Lula, Gorbachev, Pelé: os jornalistas também tietam, por Carlos Motta

Lula, Gorbachev, Pelé: os jornalistas também tietam

por Carlos Motta

A recepção calorosa que o ex-presidente Lula vem recebendo em suas andanças no Nordeste, com direito a abraços, beijos, selfies, gritos e choros – um banho de povo, enfim – me fez lembrar da vez em que visitou o Estadão na campanha eleitoral de 2002.

Depois de almoçar com diretores do jornal, ele foi à redação. Era começo da tarde e ela estava cheia. Ciceroneado pelo redator-chefe, Lula cumprimentou todos os jornalistas, um por um. Todos.

E em seguida foi para o Jornal da Tarde e para a Agência Estado, um andar acima, repetindo o que havia feito no Estadão.

O seu principal adversário naquela eleição, o notório José Serra, também visitou o jornal naquela campanha eleitoral, repetindo o roteiro de Lula. E foi depois disso que a diferença entre os dois se acentuou para o pessoal do Estadão.

Serra exibiu, na sua passagem pela redação, toda a exuberância de seu peculiar estilo de se relacionar com os seres humanos, um estilo que causou profunda impressão em alguns profissionais – e um choque em outros.

Entre esses últimos estava, o editor de economia de então.

– Gosto muito do seu caderno – disse Serra a ele, para em seguida completar:

– Depois da “Gazeta Mercantil” é o que mais leio.

Outra vítima de sua “franqueza” foi uma experiente repórter de política:

– Nossa, como você engordou! – constatou.

O auge daquela didática tarde foi quando viu uma velha conhecida, na ocasião editora de uma coluna de amenidades:

– Puxa, você está menos corcunda! – elogiou.

Foi um dia em que a autoestima da redação chegou a níveis baixíssimos.

As visitas dois dois políticos ao Estadão renderam muitos comentários, muito ti-ti-ti, nas rodas que se formaram no cafezinho, e certamento alguns votos de indecisos.

Mas nem se compararam ao frisson causado por outros três visitantes, personalidades díspares, que, literalmente, pararam, por alguns minutos, o trabalho da redação.

Um deles foi o padre Marcelo Rossi, no auge de sua popularidade, que se viu cercado por dezenas de pessoas – fãs, fieis? – logo que foi avistado no corredor que dividia o Jornal da Tarde do Estadão.

Outro foi o ex-secretário-geral do PC da URSS, último líder da extinta nação, Mikhail Gorbachev, que depois de aposentado percorria o mundo dando palestras.

Quando surgiu na redação, dezenas de curiosos, de contínuos a jornalistas de todos os calibres, o cercaram. Gorbachev parou diante de uma mesa, sorriu o sorriso dos predestinados, sentou-se na cadeira vaga e pegou um dos jornais que ali se achavam amontoados. Ao abri-lo, o espoucar de flashes parecia fogos de artifício.

E não deu nem tempo de avisá-lo que havia escolhido o jornal errado: Gorbachev posava para a imortalidade do Estadão passando os olhos numa Folha!

A balbúrdia daquele momento foi tamanha que ninguém ligou para a gafe. O fato é que Gorbachev se despediu sob uma calorosa salva de palmas e um princípio de confusão, quando uma veterana integrante daquela equipe de bravos jornalistas agarrou a cadeira que o ex-líder havia usado e determinou, entre categórica e histérica:

– É minha, é minha! Ninguém mais vai sentar nela!

Mas foi o terceiro visitante que bateu todos os recordes de tietagem no Estadão, uma cena impressionante de gente correndo de todos os cantos para o centro da redação, onde ficava a editoria de esportes.

– É o Pelé, é o Pelé! – gritavam as pessoas antes de se levantarem das cadeiras e atropelarem tudo o que estava à sua frente.

Atualmente, no Nordeste, bem longe do Estadão, na falta de um Pelé, que não se sabe onde anda, o povo grita, em sua busca pela esperança, “Lula, Lula”.

 

Redação

2 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Nao conheco um unico “padre”

    Nao conheco um unico “padre” que tenha “popularidade” nos Estados Unidos, alguem poderia esclarecer quem eh esse “padre” Marcelo, por favor?

  2. No final dos anos 90. . .

    No final dos anos 90 foi feita uma pesquisa para se saber as palavras mais conhecidas a nível mundial, o resultado foi o seguinte: em primeiro lugar “coke” (coca cola) em segundo “Pelé” e em terceiro lugar “Clinton” (Bill Clinton), e olha que o Pelé já havia deixado os gramados quase vinte e cinco anos antes da pesquisa.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador