Aos colegas Cubanos, por Régis Eric Maia Barros

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Aos colegas Cubanos, por Régis Eric Maia Barros

Nesse período do Programa “Mais Médicos”, eu tiver o prazer de conhecer alguns médicos cubanos. E, com esse pequeno texto reflexivo, reporto-me a eles. Pois bem, o referido programa governamental foi capaz de trazer um desconforto imenso nas entidades médicas e em muitos médicos. Esse desconforto, infelizmente, se materializou em vários atos que, para mim, atacam à ética. Certamente, as relações estremecidas entre o governo federal e parte da classe médica catalisaram muitas atitudes destas que merecem reprovação. No entanto, eu não creio que isso tenha sido o único promotor das diversas posturas ora desdenhosas, ora agressivas, ora preconceituosas aos colegas cubanos.

Partiu-se de um pressuposto inicial de que os cubanos não eram médicos, porém eles eram médicos no seu país de origem. Desta feita, são médicos. É fato! Eu respeito, entendo e aceito a tese de que sem a validação do diploma e a proficiência na língua portuguesa temos um empecilho importante para a atividade médica, porém isso não dá o direito ou um salvo-conduto à agressão. As entidades médicas não se atentaram a isso e, inoportunamente, algumas delas até fomentaram a hostilidade. De forma recorrente, alimentaram um ódio desqualificado o qual não tinha sentido em existir.

Além das vaias pobres e destemperadas de colegas médicos brasileiros aos cubanos durante atividade na Escola de Saúde Pública do Ceará, incontáveis ataques aconteceram nas mídias sociais. Criaram-se sites, blogs e páginas para expor possíveis erros e condutas não apropriadas de médicos cubanos. Neles, podemos encontrar exposição de nomes, de receitas e de carimbos associados a comentários permeados de ironia e agressividade. Não estou aqui a defender erros, todavia, nessa minha curta vida de médico, eu já vi cada erro de médicos nossos (brasileiros) que me causaram espanto e medo. Mesmo assim, eu não tenho o direito de expor esse colega usando uma ferramenta tão cruel como as mídias sociais. Ademais, foi divulgado também que vocês, colegas cubanos, não sabiam de nada de medicina. Talvez, isso até represente uma empáfia arrogante de que se sabe mais medicina aqui do que lá em Cuba. Acredito sim que da mesma forma que acontece em todos os países, inclusive no Brasil, existam médicos ruins e médicos espetaculares. Certamente, há médicos humanos e outros mercenários bem como médicos de conhecimento apurado e outros despreparados. Assim, é aqui e em Cuba. Assim, é em todos os cantos do mundo. Como falei acima, tive o privilégio de conhecer médicos cubanos preparados, humanos, comprometidos e adequados. Seria um viés de amostragem? Talvez, mas eram bons médicos. Isso basta para mim. Devem existir médicos cubanos com pouca qualificação. É fato. Mas relembrando, é bem provável que eles existam também por aqui.

Por fim, percebo que o programa “Mais Médicos” está caminhando para um desfecho final, visto que, essa é a mensagem política e dominante do momento. Desse modo, a todos vocês, colegas cubanos, que estão distantes das suas casas e das suas famílias, eu deixo o meu abraço afetuoso e carinhoso. Nenhum de vocês tem culpa pela grave crise política e ética que nos assola nesse momento e, portanto, não mereciam receber quaisquer agressividades dessa sociedade. Voltem em paz e sejam, sempre, bem vindos!

Régis Eric Maia Barros – Médico Psiquiatra

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

4 Comentários

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  1. A matéria me levou àquela

    A matéria me levou àquela médica cubana que pretendia sair do Brasil direto pra Miami, não sem antes esculhamabar o programa de Dilma e seu próprio país. Para tanto, fez-se um Roda Viva com ela no meio; todos os jornais deram manchetes exclusivas à mulher; e ainda Caido, Bolsonaro, e outros da mesma laia, a conduziram ao Congresso para uma entrevista “fenomelal”.  Onde ela se encontra agora? Talvez em Miami, ou o que importa a nós o seu apradeiro.

    Quem tem autoridade para falar sobre os médicos cubanos são os brasileiros carentes que deles se servem até agora. E não faltaram nas redes sociais, ou apenas nos blogs progressistas depoimentos do povo sentindo-se mais digno, mais feliz. 

    No fundo, toda a polêmica sobre os médicos cubanos se concentrava na desqualificação de Dilma, considerada até hoje por muitos como aquela que legou em armas, que mereceu ser torturada, por ser ua comunista, e vão por aí os absurdos de quem já manipulava o povo para tirá-la do poder. E conseguiram.

     

  2. a matéria….

    Programa Mais Médicos foi algo fantástico e excepcional. Mas oo Brasil não tem Politica de Estado. A cada 4 anos destruímos o que foi feito nos 4 anos anteriores. SAMU foi outra experiência pública que deveria ter se tornado definitiva. No lugar sobrou o que? A cúmplicidade do CRM com todas falcatruas do Poder Público. 

  3. Personalização e generalização.

    Acho que o Dr. Regis personalizou um programa. O programa mais médicos é um programa necessário que foi atacado enquanto programa e para isto grupos e categorias médicas atacaram individualmente  médicos através da rede. O ataque  indivídual a alguns médicos do programa serviram sempre para tentar destruir a imagem do programa enquanto que o ataque ao médico cubano, foi  um ataque sobretudo  ideológico e uma  defesa do próprio mercado. 

      A  classe médica deveria  pelo menos  fazer  uma real análise sobre as necessidades da população. Afinal de contas eu acredito  na existência de médicos corretos e com visão social, mas também  os vejo constrangidos diante do contexto da própria categoria. Se critico a personalização feita contra o médico cubano também critico a generalização contra médicos brasileiros. Mas posso sim criticar as entidades de classe. E também não me chegou a conhecimento que os grandes cursos de Medicina tenham se colocado nesta questão.

    Morto o programa mais médicos  sempre haverão os que vão mencionar , casos individuais, em geral sem provas ou com histórias retiradas do contexto.  Dizer uma obviedade como esta, de que existem bons médicos e maus médicos entre brasileiros e ou cubanos, não vai ao âmago da questão e até serve para muitos reafirmarem suas posições. Médicos de todo o mundo  sabem o que é a medicina em Cuba. Não é a toa que estão ao redor do mundo trabalhando em programas da ONU  nos lugares mais difíceis. 

    O programa Médico sem Fronteiras também não é um programa infenso a erros, mas nem por isto é um programa descartável. Todos sabemos do que se tratou: defesa de mercado, ataque ideológico e o movimento golpista contra o PT e contra o governo Dilma.

    Tudo isto se junta com estas PEC abjetas que vão privatizar a previdência, privatizar a saúde e destruir todos os programas sociais. Isto irá privilegiar alguns médicos, isto é, donos e administradores da Medicina Privada.  Me recuso a pensar que todos os médicos estejam de acordo com isto.  Continuada esta linha, em breve, teremos muitos jovens médicos como escravos dos grupos de saúde privados. 

    A medicina brasileira enriqueceu individualmente, mas sempre viveu dos aportes do estado. E aos que estão de acordo, espero que tenham consciência  de que o aprofundamento da crise foi provocado por aqueles,que para causar o impeachment, bloquearam todas as portas de saida da crise.  Agora,  estes continuam apostando contra toda a política heterodoxa e vão continuar  destruindo o país e entregando-o para o capital improdutivo, o tal mercado. Isto irá  matar não apenas a classe média que ascendeu no período Lula, como também a classe média que já era média anteriormente. E aos médicos de consultório, eu os advirto que perderão seus pacientes, pois muitos sequer poderão pagar os planos de saúde ou uma consulta particular como o fazem hoje. E não se esqueçam que nossas empresas sequer pensam em  contribuir para isto. Logo estarão afirmando que esta é uma obrigação do  estado.

    Sem o estado  nossa medicina voltará  a se dirigir apenas para aqueles 20% da população? Mas para isto logo estaremos vendo a criação de  um programa Menos Médicos.

  4. Cubanos

    Quando forem embora para seu país, por favor, esqueçam o que ouviram aqui de parte dos seus colegas. Infelizmente o Brasil não é mais aquele do povo gentil, hospitaleiro, que encantava os estrangeiros.

    Como está acontecendo em praticamente todo o mundo, aqui tb chegou a onda do racismo, da intransigência, do ódio de classes.

    Nas redes sociais está mais que comprovado o que digo com os famosos “je suis” para franceses e nada para Haitianos , Africanos e refugiados de toda origem e xingamentos p/ os que conseguem chegar ao país. Ao lado do eterno complexo de vira latas c/ relação aos países europeus e norte americanos, está o complexo de superioridade em relação à América do Sul , central e países africanos em geral. Que o diga nosso atual Ministro das Relações exteriores e até o presidente da República.

    E tenham sempre orgulho da medicina praticada em seu país, pois é a ideal p/ países pobres e aqueles com regiões tão díspares, como acontece aqui.

    Espero que a abertura que seu país está passando, não os torne novamente , o que era antes da Revolução, ou o que se tornou o nosso Brasil.

    Abraços e boa viagem. Muito obrigado em nome dos que tiveram a felicidade de serem seus respeitados pacientes.

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