de São Paulo nos deu as costas sem nenhum parecer para nossa comunidade, por isso, estamos dispostos a derramar nosso sangue aqui para que essa morte não chegue à nossa aldeia.

Todos os guerreiros e guerreiras estão dispostos a entregar a própria vida pelo bem da saúde da comunidade. Nós Guarani, da T.I. Jaraguá, iremos enfrentar o que for preciso em defesa da nossa comunidade.

Chega de genocídio indígena, chega de morte das nossas crianças na T.I. Jaraguá, basta de opressão por parte do juruá. Até o último guerreiro iremos resistir. Estamos dispostos a entregar nossas vidas e assim faremos, porque não existe honra àquele que é covarde, que é mentiroso, que oprime, que é autoritário e despreza o mais fraco.

O prefeito, na condição de pai da cidade de São Paulo, deveria respeitar o povo Guarani, o último remanescente dessa cidade, como povo originário, mas nos está dando as costas.

Estamos aqui e não voltaremos para nossa comunidade sem o nosso direito reconquistado, exigimos esta audiência e vamos enfrentar qualquer investida da Prefeitura de São Paulo que, como fez ontem, deu ordem de ataque, contra nossas guerreiras e nossos guerreiros, fomos atacados com tiro de bala de borracha, spray de pimenta e cassetetes, atitudes altamente truculentas, mesmo assim resistimos e permanecemos aqui.

Hoje, estamos dispostos a derramar o nosso sangue, vai haver um banho de sangue em São Paulo e o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, será o responsável por todos os Guarani que estão dispostos a deixar suas vidas aqui. Será um marco de uma luta histórica e não sairemos enquanto não tivermos uma resolução positiva em relação a saúde indígena.

Aguyjevete a todo povo de luta, o povo Guarani em luto está em luta e nós resistiremos, ha’evete!

Redação

1 Comentário

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  1. É sabido e histórico que a Cidade de São Paulo foi construída sobre a Sagrada Terra Indígena. Onde está WWF? Onde está GreenPeace? Onde está Marina Silva? Onde estão todos Ambientalistas e Ong’s? Precisamos devolver as terras aos seus legítimos dondos. Eles já estavam aqui, quando chegamos. Onde estão os Estudos Antropológicos? Ou existem Índios e Índios?

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