O Twitcam no Brasil

Twitcam: a emissora individual tem 81% do tráfego no Brasil.

Da Folha.com

Brasil é responsável por 81% dos acessos ao Twitcam

RAFAEL CAPANEMA
DE SÃO PAULO

O Brasil é responsável por 81% dos acessos ao Twitcam, site que permite aos usuários do Twitter transmitir imagens ao vivo a partir de uma webcam.

O dado, obtido com exclusividade pela Folha, é da empresa americana Livestream, que mantém o site.

Lançado há pouco mais de um ano, em julho de 2009, o Twitcam recebeu no mês passado 4,5 milhões de visitantes únicos e foi palco de duas polêmicas recentes no Brasil.

No início do mês, seis jogadores do Santos bateram boca com torcedores no Twitcam. O episódio fez com que o clube criasse regras para disciplinar o uso da internet por seus jogadores.

NoouNo outro caso, mais grave, um garoto de 16 anos e uma menina de 14 se masturbaram ao vivo diante de mais de 26 mil espectadores no fim de julho. A Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos de Porto Alegre está investigando usuários que baixaram o vídeo.

Max Haot, executivo-chefe da Livestream, falou à Folha sobre a criação do site e sobre o sucesso no Brasil. Leia trechos da entrevista.

*

Folha – Desde o lançamento do Twitcam, em julho de 2009, o que mudou?
Max Haot – Surpreendentemente, até agora não fizemos nenhuma grande atualização desde o lançamento. É uma prova da qualidade do design do produto e de sua simplicidade.
Lançamos o Twitcam e tivemos uma ideia muito boa do que ele precisava fazer a partir da nossa experiência com o serviço Livestream.
Um dos maiores princípios do design do produto é mantê-lo extremamente simples e permitir que qualquer um fique ao vivo no Twitter com dois cliques. Dizemos nos EUA: “Se não está quebrado, não conserte!”

Segundo a Livestream, o Twitcam passou de conceito para lançamento em menos de uma semana. Como isso foi possível?
O Twitcam foi construído a partir da API (interface de programação do site) da plataforma Livestream, que proporciona toda a infraestrutura para permitir transmissões ao vivo em escala. Como pudemos aproveitar nossa plataforma e nossa API, nós de fato construímos e lançamos o Twitcam em exatamente uma semana.

Max Haot, executivo-chefe da Livestream, empresa dos Estados Unidos responsável pelo site Twitcam

O Brasil está entre os países que mais usam o Twitcam?
O Twitcam cresceu viralmente no Brasil. O Brasil detém atualmente 81% do tráfego do Twitcam. Em segundo lugar está o Chile, com 6%, e em terceiro, o México, com 3,3%. Os EUA representam apenas 2%!

A Livestream ganha dinheiro com o Twitcam?
O Twitcam foi criado mais como um projeto secundário para demonstrar o poder da nossa API e criar uma marca para o público do Twitter.
Nós realmente não esperávamos que ele explodisse como ocorreu nos últimos meses. Hoje nós o monetizamos com anúncios de redes baseadas nos EUA que aparecem antes das exibições ou sobrepostos às imagens.
Estamos procurando parceiros ou marcas no Brasil que possam estar interessados em anunciar seus produtos nesse enorme inventário de publicidade em vídeo.

Vocês souberam da polêmica que envolveu jogadores do Santos? Que conselho dá às celebridades que usam o Twitcam?
Nós soubemos disso. Ficamos felizes em ajudar as celebridades brasileiras a chegar diretamente a seus fãs no Twitter. O contato direto com os fãs é uma tendência das redes sociais, e não há nada melhor do que vídeo para fazer isso. Como em qualquer meio, nós e todos os nossos usuários, incluindo celebridades, temos que aprender com nossos erros.

Os termos de uso do Livestream proíbem obscenidade e pornografia, mas há casos desse tipo de uso no Twitcam. O que a empresa faz para conter essas transmissões?
Esse é um problema muito sério para nós. Estamos considerando aplicar algumas das técnicas que desenvolvemos no serviço principal do Livestream para verificar e aprovar contas [no Twitcam].

Há planos de adicionar novos recursos e tornar o serviço mais sofisticado?
Nós podemos acrescentar recursos e aprimorar a experiência, traduzi-lo para português etc. Mas certamente o manteremos simples como ele é agora.

Twitcam: pode cada computador ser uma emissora?

ADRIANA BRAGA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Desejos bizarros, egolatria e aberrações de todo tipo podem ser observados em todas as instâncias sociais ou históricas.

O ambiente social e comunicacional fornecido pela internet possibilita que uma infinidade de pessoas tenha acesso ao processo de produção das mídias, até então em poder de muito poucos.

O resultado é que, a partir de interesses diversos, indivíduos, grupos e corporações se apropriam e utilizam essas tecnologias de modo também diverso.

Jovens costumam ser pioneiros na exploração de novos territórios. No caso do manuseio tecnológico, esse segmento da população ganhou um lugar simbólico valorizado na medida em que dominam melhor as linguagens do computador em relação às gerações anteriores.

Ali, os/as jovens são os donos do pedaço, e sabem disso. Encorajados/as pelo reconhecimento social e pela própria habilidade técnica nesse domínio, experimentam a novidade com mais liberdade, fazem de cada nova ferramenta disponível um laboratório experimental.

A quantidade, aparentemente excessiva, de conteúdos produzidos com teor sexual ou banal por participantes do ambiente do Twitcam reflete, em primeiro lugar, uma relação histórica que as sociedades têm com a banalidade, com o grotesco.

As pessoas têm um fascínio enorme por esses conteúdos, desde a Idade Antiga, e acredito que desde sempre.

Outro fator que deve ser levado em conta é o próprio deslocamento da questão sexual testemunhada nas últimas décadas. Essa nova geração tem outra relação com o sexo, mais lúdica, banal e relativamente livre de tabus.

O sexo parece hoje mais descomprometido com um estatuto moral, e mais ligado à experiência e à trajetória de cada um, enquadrado em uma lógica individualista, na qual direitos e diferenças são assegurados.

Entretanto, mesmo que o tópico sexo chame muita atenção, como foco de preocupação inclusive, dando a impressão de ser preponderante nessa nova mídia, é possível observar usos diversos do Twitcam, mesmo nesse momento inicial.

Felipe Melo, por exemplo, apontado como culpado da desclassificação da seleção brasileira na Copa 2010, usou o Twitcam para fazer seu desabafo; artistas anônimos usam para fazer performances ao vivo, e com isso capitalizar audiência etc.

Ou seja, espaços como esses são locais privilegiados para a expressão individual, seja ela neurótica, sexual, criminosa, comercial ou humanista.

O fato é que algumas estruturas surgem e rapidamente desaparecem na internet enquanto outras se estabelecem solidamente, como no caso dos blogs.

As pessoas utilizam tais recursos de modo nem sempre confluente com os usos previstos por fabricantes e criadores/as.

A possibilidade tecnológica aberta pelo Twitcam é fantástica e revolucionária, na medida em que radicaliza a quebra de monopólio dos polos produtores centralizados, oferecendo recursos para que cada computador pessoal ligado à internet do planeta se transforme em um local de veiculação de manifestações expressivas, estéticas, políticas, identitárias, jornalísticas e publicitárias.

Entretanto, para além das possibilidades oferecidas, são os usos concretos dessa tecnologia – combinados com a legislação que está por vir – que darão sua feição futura.

ADRIANA BRAGA é psicóloga, doutora em Ciências da Comunicação. Professora do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio e pesquisadora do CNPQ. Autora dos livros “Personas Materno-Eletrônicas: feminilidade e interação no blog Mothern” (Sulina, 2008) e “Comunicação Mediada por Computador, Identidades e Género” (Portugal, UBI, 2005), além de diversos artigos científicos. 

Luis Nassif

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