Cinco pesquisas científicas rompem tabu sobre uso da maconha

Jornal GGN – Cinco pesquisas científicas mostram que a maconha (Cannabis sativa), além de não causar tanto ou mais mal do que o cigarro, ainda pode ter finalidades medicinais importantes, ao aliviar ou amenizar efeitos de doenças como diabetes e doença de Crohn. Ou até para provocar fome em pessoas que passam por rádio ou quimioterapia,  tratamentos que tiram a vontade de comer. Listadas pelo site AlterNet, as pesquisas mostram que a cannabis também pode ser importante aliada na luta contra o vírus HIV.

Confira os mitos, destrinchados pelos cientistas:

1. Usuários frequentes não têm maior chance de adquirir câncer do que fumantes ocasionais ou não fumantes

De acordo com dados apresentados em abril, durante o encontro anual da Academia Americana para a Pesquisa do Câncer, quem fuma maconha regularmente não possui maiores chances de ter câncer do que quem fuma de vez em quando ou não fuma. Pesquisadores da Universidade da Califórnia analisaram mais de cinco mil pessoas em todo o mundo entre 1999 e 2012 e confirmam: “Nossos resultados não mostram uma associação significativa entre intensidade, duração e consumo cumulativo da maconha e o risco de câncer”.

Outros estudos já haviam falhado em associar a cannabis ao câncer de cabeça e pescoço ou ao câncer do aparelho digestivo superior. No entanto, o DEA (organismo que controla as drogas nos EUA) continua a dizer que “fumar maconha aumenta o risco de câncer da cabeça, pescoço, pulmões e aparelho respiratório”.

2. Uso frequente é associado à redução dos fatores de risco para o diabetes tipo 2

A maconha terá, algum dia, um papel importante em evitar a crescente epidemia de diabetes tipo 2? Novos estudos indicam que é possível. De acordo com dados publicados este mês pelo American Journal of Medicine, pessoas que consomem cannabis regularmente possuem indicadores favoráveis relacionados ao controle do diabetes comparados a usuários ocasionais ou não usuários.

Pesquisadores do Beth Israel Deaconess Medical Centre, em Boston, perguntaram a cinco mil adultos diabéticos se eles fumavam ou haviam fumado maconha alguma vez. Os que usavam regularmente tiveram níveis de insulina 16% mais baixos em jejum e resistência menor à insulina comparados aos que nunca a tinham usado. Já os não usuários possuíam maior gordura abdominal e menor nível de colesterol “bom” (HDL) – ambos são fatores de risco para esse tipo de diabetes.

Benefícios similares foram reportados em usuários eventuais, apesar de serem menos importantes, “sugerindo que o impacto do uso da maconha sobre a insulina e a resistência à insulina existe durante períodos de uso recente”.

As novas descobertas confirmam os estudos de uma equipe de pesquisadores da UCLA (Universidade da Califórnia), feitos em 2012 e publicados no British Medical Journal, segundo o qual adultos com histórico de uso de maconha são menos afetados pelo diabetes do tipo 2 e possuem um menor risco de contrair a a doença do que aqueles que nunca fumaram, mesmo após os pesquisadores ajustarem as variáveis sociais (etnia, nível de atividade física etc.). Conclui o estudo: “(Esta) análise de adultos entre 20-59 anos… mostrou que os participantes que usaram maconha foram menos afetados pela DM (Diabetes Mellitus) e por problemas associados à DM do que não usuários”.

O diabetes é a terceira causa de morte nos EUA após doenças do coração e câncer. No Brasil, o diabetes mata mais do que a Aids e os acidentes de trânsito.

3. Uso reduz dramaticamente os sintomas da doença de Crohn

Fumar maconha duas vezes ao dia reduz significativamente os sintomas da doença de Crohn,  doença crônica inflamatória intestinal que atinge cerca de meio milhão de norte-americanos – atualmente, o número de portadores no Brasil está sendo pesquisado. É o que diz o primeiro estudo já feito relacionando o uso de cannabis à doença, publicado neste mês na revista científica Clinical Gastroenterology and Hepatology.

Pesquisadores do Departamento de Gastroenterologia e Hepatologia do Meir Medical Center, em Israel, asseguraram a eficácia de fumar cannabis versus placebo em 21 pacientes com a doença de Crohn, que não respondiam ao tratamento convencional. Onze participantes fumaram baseados com 23% de THC (o princípio ativo da droga) e 0,5% de canabidiol –um canabinoide não-psicotrópico conhecido por suas propriedades anti-inflamatórias– duas vezes ao dia durante oito semanas. Os outros dez fumaram cigarros contendo placebo.

Os pesquisadores dizem que “os estudos mostraram que o tratamento de oito semanas com a cannabis contendo THC enriquecido foi associada a um significativo decréscimo de 100 pontos no CDAI (Índice de Atividade da Doença de Crohn)”. Cinco dos 11 pacientes no grupo estudado reportaram remissão da doença, definida como uma redução no escore CDAI do paciente em mais de 150 pontos. Participantes que fumaram maconha disseram ter sentido diminuição da dor, aumento do apetite e melhor sono comparado aos demais. “Nenhum efeito colateral significativo” associado ao uso da cannabis foi reportado.

Os resultados clínicos dão razão a décadas de relatos pessoais de pacientes de Crohn sobre usar cannabis para aplacar os sintomas da doença.

4. Maconha sintética detém infecção por HIV em células brancas

A administração de THC vem sendo associada à queda na mortalidade e à desaceleração da progressão da doença em macacos com o vírus da imunodeficiência símia, uma espécie primata do HIV. Canabinoides poderiam ter efeito similar em humanos? As descobertas de um estudo recente indicam que a resposta pode ser “sim” e que a substância parece ter ação no combate à doença.

Na edição de maio do Journal of Leukocyte Biology, pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade Temple, na Filadélfia, informaram que a administração de canabinoides sintéticos limitam a infecção por HIV em macrófagos (células brancas do sangue que ajudam na imunidade do corpo). Pesquisadores asseguraram o impacto de três tipos de maconha sintética disponíveis no mercado (componentes não orgânicos que agem sobre o cérebro da mesma forma que a planta) em células macrófagas infectadas pelo HIV. Depois, os pesquisadores colheram amostras das células periodicamente para medir a atividade da enzima chamada transcriptase, essencial para a replicação do HIV. No sétimo dia, a equipe descobriu que os três compostos tiveram sucesso em atenuar a replicação do HIV.

“Os resultados sugerem que o CB2 (receptor canabinoide) poderia ser utilizado, em associação com drogas retrovirais existentes, abrindo a porta para a geração de novas terapias para o HIV/Aids”, resumiram os pesquisadores em um comunicado à imprensa da Temple. “Os dados também confirmam a ideia de que o sistema imunológico humano poderia ser fortalecido para combater o HIV”. 

5. Canabinoides oferecem um tratamento eficaz na terapia para o TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático)

O estresse pós-traumático atinge cerca de 8 milhões de norte-americanos anualmente (com tantas guerras, pudera), e tratamentos eficazes para a síndrome ainda são raros ou desconhecidos. Mas uma pesquisa publicada em maio pela revista Molecular Psychiatry indica que os canabinoides têm potencial para tratar o transtorno com sucesso.

Pesquisadores da New York School of Medicine informaram que pessoas diagnosticadas com TEPT possuem elevadas quantidades de receptores endógenos de canabinoides em regiões do cérebro associadas ao medo e à ansiedade. Além disso, os cientistas disseram que estas pessoas sofrem de uma produção reduzida de anandamida, um canabinoide endógeno neurotransmissor, resultando em um sistema endocanabinoide desequilibrado. O sistema receptor de canabinoide endógeno é um sistema regulatório presente em organismos vivos com o propósito de promover homeostase ou estabilidade.

Os autores especularam que aumentar a produção de canabinoides no corpo poderia restaurar a química natural do cérebro e seu equilíbrio psicológico. Eles afirmam: “Nossas descobertas indicam (…) existir evidências de que canabinoides oriundos de plantas como a maconha podem causar benefícios em indivíduos com TEPT, ajudando a acabar com os pesadelos e outros sintomas.”

Infelizmente, em 2011, o governo norte-americano impediu que os pesquisadores da Universidade do Arizona, em Phoenix, conduzissem um teste clínico para avaliar o uso da cannabis em 50 pacientes com TEPT.

Com informações do AlterNet

Tradução de Cynara Menezes

Redação

2 Comentários

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    1. Em resposta

      Há uma variedade bem gande de pesquisas em prol da maconha no mundo inteiro, inclusive no Brasil. Maconha era utilizada a muito tempo como remedio, para digestão e dores por exemplo. Eles tem coragem suficiente para mostrar isso, enquanto muitos – como o leitor do comentario acima – se prendem a uma legislação autoritaria disfarçada de democracia. Ela é ilegal porque diminui a usabilidade de remédio sinteticos, o que pode claramente baixar o consumo de remedio e despencar a industria farmaceutica. Pense bem antes de postar qualquer coisa na internet, não são todos que são bitolados e desinformados como você. Procure se informar antes de sair falando qualquer besteira. Se aceitar uma sugestão, assista o documentário “Cortina de Fumaça”, tem dele completo no youtube.

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