PM de São Paulo mata cinco pessoas a cada dois dias

Recorde de letalidade, entretanto, não produz dados efetivos contra a criminalidade, revelam especialistas 
 
Fernando Frazão/Agência Brasil
Fernando Frazão/Agência Brasil
 
Jornal GGN – Um levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a partir de dados mensais da Secretaria de Segurança Pública (SSP), revelou que a polícia militares do Estado de São Paulo matou, no primeiro semestre de 2017, cinco pessoas a cada dois dias. Desde janeiro 459 pessoas foram mortas no pela PM paulista, o maior número já registrado para o período nos últimos 14 anos. As informações são do jornal Brasil de Fato. 
 
Brasil de Fato
 
A cada dois dias, cinco pessoas são mortas pela PM em São Paulo
 
Por Rute Pina
 
Levantamento revela recorde de letalidade e especialistas questionam efetividade de ações do governo para conter mortes
 
No primeiro trimestre de 2017, cinco pessoas foram mortas por policiais militares no estado de São Paulo a cada dois dias. O número total de mortes chegou a 459 este ano e é o maior dos últimos 14 anos, um recorde na comparação com os primeiros seis meses dos anos anteriores.
 
Em contrapartida, 30 policiais foram mortos no primeiro semestre de 2017, o menor número da série histórica, que se iniciou em 2001. O levantamento foi realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a partir de um compilação dos dados mensais da Secretaria de Segurança Pública (SSP) e dos dados de mortes cometidas fora de serviço por PMs.
 
Para o pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, David Marques, os dados revelam que o governo estadual se utiliza de uma estratégia de violência para conter a violência. “Não é verdade que as pessoas tem mais segurança porque os policiais estão matando mais”, ponderou Marques. 
 
“Se o enfrentamento violento para controle de roubos é a única estratégia de segurança, isso não vem dando muito certo. Isso tem a ver com uma dimensão mais estratégica da política de segurança. Por exemplo, se em todos esses casos de enfrentamento o suspeito estava armado, a gente precisa questionar nossa política de controle de armas de fogo.”
 
Segundo o pesquisador, a alta letalidade em ações da PM não atinge a sociedade de forma homogênea: “Está relacionada com o perfil de jovens, negros e pobres e em territórios específicos, periferias e algumas áreas centrais.”
 
Para o tenente-coronel de reserva PM e pesquisador da USP, Adilson Paes de Souza, a letalidade da polícia é uma política de Estado. “Este remédio é ineficiente e não produz resultado. Ano após ano, esse índice aumenta. Quando cai, é muito pouco.” 
 
Impunidade
 
Segundo o tenente-coronel, os policiais se sentem livres para atirar. “O ápice disso aconteceu em Pinheiros [bairro da zona oeste de São Paulo] quando um carroceiro, com dois pedaços de madeira madeira foi morta com dois tiros em partes vitais”, disse em referência ao assassinato do catador de recicláveis Ricardo Silva Nascimento, no dia 12 de julho.
 
“Uma pessoa morta, o local de crime alterado, a vítima e os cartuchos [de projéteis] foram retirados do local, impedido a apuração do crime, e nada acontece”, completou.
 
Nesta quinta-feira (27), a morte de Leandro Santos, outro caso envolvendo policiais, completou um mês. O rapaz de 18 anos foi assassinado após uma ação das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) na Favela do Moinho, na região central da cidade de São Paulo (SP). 
 
Para David Marques, a impunidade nestes casos revela a falta de transparência do governo com relação a punição de agentes públicos envolvidos neste caso e limitação da atuação do Ministério Público (MP) e da Ouvidoria da PM.
 
“Ações de superação envolvem necessariamente mais inteligência e mais investigação; por outro lado, do ponto de vista do controle, o MP precisa realizar de forma mais efetiva o controle externo da atividade da PM para a interdição desta realidade”.
 
Em 2015, o ex-secretário de Segurança Pública Alexandre de Moraes determinou que os casos de homicídios envolvendo policiais deveriam ter investigação imediata do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) junto ao MP. 
 
Souza questiona a eficiência das medidas de redução da letalidade. “A secretaria tem obrigação de fornecer essas informações ao público”, disse o tenente-coronel.
 
Já David Marques afirma que a Ouvidoria da PM, um projeto que o pesquisador considera inovador em sua criação por ter ligação direta com a sociedade civil, passa por sucateamento com a limitação institucional e de recursos.
 
Além disso, um projeto de lei, que tramita na Assembleia Legislativa de São Paulo, pretende mudar a escolha do ouvidor. “Mais uma vez a sociedade civil, que já está apartada, vai ser excluída desse processo. Concretamente, a Ouvidoria tem pouca capacidade e, no horizonte, vai ter ainda menos”, lamentou Marques.
 
Em nota pública, a pasta atribuiu a alta ao crescimento da violência. A reportagem do Brasil de Fato entrou em contato com a assessoria de imprensa do órgão para questionar quais são as medidas que a pasta tem adotado para a redução das mortes cometidas por policiais.O órgão informou em nota que a Secretaria da Segurança Pública “desenvolve ações para reduzir a letalidade policial. No entanto, é importante ressaltar que a opção pelo confronto é sempre do criminoso”.
 
Edição: Luiz Felipe Albuquerque
Redação

5 Comentários

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  1. Comentário.

    Embora o fato seja escabroso, não é por demais insistir na necessidade de se debruçar sobre o uso político do crime.

    Afinal, aumentar ou afrouxar determinadas políticas de segurança, mostrando certos grupos considerados mais perigosos ou mais próximos dos cidadãos comuns, “bandidos de colarinho sujo e roto”, dão o tom.

    E, claro, o desequilíbrio promovido pela psicologia de grupo e de corporação, que torna o cidadão um inimigo, e, portanto, alguém que deve ser eliminado.

    Mas não deixemos de considerar que golpes de Estado precisam de policiais de grande letalidade e que sirvam de exemplo pra quem for contestar.

    1. Ninguém me demove da ideia de

      Ninguém me demove da ideia de que o PCC tornou-se um braço paramilitar da brigada política paulista, mormente a tucana. É incrivel a distribuição estratégica do grupo pelo país afora. Isso, pra mim, vai bem além de células do crime convencional.

  2. Bandidos de fato não temem a

    Bandidos de fato não temem a morte. Aliás nem temem cadeia. A simplificação que os tolos e malandros – sempre unidos pela desgraça – acham de que MATAR BANDIDO resolve, nunca resolverá nada.

    A coisa é muito mais trabalhosa do que essa simplificação idiota e extremamente perigosa por tantos prejuízos causar.

    É não deixar virar bandido! Educar! Não somente instruir na escola, mas educar de fato. Ou então viver em permanente guerra com alto risco de ser a próxima vítima, pouco importando os “castelos” (shoppings, condomínios, etc.), onde de fato se vive preso com medo da bandidagem à solta.

  3. miséria nas noções

    De regra, considerações sobre a violência das polícias militares são indigentes. Vêm logo à colação bandidos e policiais, esta dicotomia idiota. Os policiais, enquanto indivíduos, dotados de inteligência (mínima que seja), de vontade, tratados como robôs, esta maldita expressão ‘letalidade da polícia’, sempre repetida, chavões e chavões.

    Mesmo neste blog, onde se esperam análises, hipóteses, organzação de fatos….mesmo aqui reina a miséria de ideias. Enquanto espero a minha vez, seja o ferimento causado por um assaltante, seja um tiro de um policial, tento desesperadamente entender esta selvageria, por meus meios.

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