Conheça e desenvolva seu índice de FIB (Felicidade Interna Bruta), por Eliana Rezende

Por Eliana Rezende

 

A colonização pelo econômico em campos que tenham que ver com a felicidade humana de sociedade e civilizações é uma boa pauta.

Quando os noticiários não se cansam de falar de índices de PIB (Produto Interno Bruto), taxas de juros e aplicações e de como isso impacta a vida das pessoas, fico cá com meu pé atrás.

 

Isto porque, são índices exteriores ao indivíduo que, pouco ou nada, têm a ver com índices de satisfação e felicidade individuais. Não creio que tais índices, métricas, variáveis deem conta de trazer elementos que, de fato, auxiliem e façam jus à uma economia a serviço da satisfação humana.

 

 

O PIB (Produto Interno Bruto) serve apenas para mensurar e aplicar índices a mercadorias e bens de consumo. Tê-los não representa valor numa economia não monetária onde os bens são imateriais e intangíveis, tais como saúde, vida plena, família e afeto.

 

O PIB mesura tudo, menos aquilo que de fato faz a vida verdadeiramente valer a pena.

Um exemplo disso é, neste caso, os EUA. Desde os anos de 1950 seu PIB cresceu 3 vezes. No entanto, os americanos de hoje sentem-se mais infelizes do que os daquele período. O que nos faz parar e perguntar: se PIBs altos são tão fundamentais porque a discrepância nos índices de felicidade e satisfação?

 

Diria que o tema não é apenas pessoal, em um universo restrito. Tanto que a ONU lançou em 2013 um segundo Relatório Mundial da Felicidade.

Para sua elaboração, foram tomados nove índices que mensuram esta sensação de felicidade nos países.

 

Graficamente teríamos:

 

 

Tomando tais variáveis alguns economistas elaboraram o que veio ser chamado de Paradoxo da Felicidade. O economista Richard A. Easterli, em 1974, afirmava que este paradoxo se assentava em algumas assertivas:

  1. Em uma sociedade, os ricos tendem a ser mais felizes do que os pobres.
  2. Sociedades ricas não tendem a ser (muito) mais felizes do que sociedades pobres.
  3. O enriquecimento do País não leva, necessariamente, à felicidade.

Saindo na frente de todos nós, e tomando isso como uma política não apenas social mas de governo, está o pequeno reino do Butão.

 

Pequeno geograficamente, o Butão é um reinado hereditário nas encostas do Himalaia,

espremido entre a China, a Índia e o Tibet. Sua população não chega a mais que dois milhões de habitantes, e sua maior cidade, que também é capital chama-se Timfú e conta com apenas cerca de cinquenta mil moradores.

 

Seu rei, Jigme Singye Wangchuck – que é monge governante – tem como política pública tomar em conta a Felicidade Interna Bruta de seu povo. Mas como conseguir índices positivos nesta seara?

 

Tendo políticas públicas de uma boa governança, uma justa e equitativa distribuição de renda – que vem dos seus excedentes da agricultura de subsistência, da extração vegetal, criação de animais e venda de energia à Índia – ausência de corrupção, garantia de educação e saúde de qualidade, com sistemas de estradas transitáveis em meio à suas montanhas e coroando tudo relações de cooperação e paz entre o povo. Poderiam, por N caminhos, aumentar a renda per capita de seus habitantes, acabar com suas reservas naturais e áreas de mangue e começar a fornecer energia para a Índia. Mas conseguiriam manter seus índices de felicidade no patamar que estão?

Para seu governante a resposta é: NÃO!

 

Óbvio que em muitos casos me dirão: mas isso é impossível de se obter em regimes capitalistas, tais como os que temos no mundo ocidental.

 

É provável que sim.

Mas e que tal buscarmos em nós mesmos, tal como fazemos poupanças ou aplicações pessoais, encontrar um índice pessoal de Felicidade Interna?

Nessa aplicação e rentabilização da Felicidade iríamos priorizar o que de fato importa: aquilo que somos e não o que temos. Aquilo que construímos internamente e não aquilo que compramos. Aquilo que conquistamos pelo autoconhecimento e não aquilo que um cartão de crédito compra. Nosso maior latifúndio seria estender as fronteiras de nossa alma, com amplos dividendos para o cultivo de sabedoria e conhecimento.

 

A rentabilidade poderia ser ainda maior se houvesse também a aplicação em investimentos futuros.

Ensine os pequenos a valorar desde crianças. Afinal, quanto de fato vale um brinquedo, um passeio, uma guloseima?

Ensine cidadania e valor com responsabilidade.

O futuro agradecerá!

 

 

Numa visão economicista e medianamente pragmática, diriam: mas, para quê?

E uma resposta possível seria: porque esta riqueza amealhada não será consumida por inflação, especulação, juros. Estará comigo onde quer que esteja, sem intermediários, atravessadores, especuladores. E o que é mais importante: nenhum ladrão poderá roubar, nenhuma calamidade poderá tomar.

 

A alma alargada e feliz, será plácida e porto seguro em todas as turbulências da existência.

 

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Publicado originalmente no Blog Pensados a Tinta

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Redação

8 Comentários

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  1. Desigualdade social, sombras e ilusões

    Platão estava correto: estamos numa caverna escura e só enxergamos as sombras lançadas nas paredes. Olhamos para essas sombras disformes e bruxuleantes e temos a ilusão de entender a realidade. Pior: nos agarramos a essa ilusão desesperadamente, como se fosse, não somente impossível, mas perigoso pensar em qualquer alternativa. O medo da incerteza nos faz preferir a dor cotidiana, nos mantém no seguro e confortável caminho que conduz ao abismo.

    Toda riqueza é uma bateria: concentra a energia despendida no trabalho, pois só o trabalho, de fato, possui valor. O capital representa a acumulação de trabalho. A questão é: trabalho de quem?

    Se um ser humano necessita, por exemplo, de dois mil reais por mês para sua sobrevivência, numa expectativa média de vida de oitenta anos, precisará de pouco menos de dois milhões de reais para se abrigar e se alimentar durante uma vida inteira. Nessa hipótese, uma pessoa que possua um bilhão de reais possui o suficiente para garantir a sobrevivência de quinhentas pessoas pelo tempo em que estiverem vivas. Quem, de fato, pode acreditar que seu trabalho ou sua inteligência valham tanto? De que forma uma vida pode valer o mesmo que quinhentas outras?

    Isso é somente uma hipótese. A realidade da concentração de renda é muito pior. Durante o Forum Econômico Mundial de Davos realizado em janeiro desse ano, o Instituto Oxfam, entidade que se dedica a buscar soluções para enfrentar a pobreza mundial, divulgou que as oitenta e cinco pessoas mais ricas do mundo possuem riqueza maior do que a soma da riqueza de toda a metade mais pobre da população do planeta, um contingente de três bilhões e quinhentas mil pessoas. Isso significa que cada um desses bilionários vale o mesmo que mais de quarenta mil pessoas. Ninguém possui tal valor. Ninguém vale o equivalente a quarenta mil pessoas e jamais valerá, nem o ser humano mais brilhante que existe ou já existiu na história de nossa civilização.

    Todavia, há um consenso social na aceitação dessa disparidade ilógica e irracional. Pessoas pobres defendem ardorosamente essa perversidade. Aceitamos tal iniquidade e escrevemos livros e mais livros para tentar buscar respostas para a violência da criminalidade, para as atrocidades das guerras, para as neuroses individuais e coletivas, para a miséria, para a fome, para as doenças que grassam os bolsões mais pobres da população, enfim para as doenças que acometem o corpo e a alma da sociedade humana. A resposta é simples e, ainda assim, parece fora do alcance de uma solução pacífica: a desigualdade na distribuição da riqueza é a mãe de todas as mazelas.

    O fim da desigualdade é inexorável. O problema reside em que como ocorrerá. É possível uma solução negociada, racional e pacífica.

    A alternativa será muito pior.

     

  2. Desigualdade social, sombras e ilusões

    Ol@ Márcio…

    Vc de fato leu o post?

    Acho que vc deu uma curva tão grande! Acho que na proposição e no que tentei levantar com o post passo longe de monetarização e toda essa discussão que vc cita apesar de legitima é literal demais. Pretendia que as pessoas fossem além desse raciocionio tão óbvio.

    Abs

  3. Tudo muito bonito…

    Mesmo que, hipoteticamente, as pessoas de 100 anos atrás tenham sido mais “felizes”, eu ainda prefiro ter penicilina, internet e tudo mais que só está ao nosso alcance graças ao crescimento do tal PIB.

    E, quanto ao Butão e seu Rei Picareta… A mortalidade infantil lá é de 38/1000 nascimentos, contra 4/1000 na “triste” União Européia. Prefiro ser “triste” num país que não deixa suas crianças morrerem.

    Expectativa de vida de 68 anos no Butão, contra 79 dos depressivos EUA. Mais 11 anos de vida para você ser infeliz à vontade!

    E pra fechar, 180/1000 mortes maternas, contra 4/1000 dos tristonhos japoneses. 176/1000 mamães que poderão ver seus filhos crescendo e se tornando adultos cabisbaixos e melancólicos.

    Querem brincar de “índice de felicidade”? Resolvam esses problemas básicos primeiro. Felicidade com esse tipo de miséria não me serve. E não devia servir a ninguém com um mínimo de compromisso ético com o bem estar humano.

     

    1. Tudo muito bonito…

      Ol@ Ozzi…

      Por isso se chama FIB. Cada escolhe o que quer para si…

      Daí que o rol de preferências pode revelar um pouco tbm sobre a pessoa e seus valores. Cada um tem os seus. Tá tudo certo!

      Abs

      Eliana

  4. FIB X PIB

    Ol@s…Ozzi, Curiosão, Márcio…

    Em verdade, o post não é aula de gestão pública,  apenas um incentivo a que de fato pensemos sobre o que é de fato valor. 

    Como digo no post: 

    “Nessa aplicação e rentabilização da Felicidade iríamos priorizar o que de fato importa: aquilo que somos e não o que temos. Aquilo que construímos internamente e não aquilo que compramos. Aquilo que conquistamos pelo autoconhecimento e não aquilo que um cartão de crédito compra. Nosso maior latifúndio seria estender as fronteiras de nossa alma, com amplos dividendos para o cultivo de sabedoria e conhecimento”. 

    Claro está que valor é subjetivo e para os que apenas conseguem pensar monetriamente isso é sem importância alguma. Não há o que ser feito! Valor cada um tem o seu!

    Abs

    Eliana

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