O(s) movimento(s) negro(s)

Li atentamente todos os comentários, postei alguns deles. Vamos aos pontos que me incomodam nessa política de inclusão racial.

Há várias facetas do movimento negro. Tem um pessoal consistente, sério e engajado na Ordem dos Advogados de São Paulo, representados pelo advogado Militão. Meus comentários, abaixo, se referem à faceta mais barulhenta e agressiva do MN, que, em geral, se situa em panelas acadêmicas.

1. É um movimento racial, mas focado na classe média incluída.

Na “Folha” de hoje, o José Vicente, presidente da Afrobrás, em artigo bastante civilizado destaca alguns dos feitos do movimento. Há um centro de inclusão digital na Luz (só para negros?), e 300 trainees sendo preparados para assumir cargos em grandes bancos. Ótimo!, que haja mais inclusão. Nada contra, mas que fique claro: a dívida histórica da escravidão está sendo utilizada como saldo na conta corrente dos socialmente incluídos. Pergunto: esses 300 trainees, beneficiários da “dívida histórica” com os negros, estão assumindo compromissos de trabalharem em prol dos seus irmãos excluídos? Creio que não.

2. Com o componente da cor, o movimento se apropria de fatias dos excluídos.

Uma das maiores barreiras para jovens favelados ou de classe baixa ascenderem socialmente, independentemente da cor, está na baixa auto-estima. Os que conseguem superar a barreira da educação levam desvantagem na aparência, na falta de fé no próprio taco, na falta de desenvoltura para competir com quem vem de uma base econômica superior, independentemente da cor. De outro lado, há um leque restrito de políticas afirmativas e políticas sociais e uma grande batalha para ampliar o seu escopo.

Uma das lógicas mais perversas do Estado brasileiro é manter o bolo do mesmo tamanho e desviar recursos dos grupos de menor vocalização política para os de maior. Foi assim com o programa anti-aids. Os soropositivos sempre tiveram poder maior de verberar seus interesses, por contar de vítimas influentes do meio artístico e intelectual. Com isso, conquistaram fatias de recursos destinados à meningite tipo B, malária e outras doenças dos grotões.

No caso das políticas afirmativas ocorre o mesmo. Se o critério dos 300 trainees foi a cor, reduziu-se o leque dos excluídos que poderiam ser beneficiados por essa política de inclusão. O branco e o pardo ex-favelados passam a sofrer da dupla discriminação: a de serem ex-favelados e o de não serem negros.

3. O movimento estimula a intolerância.

Um país é formado por tradições. Entre as nossas estão vários símbolos da cultura negra, da branca, da índia. A retórica dessa parte barulhenta do movimento negro tende a questionar todas as tradições não negras – até o Natal (!!!) – e encarar todos os defensores não-negros como adversários. O que se pretende com isso?

Não buscam resultados palpáveis e aliados para a grande luta nacional pela inclusão social. Perseguem apenas o ambiente que melhor permita ampliar o espaço político dessas lideranças barulhentas.

Repito, há alas responsáveis do movimento negro, que têm feito um trabalho diuturno e responsável. Mas a face mais visível não tem a grandeza de um abraço negro.

Luis Nassif

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