Nervos ajudam no desenvolvimento do câncer de próstata

Jornal GGN – Pesquisadores do Colégio de Medicina Albert Einstein, da Universidade Yeshiva, da Inglaterra, estão avaliando o papel dos nervos no desenvolvimento e avanço do câncer de próstata, que só este ano deve atingir mais de 230 mil homens e tirar a vida de quase 30 mil naquele país, segundo dados da própria instituição. Um estudo publicado na edição de julho da revista Science mostra que os nervos atuam, indiretamente, tanto no desenvolvimento como nas metástases – quando o tumor se espalha pelo corpo.

O objetivo dos cientistas é identificar novas maneiras de prever a agressividade do câncer de próstata, assim como ajudar a criar novas formas de terapias para prevenir e tratar a doença. Antes do estudo, chefiado pelo especialista em células-tronco Paul Frenette, professor de medicina e de biologia celular, ainda não estava clara a participação dos nervos simpáticos (SNS) e parassimpáticos (PNS) no avanço dos tumores de câncer na próstata.

Os nervos, em geral, são comumente encontrados em torno dos tumores. A pesquisa revelou que os nervos SNS podem ter um papel no desenvolvimento do tumor, mas não apenas eles. “Acontece que, no câncer de próstata, não são apenas os nervos simpáticos envolvidos, mas também o são os nervos parassimpáticos”, afirma Frenette, explicando que os nervos simpáticos modulam o sistema de resposta de “luta ou fuga” do corpo. Um exemplo é a aceleração da frequência cardíaca e constrição dos vasos sanguíneos.

Experimentos com ratos

Já o sistema nervoso parassimpático, por outro lado, geralmente age em oposição ao nervo simpático para manter as funções corporais em equilíbrio. Juntos, os dois tipos – o SNS e o PNS – compõem o sistema nervoso autônomo do corpo. O papel do conjunto de nervos no avanço dos tumores foi constatado em experimentos feitos com ratos. Os cientistas injetaram células cancerosas nos roedores e, em seguida, desativaram a atuação de várias partes do nervos simpáticos e parassimpáticos para observar como as células se saíram.

Paralelamente, outro grupo de ratos de controle foi submetido à mesma injeção de células cancerosas, mas, desta vez, os cientistas não intervieram junto aos nervos. O estudo constatou que os dois ramos do sistema nervoso autônomo têm funções complementares no desenvolvimento e na propagação do câncer de próstata. O SNS ajuda a iniciar as fases iniciais da doença, enquanto os PNS está envolvido nos estágios mais avançados, quando o câncer se espalha.

No caso do nervo simpático, os pesquisadores constataram que ele promove o crescimento do tumor por meio da produção de um neurotransmissor chamado norepinefrina, que se liga e estimula a dois tipos de receptores – beta-2 e beta-3 – sobre a superfície das células do tumor. “Isso é consistente com estudos epidemiológicos recentes que mostram que o uso de betabloqueadores, que reduzem a pressão arterial ao bloquear os receptores beta-adrenérgicos, está associada à melhora da sobrevida dos pacientes com câncer de próstata”, explica Paul Frenette.

Já o nervo PNS faz as células do tumor invadirem outros tecidos e viajarem para partes distantes do corpo (metástases), quando suas fibras nervosas liberam acetilcolina, que ativa uma via de sinalização em células estromais do microambiente tumoral. “Nossas descobertas levantam a possibilidade tentadora de que as drogas que alvejam ambos os ramos do sistema nervoso autônomo pode ser terapias úteis para o câncer de próstata”, acrescenta Frenette.

Testes com amostras humanas

Após os testes com os ratos, os pesquisadores analisaram as densidades das fibras nervosas em amostras de tecido da próstata de 43 pacientes com câncer que não tinham sido submetidos a qualquer tratamento. A etapa tinha como meta averiguar se os seus resultados obtidos junto aos roedores poderiam, também, ser relevantes para o câncer humano. Pacientes recém-diagnosticados com câncer de próstata considerado agressivo tiveram maior densidade de fibras nervosas nos tumores e no tecido que os circunda, em comparação com os que tinham tumores menos agressivos.

Apesar dos resultados, os pesquisadores afirmam que são necessários ainda mais estudos para comprovar a relação entre os nervos e o comportamento dos tumores de câncer, até mesmo os de mama. “Estudos clínicos mostram que pacientes com câncer de mama que tomaram betabloqueadores tiveram melhores resultados do que aqueles que não tomavam betabloqueadores”, explica o pesquisador.

Redação

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