A pesquisa em Física no Brasil

Por Bruno Moraes

Gostaria de contemporizar com relaçao a dois comentários acima sobre a qualidade dos doutores formados. Sou recém-doutor pela Universidade de Montpellier 2 na França, em Física Teórica (mais especificamente Cosmologia), e acabei de receber uma bolsa de pós-doutorado da FAPERJ para trabalhar pelos próximos 5 anos. Falarei especificamente de Física, pois é a área que conheço melhor.

Acredito que de fato o nível atual da pesquisa em Física no Brasil ainda é inferior ao da pesquisa praticada nos Estados Unidos e em alguns lugares da Europa. Porém, nao acho que isso seja um problema tao grave. Razoes:

1) A pesquisa no Brasil é MUITO recente. 40 anos nao é nada. Na École Polytechnique de Paris, onde estudei, trabalharam Ampère, Poisson, Becquerel e muitos outros. Um dos estudantes mais ilustres foi Poincaré. Todos sao GÊNIOS da ciência, e a pesquisa científica na França existe desde os 1700 e mesmo antes. Nos Estados Unidos, embora menos institucionalizada inicialmente, podemos citar Benjamin Franklin (século 18). Deste ponto de vista, a pesquisa no Brasil ainda nao amadureceu.

22222) Por ser uma pesquisa nova e um país distante geograficamente e (ainda) periférico, atraímos poucos cérebros, e até pouco tempo atrás, perdíamos cientistas brasileiros. Isso está mudando, e vem mudando desde quando estive na faculdade (início dos 2000). A diferença de qualidade (e sobretudo de nível de exigência) entre alguns dos cursos ministrados por professores mais antigos e outros por professores mais novos, com experiência educacional no exterior era gritante (mas isso é um indicador relativo, nao era sempre assim).

Em resumo, acredito que a qualidade tem melhorado bastante, e isto também porque os professores estao menos sobrecarregados (a situaçao no fim da era FHC era periclitante). Creio que três pontos sao fundamentais par o futuro:

1) A manutençao dos investimentos na formaçao de mestres, doutores e pós-doutores, verba para projetos e para convites a professores estrangeiros, para a organizaçao de conferências internacionais e para o financiamento de colaboraçoes internacionais (como por exemplo o DES-Brazil: www.des-brazil.org). Estamos no caminho certo, e creio que nao dá pra achar que já se fez o suficiente e parar. Sem dinheiro, nao se faz nada no mundo, e pesquisa nao é exceçao.

2) A melhora do nível da educaçao fundamental. Pra formar bons pesquisadores, é preciso formar estudantes que entrem nas faculdades preparados. Cobrar desempenho forte dos alunos durante a faculdade é cruel se estes vêm de um ensino médio precário. Para melhorar o nível da pesquisa, é preciso melhorar o nível da educaçao como um todo.

3) Falta a o setor privado investir fortemente no setor de pesquisa e desenvolvimento e interagir com as faculdades de maneira mais completa. Alguns amigos de perfil completamente acadêmico foram trabalhar em empresas. Uma, por exemplo, trabalhou em pesquisas sobre elasticidade da pele no depertamento de pesquisa e desenvolvimento da L’Oréal, na França. Por que só 3,78% dos doutores estao em empresas privadas no Brasil?

Bom, este é o meu ponto de vista em funçao da minha experiência na área. Espero ter contribuído para a discussao.

Abraços,

Bruno 

Luis Nassif

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