Testemunhas reforçam tese de massacre a posseiros no Pará

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Pertences foram deixados para trás na Fazenda Santa Lúcia, local das 10 mortes (Foto: CNDH)
 
Por Ciro Barros 
 
Pau d’Arco Urgente: testemunhas oculares do massacre reforçam tese de execuções
 
Da Agência Pública
 
Posseiros dizem ao Ministério Público que colegas foram rendidos antes de serem mortos; uma testemunha está desaparecida: teria sido levada pela polícia no dia dos assassinatos no Pará

Três testemunhas oculares ouvidas pelo Ministério Público do Pará e pelo Ministério Público Federal deram depoimentos que reforçam a suspeita do CNDH de que os posseiros mortos na fazenda Santa Lúcia, no município paraense de Pau D’Arco, foram executados.

Os posseiros reafirmaram em seus depoimentos que foram surpreendidos pela polícia na última quarta-feira, quando as mortes ocorreram. Chovia muito naquela manhã. “Por conta do barulho da chuva, a Polícia conseguiu se aproximar sem ser ouvida”, disse à Pública o presidente do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), Darci Frigo, que está acompanhando as diligências do MP. Quando perceberam a polícia se aproximando, alguns posseiros deixaram suas casas.

Leia: CNDH levanta hipótese de vingança de policiais em massacre de Pau D’Arco

Segundo os depoimentos, o casal Jane Julia de Oliveira e Antonio Pereira Milhomem, seus três filhos e dois sobrinhos se esconderam na mata quando perceberam a aproximação dos policiais. “De acordo com os relatos, essas pessoas foram rendidas pela polícia antes da execução”, relatou Frigo. “A polícia conseguiu se aproximar sem ser ouvida e obter informações de pessoas que conheciam o local e o acampamento para que pudessem chegar àquelas pessoas mais precisamente.”

Nas diligências do MP, surgiram informações de uma possível coação às testemunhas. Segundo o MP, 28 posseiros estavam na ocupação no momento dos fatos. Uma das testemunhas vivas – uma posseira identificada apenas pelo apelido de “Baixinha” – teria sido levada pela polícia no dia do massacre e até agora não foi encontrada. “Nós estamos fazendo uma busca ativa, mas até o momento essa senhora, conhecida como Baixinha, não foi localizada. Há outras duas testemunhas. Fora essas quatro, não sabemos onde estão as outras testemunhas vivas, pois elas fugiram e estão amedrontadas”, afirmou o presidente do Conselho Nacional de Direitos Humanos.

O desaparecimento das pessoas foi confirmado pela Pública com outras fontes que acompanham a investigação. Há relatos preliminares de que alguns posseiros teriam sido agredidos antes de serem mortos. O laudo do Instituto Médico Legal só deve ficar pronto daqui a um mês. A Secretaria de Segurança Pública do Pará (Segup) não confirma nem desmente a informação. Eles afirmaram que “somente o final das investigações, com o resultado das perícias, poderá dizer.” O órgão informou que o Instituto Médico Legal (IML) trabalha com o prazo de 15 dias úteis para finalizar os laudos necroscópicos.

Uma das testemunhas disse ter visto outras pessoas correrem para a mata no momento dos disparos. A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa) foi à Fazenda Santa Lúcia na manhã desta sexta-feira e ofereceu proteção às testemunhas oculares por meio do programa Provita. A Fetagri (Federação dos Trabalhadores da Agricultura no Estado do Pará) já programa mobilizações contra a chacina. A Segup deslocou o delegado Aurélio Paiva para realizar uma investigação paralela à do Ministério Público. Ele será auxiliado por Silvio Maués, diretor de Polícia Especializada lotado em Belém.

O MP está colhendo nesta sexta-feira o depoimento de alguns agentes apontados como responsáveis pelo massacre. Fotos produzidas nas diligências do MP indicam que a fazenda estava abandonada.

Em nota, a Segup afirmou que apenas o resultado final das investigações poderá dizer se os fatos relatados pelas testemunhas são verídicos.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

2 Comentários

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  1. Toda a cadeia de comando desses ratos será tb punida

    No Colo da Serra

    (Toquinho)

     

    Uma casinha qualquer no colo da serra,
    Um palmo de terra pra se plantar.
    Um colo de uma mulher, uma companheira,
    Uma brasileira pra se amar.

    Se eu tiver que lutar, vou é lutar por ela.
    Se eu tiver que morrer, vou é morrer por ela.
    Seu eu tiver que ser feliz,
    Você vai ter que ser feliz também.

    Homens vieram da noite em gritos de guerra,
    Feriram a terra, o céu e o mar.
    Homens ficaram no chão mirando as estrelas,
    Mas sem poder vê-las no céu brilhar.

    E o que mais prometer aos herdeiros da vida,
    E que versos fazer à mulher concebida.
    E quando alguém morrer,
    Assim vai ser a morte pra mim também.

    E que versos fazer
    À mulher concebida.
    Se eu tiver que morrer,
    Vou morrer pela vida.

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