Brasil “ano domini”, derrubem as universidades públicas e construam madrassas evangélicas, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Brasil “ano domini”, derrubem as universidades públicas e construam madrassas evangélicas

por Fábio de Oliveira Ribeiro

O suicídio do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, provocado pela abusiva, humilhante e espetacularizada prisão a que ele foi submetido por ordem da Justiça Federal, não foi suficiente para frear a onda de obscurantismo que assola o país. Esta semana presenciamos novos ataques policialescos às universidades públicas brasileiras. Causa mais espanto, contudo, o apoio da grande imprensa à barbárie e o silêncio obsequioso das principais lideranças políticas na Câmara dos Deputados e no Senado.

As lideranças evangélicas, porém, não estão nem caladas, nem inertes. As Igrejas Evangélicas já controlam jornais, rádios e redes de TV, mas elas não conseguiram controlar as universidades. Em razão disso, os pastores e bispos que se infiltraram nas instituições brasileiras lutam incessantemente para demolir e privatizar as universidades públicas que eles consideram inimigas de seu projeto de impor uma teocracia pró-gringa ao Brasil. Eles apoiaram a invasão da UFSC e da UFMG e não deixarão de aplaudir operações semelhantes nas outras universidades.

É quase impossível prever o futuro. Sempre que tentamos fazer isso nos sujeitamos a cometer os equívocos mencionados por Hannah Arendt:   

“A falha lógica nessas construções hipotéticas dos eventos futuros é sempre a mesma: aquilo que antes aparece como uma simples hipótese – com ou sem as suas consequentes alternativas, conforme o grau de sofisticação – torna-se imediatamente, em geral após alguns poucos parágrafos, um ‘fato’, o qual, então, origina toda uma corrente de não-fatos similares, daí resultando que o caráter puramente especulativo de toda empreitada é esquecido. Não é preciso dizer que isso não é ciência, mas pseudociência, ‘a desesperada tentativa das ciências sociais e comportamentais’, nas palavras de Noam Chomsky, ‘de imitar as características superficiais das ciências que realmente têm um conteúdo intelectual significativo. E a mais óbvia e ‘mais profunda objeção a esse tipo de teoria estratégica não é sua utilidade limitada, mas o seu perigo, pois ela pode nos levar a acreditar que temos um entendimento a respeito desses eventos e um controle sobre seu fluxo, o que não temos’, como indicou recentemente Richard N. Goodwin em um artigo de revista que tinha a rara virtude de detectar o característico ‘humor inconsciente’ de muitas dessas pomposas teorias pseudocientíficas.” (“Sobre a violência”, Civilização Brasileira, 2009)

O fluxo dos acontecimentos nunca segue um caminho pré-determinado, nem respeita os planos que foram cuidadosamente realizados por burocratas, tecnocratas, políticos, militares e religiosos. Fatos imprevistos e incontroláveis ocorrem interrompendo dinâmicas econômicas ou criando novas tendências sociais e culturais. Isto pode ser visto na história recente do Brasil.

A ditadura militar foi interrompida pela crise do petróleo que substituiu o milagre econômico do início dos anos 1970 pelo endividamento do país na segunda metade daquela década. O sucesso inicial do neoliberalismo comandado por FHC não resultou em 20 anos de poder do PSDB como imaginaram as lideranças tucanas. Um surto de fome no nordeste e o vergonhoso crescimento da mortalidade infantil por causa da inação de FHC impulsionaram a chegada do PT ao poder. A queda de Dilma Rousseff interrompeu o ciclo de inclusão social que tinha tudo para transformar o Brasil numa potência mundial. O sucesso do golpe de 2016 se transformou no fracasso do novo projeto de poder, pois a economia piorou e o usurpador não está em condições de se reeleger ou de fazer um sucessor.

No vácuo de poder deixado pela queda de Dilma Rousseff, pelo esgotamento do projeto neoliberal tucano e pela incapacidade da quadrilha do PMDB continuar comandando o Brasil após as eleições presidenciais, duas grandes tendências parecem estar se formando. Uma delas é a rebeldia eleitoral da população brasileira,  esperança alimentada pelos lulistas que acreditam que Lula é ou pode ser maior do que todos os partidos políticos. A outra seria um desesperado golpe militar que poderia lançar o Brasil no caos por que não obteria o consenso necessário para se impor sem derramamento de sangue.

Entre estas duas tendências, operam as lideranças evangélicas que querem construir uma teocracia mediante a destruição das universidades públicas brasileiras de uma maneira ou de outra. Infiltradas nas instituições policiais, judiciárias e parlamentares, sempre que podem elas praticam atos que provocam a destruição do conteúdo laico do Estado. Nas ruas, nas rádios, nas redes de TV e nos seus templos, pastores fanáticos e bispos espertalhões atacam ferozmente a tolerância religiosa e ajudam a disseminar uma onda de ódio contra negros, índios, sem terras, petistas, feministas e membros das outras religiões.

Os pastores sabem que não podem controlar os conteúdos curriculares das universidades públicas. Também sabem que a livre difusão de teorias científicas, que eles consideram heréticas porque contradizem os dogmas religiosos que eles manipulam para garantir o próprio sustento, funciona como um freio a construção de uma teocracia. Além disso, domesticar as consciências de jovens instruídos é muito mais difícil do que usar ameaças de condenação eterna para amedrontar crianças e adultos ignorantes a fim de extorquir o dízimo e criar currais eleitorais.

Qual será o futuro do Brasil se os evangélicos conseguirem se impor? Esta é uma pergunta impertinente, pois aqueles que vivem um mito não acreditam que possa existir passado, presente e futuro. Todavia, para todos os demais (aqueles que rejeitarem o mito dominante que se expande no tempo e no espaço) não há futuro. Os que não forem perseguidos e enjaulados serão simplesmente exterminados.

O regime laico de Gamal Abdel Nasser modernizou o Egito realizando obras de infra-estrutura e construindo universidades públicas. Após sua queda, houve um período de turbulência que os religiosos islâmicos aproveitaram para construir madrassas. Algumas décadas depois, a difusão da ciência deu lugar ao estudo do Corão e o resultado foi desanimador. O fundamentalismo islâmico se tornou uma força política capaz de desestabilizar permanentemente aquele país. O mesmo fenômeno ocorrerá no Brasil quando as universidades públicas forem substituídas pelas madrassas evangélicas.

O crescimento da violência dos evangélicos contra os templos e imagens das outras religiões é apenas o sintoma mais visível e grotesco de um mal semelhante ao que ocorreu no Oriente Médio. A violência institucional programática contra as universidades públicas é algo maior e tem um potencial destrutivo muito maior.

A fonte é provavelmente a mesma. É fato notório que a CIA usou a religião islâmica como uma força de ataque aos regimes laicos que nacionalizaram o petróleo no Oriente Médio. O mesmo parece estar sendo feito no Brasil. Os indícios mais recentes disso podem ser vistos nos jornais.

Os norte-americanos cobiçam nosso petróleo, os evangélicos apoiam a modificação da Lei para atender os interesses deles e impedir que a riqueza do petróleo seja utilizada na saúde e na educação dos brasileiros. Num dia Trump decide levar a Embaixada dos EUA para Jerusalém, reconhecendo aquela cidade como capital de Israel. No outro as lideranças evangélicas brasileiras exigem que o Brasil faça o mesmo com sua embaixada. O alinhamento automático entre os líderes evangélicos brasileiros e os EUA é evidente e preocupante. Mas no exato momento em que ousarem virarem as costas para os gringos, os evangélicos serão tratados como se fossem terroristas islâmicos.

Não, meus caros. O Brasil não merece se submeter à bestialidade daqueles que defendem a escola sem partido. Tampouco deve aceitar sua transformação num país semelhante ao Egito acelerando a destruição de suas universidades públicas. O que nosso país desesperadamente precisa é de religião sem política ou da política com foco na educação pública, laica, universal e gratuita.

 
Fábio de Oliveira Ribeiro

14 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Evangelicos sao

    Evangelicos sao perigosissimos:

    Aleijamento mental como requerimento religioso.

    Pra onde quer que eles se enfiem, a sociedade sofre.

    1. Sabe, Ivan
       

      acho que o fanatismo religioso, mais que uma hipnose, é uma espécie de chip orgânico que se aplica na pessoa com efeitos sobre o dna, garantindo obediência até pós-vida ao lider hipnotizador. 

      Aqueles que por alguma razão conseguem se livrar desses efeitos , se identificados, podem pagar com a vida pela desobediência. Quando sobrevivem, podem promover desde a própria independência espiritual até a independência de uma parcela significativa de pessoas no tempo e no espaço restrito de sua sobrevivência.

      Quando,  e se,  esse tempo e espaço se estende, a verdade e a liberdade que os sobreviventes experimentaram e legaram, rapidamente é transformada pelos mestres manipuladores da liderança hipnótica em religião e servidão.

      E esse mundo continua sendo essa merda continuada.

  2. E atenção

    Atenção, pois daqui até o fim de seu mandato , Temer estará vendendo tudo para permanecer no poder. Seus afagos a bancada evangélica, pode incluir sim a destruição da universidade. A escola sem partido é o primeiro passo das madrassas evangélicas.

    E tem candidato oportunista que já anda defendendo a Terra Plana, o criacionismo, para obviamente tentar depois controlar o que não tem controle nem nunca terá, o que não tem juízo.  O fanatismo não se controla apenas destroi.

    Primeiro vão atacar falando da corrupção, má gestão etc…, Depois vão falar dos privilégios dos  professores, depois vão falar dos alunos privilegiados. E também da modernidade administrativa, que significa, a Universidade que se auto financie. E os alunos que paguem.  A seguir virão os ataques à ciência e ao conhecimento, e logo a Universidade sem partido. Juizes, ja tem proibido debates sobre o que eles acham ser coisa do demonio ( por exemplo reforma agrária e MST), mas não vi nenhum juiz impetrar mandatos e liminares contra cursos exotéricos, misticos e religiosos, que tem sido proferidos dentro das Universidades. A horda obscurantista prossegue em seu caminho como um bando de saúvas alimentando lideres messiânicos e fascistas. Tudo isto com a conivência cúmplice do tal mercado  e seus defensores e estimulados por uma mídia que se orgulha de se dizer moderna. 

    Brasil mostra sua cara

    Quero ver quem paga para a genter

    Ficar assim.

    Abriram a caixa de Pandora, e agora quero ver quem vai colocar os monstros de volta.

    1. E….

      ‘Hipócrita !! Tire primeiro a trave do seu olho, e então poderás ver com clareza para tirar o cisco do olho do seu irmão’. Realmente temos uma farsante democracia de grupelhos bem organizados e federações impondo poder ditatorial ao invés da Sociedade Civil se representando plenamente. Mas devemos ter cuidado com generalizações. Até porque existe fanatismo por todos os lados. Dos religiosos aos ideológicos. 

  3. Madrassas

    Madrassa, em árabe, significa apenas “escola”, não necessariamente religiosa, corânica.

    Que não fique, aqui, um conceito equivocado do termo.

  4. porque sempre que se referem a coisas ruins falam em palavras ár

    porque sempre que se referem a coisas ruins usam palavras árabes tão bonitas???? hein fábio oliveira???

    p quem não sabe madrassa significa escola!!!

    porque vc não usa outra palavra que não seja madrassa??? pq não usa palavras em português????

    se quer se referir a terrorismo use palavras em hebraico veja que os evangélicos são mais afeitos a professos judeus  que matam palestinos há mais de 70 anos impunemente!!!!

    quando quiser escrever use HEBRAICO PARA OS EVANGÉLICOS!!!! E NÃO ESQUEÇA QUE A MAIORIA DOS TERRORISTAS HOJE EM DIA SÃO NORTE AMERICANOS E EUROPEUS!!!!!

    Eulalia

    1. Quem desvirtuou a palavra

      Quem desvirtuou a palavra madrassa, se é que isso ocorreu, foram os fundamentalistas islâmicos a soldo dos norte-americanos. Portanto, vá se entender com eles. Sou apenas o usuário de um vocábulo/conceito que me foi colocado à disposição pelo uso corriqueiro que se faz dele.

      1. “Madrassa evangélica”

        Prezado Fábio,

        Não fica bem tergiversar. Quem usou o termo “madrassa evangélica”, “madrassa” negativando o “evangélica”, foi você.

        É você, portanto, que considera “madrassa” como algo negativo. Não queira dividir a responsabilidade com “terroristas”.

        Aliás, ninguém diz que o terrorismo cristão mata covardemente milhares de iraquianos, paquistaneses, afegãos por meio de drones.

        Ou não há terrorismo cristão?

        1. Você não gostou da expressão

          Você não gostou da expressão “madrassa evangélica”? Ok. Foda-se.

          Vá policiar outro, pois você não é meu editor. Melhor, vá escrever seus próprios textos usando sua forma peculiar de escrita e não leia mais os que foram escritos por mim. 

          Mais alguma coisa?

          1. Quatro patas

            Como se dizia há algum tempo, veio com as quatro patas.

            De um preconceituoso como você, nada se pode mesmo esperar a não ser grosserias como esta.

            Preconceituoso e covarde, pois não assume o que escreve e ainda tenta atribuir aos que fazem mal uso do termo “madrassa” ao seu próprio uso indevido.

            A editoria do blog deveria ser mais seletiva com os textos aqui publicados, pois não tem o menor cabimento a reprodução de ideias preconceituosas por pessoa inabilitada para o debate.

            A grosseria, a truculência, a estupidez do “escrevedor” apenas revela seu caráter. E você revelou o seu.

            Continuarei a ler o que bem entender e continuarei a rebeter as estupidezes seja lá de quem for.

  5. Sionismo e evangélicos no Brasil

    Já há um bom tempo venho notando que as igrejas evangélicas neopentecostais, no Brasil, têm pregado muito mais pelo Velho Testamento. Praticamente abandonaram o Novo Testamento. Algumas nem sequer podem mais se dizer cristãs.

    É notável a associação das mais fortes delas com o Estado de Israel. Parece-me que ambos os lados saem em vantagem: as igrejas devem receber grana e apoio logístico aqui e em suas pregações no exterior, lavagem de grana incluída, e o Estado de Israel passa a se confundir com a Terra Prometida no imaginário dos fiéis menos cultos, a esmagadora maioria. Israel passa a ganhar defensores dentre o populacho, o que daria respaldo às ações dos parlamentares da bancada da bíblia. Um falso circuito de reivindicações e apoio parlamentar.

    É um perigo, sem dúvida nenhuma. Basta dizer que Israel tentou um golpe de estado contra o governo Kirchner e vem tentando a prisão da senadora Cristina a qualquer custo. O golpe foi tentado por meio de um procurador judeu, Alberto Nisman. Depois de sequestrarem Eichman, pouco importa quem ele era, não tinham esse direito. Feriram a soberania do Estado argentino. O golpe seria quase um ato de guerra contra a Argentina.

    Aqui, os sionistas tentam quebrar nossa nacionalidade por meio dessas igrejas neopentecostais. É evidente, claríssimo. Só não vê quem é imbecil. Isso já vem sendo preparado há pelo menos dez anos. E nada fizeram para barrar…

    Isso dá um boa pauta, um bom “Xadrez”.

  6. Evangélicos de araque.

    Esse pessoal é  antes de tudo israélico. Juntando todos esses golpistas dentro de um liquidificador,

    não se obtem mais que meio copo de evangélicos de fato. Não se consegue vislumbrar evangelismo

    com tanta picaretagem imperando nesses grupos “evangélicos” de araque.

  7. Permita-me discordar.

    Nosso país não precisa de religião sem política, precisa de política sem religião. A única maneira de se conseguir eliminar a religião da política é o Congresso aprovar lei que impeça representantes de religiões (todas e qualquer uma) de se candidatarem a cargos eletivos. Sem lei nesse sentido a bancada da bíblia, fatalmente irá implantar uma teocracia em nosso país tão logo atinja a maioria em nosso parlamento. É um absurdo garantir assento a representantes de religião onde se fazem as leis laicas.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador