PUC-SP em colapso: estudantes reivindicam e reitoria não cede

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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A justiça paulista concede reintegração de posse e estudantes são obrigados a desocupar a reitoria do campus Perdizes
 
 
Jornal GGN – A Justiça paulista concedeu liminar para retirar os estudantes que ocupam a reitoria da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Desde a noite de terça-feira (17), os alunos estão no local protestando contra os cortes orçamentários que levaram à demissão de professores e à precarização do ensino.
 
A juíza Vanessa Miranda Tavares de Lima concedeu a liminar de reintegração para a Fundação São Paulo (Fundasp), mantenedora da PUC-SP. Segundo ela, os documentos apresentados pela Fundação indicam a ocorrência de depredação do patrimônio e pichação. 
 
“Em que pese ser livre a manifestação de pensamento e a reivindicação dos estudantes por melhorias, não lhes é lícito, contudo, esbulhar a posse da reitoria”, manifestou a magistrada.
 
“A insatisfação deve ser formulada pelas vias próprias, mediante reuniões para tal fim”, decidiu, em liminar, estabelecendo uma multa diária de R$ 10 mil aos estudantes, caso permaneçam.
 
Os alunos foram notificados hoje (19) por um oficial de justiça que devem deixar a reitoria do campus Perdizes. No momento, realizam uma assembleia para decidir os rumos do movimento.
 
Em manifesto encaminhado à imprensa os estudantes afirmam que estão “indignados com a crescente intervenção da Fundação São Paulo, que impede o exercício da nossa democracia e nos tira poder de decisão sobre os rumos da universidade”. Eles exigem que sejam ouvidos.
 
Argumentam que já tentaram o diálogo, por meio de um pedido de audiência pública com a reitora e os padres da Fundação, mas que a solicitação foi ignorada. “Nossa educação está sendo sistematicamente precarizada e a história da PUC insistentemente destruída. Não iremos aceitar essa imposição da reitoria e da Fundação!”, defendem.
 
Além das demissões, eles denunciam: “a mercantilização do ensino, ausência de incentivo à pesquisa e projetos de extensão, além do aumento abusivo e subsequente das mensalidades; demissões sumárias de professores e funcionários e precarização de seu trabalho, com aumento de carga horária mantendo os mesmos salários e contratação de auxiliares de ensino (em caráter temporário, que os coloca em condição de vulnerabilidade); terceirização dos funcionários, retirando seus direitos trabalhistas; fechamento de cursos não rentáveis; precariedade de políticas de permanência, como o corte no subsídio do bandejão e ausência de creche para mães estudantes; oposição à mobilização estudantil e perseguição política de estudantes e professores”.
 
A PUC-SP argumenta que os desligamentos de docentes referem-se a 3% dos profissionais e afirma que a verba liberada foi destinada para pesquisa. Em nota, a Universidade aponta “como estopim da invasão o duro e necessário trabalho que vem realizando para combater festas e consumo de substâncias ilícitas no campus Monte Alegre”. Apesar de caracterizar a proibição de festas como motivação para os protestos, os estudantes não incluem esse fator no manifesto.
 
Leia o Manifesto dos Estudantes da PUC-SP:
 
A PUC é nossa! Nesta terça-feira, nós, centenas de estudantes da PUC-SP, indignados com a crescente intervenção da Fundação São Paulo, que impede o exercício da nossa democracia e nos tira poder de decisão sobre os rumos da universidade, ocupamos a reitoria como ato político necessário para exigir que sejamos ouvidos! Foi reivindicado o diálogo, protocolando um pedido de audiência pública com a reitora imposta e os padres da Fundação, porém esse foi simplesmente ignorado. Nossa educação está sendo sistematicamente precarizada e a história da PUC insistentemente destruída. Não iremos aceitar essa imposição da reitoria e da Fundação!
 
Manifestamos insatisfação generalizada em relação à atual gestão da universidade, principalmente quanto à: mercantilização do ensino, ausência de incentivo à pesquisa e projetos de extensão, além do aumento abusivo e subsequente das mensalidades; demissões sumárias de professores e funcionários e precarização de seu trabalho, com aumento de carga horária mantendo os mesmos salários e contratação de auxiliares de ensino (em caráter temporário, que os coloca em condição de vulnerabilidade); terceirização dos funcionários, retirando seus direitos trabalhistas; fechamento de cursos não rentáveis; precariedade de políticas de permanência, como o corte no subsídio do bandejão e ausência de creche para mães estudantes; oposição à mobilização estudantil e perseguição política de estudantes e professores.
 
Tal contexto é justificado pela Fundação São Paulo sob o argumento vago de uma crise financeira, que nunca foi devidamente explicada, levando à necessidade desses “corte de custos”. A situação se agrava principalmente pela atual estrutura autoritária de gestão da universidade, que tem o Conselho Administrativo (CONSAD) – composto por três membros com direito a voto, Secretários Executivos e a Reitoria – como máxima instância deliberativa. Apesar de estatutariamente possuir competência limitada às questões administrativas e financeiras, na prática, delibera sobre todos os rumos da universidade, ignorando as decisões do Conselho Universitário (CONSUN), competente para lidar com questões acadêmicas e que possui representatividade dos demais setores da comunidade.
 
Por estas circunstâncias exigimos de imediato:
 
– A volta do subsídio do bandejão para todos, bem como bolsa-alimentação integral para todos os bolsistas e trabalhadores terceirizados;
 
– Fixação de data para a realização de Audiência Pública com membros de todos os setores da Universidade, imprescindivelmente: CONSAD (todos os membros), CONSUN, representantes dos demais conselhos, professores e funcionários. E acesso a informações e dados sócio-econômicos sobre a Universidade;
 
– Não criminalização de nenhum estudante, principalmente os bolsistas, bem como o arquivamento imediato do inquérito em andamento na Secretaria de Segurança Pública contra os estudantes: Cauê Seignemartin Ameni, Aline Mandelli e Akira Pinto Medeiros.
 
-Fim da precarização do contrato de trabalho dos professores.
 
Em conjunto com estas pautas reivindicamos também:
 
– Uma Estatuinte visando o fim da lista tríplice, fim do CONSAD (como instância deliberativa absoluta que desconsidera decisões do CONSUN), estabelecimento do voto paritário em todos os Conselhos e eleições diretas para reitor;
– Pela criação de um bandejão comunitário gerido pela comunidade acadêmica;
– Creche para mães e pais estudantes, professores e terceirizados;
– Formulação políticas que viabilizam a oferta dos cursos que estão sendo fechados;
– Inclusão dos bolsistas institucionais da FUNDASP e da bolsa do Pindorama, ao programa de passe estudantil da Prefeitura de São Paulo;
– Regularização da matrícula de todos os estudantes do FIES , contra o corte na Educação;
 
Aguardamos uma posição da reitoria e da Fundação São Paulo.
 
Fazemos desse manifesto um chamado a todos estudantes a lutarem pela nossa universidade!
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

12 Comentários

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  1. Seus mijados, ces querem

    Seus mijados, ces querem parar de se esconder atraz dos professores e sua “precarizacao” de uma vez, seus merdas?

    TODAS as “reivindicacoes” tem a ver com VOCES e com o SEU bem-estar.  A unica que nao eh eh a que menciona os professores e ta com uma cara tremenda de “token”.

    Va pastar, cambada de mijados.  NAO se escondam atraz dessa pauta em especifico.  Exijo a retirada dela NESSE MINUTO.

     

    Va gigolar outra categoria, ok?

  2. Nada demais, quando se acha

    Nada demais, quando se acha normal o Movimento dos Sem Teto, ONTEM, paralisar sis avenidas de São Paulo, inclusive a Marginal Pinheiros, verdadeiro coração do transito de São Paulo, com queima de pneus e outros estragos, atrapalhando a vida de milhões de pessoas e ainda o chefe da tropa todo pomposo dando entrevistas muito bem nutrido.

    A vida em sociedade exige alguma regra de convivencia, chama-se a isso CONSERVADORISMO, quando se perda essa noção vale tudo, até matar a mãe, portanto nada de estranhavel na ocupação da PUC, o mesmo já aconteceu na Reitoria da USP, ocupada por 100 dias, com muitos estragos, furtos, depredação, o mesmo que vai acontecer na PUC.

    1. “A vida em sociedade exige

      “A vida em sociedade exige alguma regra de convivencia, chama-se a isso CONSERVADORISMO”:

      NAAAAAOOOOOOOO!

      Nao acredito que voce falou isso, Andre!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

  3. Menor custo/maior lucro

    Como pode isso acontecer em uma “empresa ” como a puc?

    com a mensalidade beirando 2 conto, só pode ter alguém desfalcando o caixa.

    todo apoio aos estudantes!

    1. A PUC não é uma empresa, é

      A PUC não é uma empresa, é uma Fundação da Curia Metropolitana, a Fundação São Paulo, que NÃO tem fins lucrativos, a PUC é uma universidade relativamente barata, de boa qualidade, qual é a “”CAUSA” dos estudantes? Querem o que?

      Baderna pela baderna? Imagine estudantes invadirem a reitoria da Universidade de Harvard? È possivel?

      1. Foi isso mesmo que eu pensei,

        Foi isso mesmo que eu pensei, e estou loooooonge de ser “conservador”, eu sou “canhoto” ate a medula.

      2. entidade filantrópica
        Igual são as igrejas de todos credos?
        As terceirizadas, puxam os custos. E essas sim visam o lucro…
        Pode nao ser empresa nos moldes convencionais, mas há uma gestão pra fazê-la funcionar.

        1. Negativo. Igrejas

          Negativo. Igrejas tradicionais como a Catolica, a Presbiteriana, a Metodista, a Batista tem excelentes escolas e no geral NÃO tem fins lucrativos, o que não quer dizer que devam ter prejuizo. As mensalidades do Mackenzie, que é Presbiteriana, são muito módicas, a PUC não é cara pela qualidade dos professores. O espirito dessas escolas NÃO é ter lucro, o Mackenzie tem mais de cem anos, estudei lá, minha mãe tambem estudou lá, o foco é o ensino, que pode ter falhas mas não tem de modo algum o modelo de um escola para “ganhar dinheiro” mesmo porque não tem donos.

           

      3. tem essa também

        Em Inglês:

        http://www.bostonglobe.com/metro/2014/12/10/harvard-medical-school-students-stage-die-protest-ferguson-nyc-cases/WeW5pefmWzbTTpgJwVk1KJ/story.html

        Estudantes da Escola de Medicina de Harvard protestam contra o assassianto de um negro pela polícia em Ferguson. Eles queriam interromper a aula, mas o professor ao invés de chamar a policia, adiou o inicio das aulas e se juntou ao protesto.

        Realmente, em aluguns momentos os EUA parece ser mais progressita que o Brasil….

  4. Por que os coxinhas não pedem

    Por que os coxinhas não pedem o impeachment do reitor ?

    Ou quem sabe uma intervenção militar na PUC.

    O público é o mesmo que foram às ruas no dia 15

    1. A PUC não é feita só de

      A PUC não é feita só de coxinhas. E com certeza não foram os coxinhas que elaboraram ou apoiaram esse manifesto.

      Aliás, me arrisco a dizer que a PUC é mais de esquerda que a USP.

  5. Normal & “Recuerdos”

      São históricas as “invasões da reitoria ” na PUC-SP , no inicio da década de 80, praticamente a cada semestre acontecia uma, era só subir a anuidade que os sofás de couro da reitoria viravam acampamento, claro que, pelo que me lembro, nunca quebramos nada, nem o pessoal da CS ou da finada “Libelu” ( os orfãos de Ramon Mercader ) era agressivo, tambem algumas vezes as “invasões” foram negociadas com a Dra. Nadir e com o Pe. Edenio.

       Ainda bem que estes jovens estão tomando alguma atitude, faz até parte da formação deles, pois deixar as coisas do jeito que estão, se arrastando a anos, na PUC-SP ( ou o Condominio Educacional Bancário Bradesco – Santander ), com demissões injustificadas ( tenho um amigo que foi demitido – “aposentado “- após mais de 30 anos, e recontratado com bases absurdas, tendo que dar aula em 3 locais diferentes de São Paulo , ganhamdo a metade por h/aula, e conheçi outros na mesma situação ).

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