A relação entre mérito, renda e realidade social

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Por Róber Iturriet Avila, Luís Felipe Gomes Larratea, Antônio Tedesco Giulian

A crença de que o padrão de vida pessoal é um resultado do esforço, da dedicação e do talento é bastante difundida e bem aceita. No microcosmo de cada segmento social, é fácil apontar aqueles que atingiram bons resultados a partir da dedicação e os que não trilharam esse caminho. Esse julgamento de valor é, entretanto, enganoso. Enganoso porque tal análise parte do pressuposto de que todos estão em igualdade de concorrência, que nascemos e crescemos em condições análogas de capital (material, político, cultural, etc). Enganoso porque dedicação por si só não resulta fatalmente em ganho material ou simbólico, tampouco existe a correlação entre o binômio dedicação-ascensão.

A renda e o padrão de vida estão mais para resultados sociais do que individuais. A comparação entre países elucida essa questão. Em Londres, uma diarista cobra, aproximadamente, £ 12,00 por hora (R$ 43,80) por os seus serviços.  Caso trabalhe 40 horas por semana, ao final do mês, receberá R$ 7.000,00. É autoevidente que uma faxina em Londres não requer dez vezes mais talento, mérito, esforço ou conhecimento do que no Brasil. O que explica então a diferença da remuneração do trabalho de limpeza entre esses países? Muitos fatores explicam. Entre eles podemos citar o reconhecimento, nesse caso específico, do trabalho de cunho doméstico, historicamente aviltado e relegado ao âmbito privado, sob responsabilidade feminina. Dessa forma, a melhor remuneração do trabalho doméstico no país citado se dá antes pelo reconhecimento da trabalhadora/trabalhador doméstica/o (que perpassa questões de gênero em seu cerne) do que pelo poderio meramente econômico do país. Há uma parcela de explicação nos valores comuns aceitos, os quais, em grande medida, estabelecem os salários.

 Por outro lado, o PIB per capita do Reino Unido foi, em 2013, de US$ 39.567,00. No Brasil, US$ 11.347,00.  Ou seja, o nível de desenvolvimento de lá é superior. As diferenças salariais são bastante explicadas pelo padrão médio. Nesse sentido, a remuneração e o acesso a bens é fortemente social e não apenas individual. A pobreza na Somália não é um resultado da preguiça, da vagabundagem, da corrupção e da incapacidade dos políticos, e sim um reflexo do PIB per capita de US$ 128,00 anuais.

O mesmo raciocínio é válido para o padrão de serviços públicos (saúde, educação, logística…). Eles emitem o resultado social e não dizem acerca da qualidade dos políticos e dos gestores públicos. Com a renda per capita atual, cada brasileiro contribui em média com R$ 787,00 em impostos por mês, a despeito da carga tributária ser de 35%. Na Noruega, com renda per capita de US$ 100.818,00 e carga tributária de 44%, cada cidadão contribui, em média, com R$ 8.800,00 mensais ao Estado. Ou seja, 11 vezes mais do que o brasileiro. Assim, é absolutamente lógico e racional que seus serviços públicos sejam onze vezes melhor do que os nossos. É um resultado do desenvolvimento social de lá.

A meritocracia é bem aceita como parâmetro de sucesso.  A percepção do mérito, porém, comumente, não considera a riqueza familiar, as condições sociais iniciais, os preconceitos e erros históricos que as sociedades carregam. O trabalho de Thomas Piketty, no livro o Capital no Século XXI, mostra, a partir de uma pesquisa com dados desde 1700, que a sociedade “meritocrática” não permite que figure o topo quem não é herdeiro de uma fortuna. No mundo contemporâneo, o conhecimento e a titulação consentem ao indivíduo um rendimento 10 vezes superior à média. E aos perdedores, a dominação é justificada a partir da justiça, da virtude, do mérito e da baixa produtividade a quem está na base da pirâmide social. Piketty mostra que os filhos de ricos, entretanto, possuem um padrão de vida superior aos “mais talentosos” (?) trabalhadores. Se há algum mérito que justifique a renda desses senhores, os filhos dos ricos, é o mérito de serem herdeiros. Eles herdam bens e empresas sem esforço algum. Possuem acesso aos melhores centros de educação e, geralmente, possuem mais tempo para desenvolver capacidades. Isso não é meritocrático.

O mérito de nascer em uma família rica, em que o patrimônio e o rendimento mensal, frutos desses, perpetuam ainda mais a concentração, desmistifica o “esforço” de conquistar diplomas e administrar grandes empresas. Após comparar várias fontes de dados, os estudos de Piketty conseguiram estimar uma possível renda anual dos pais dos estudantes de Harvard. Esta conta gira em torno de US$ 450.000,00. Essas constatações colocam dúvida sobre a seleção da universidade com base única no mérito.

Relegar apenas a si a responsabilidade de sua remuneração e estigmatizar o fracasso como ausência de mérito é desconhecimento das regras que pautam as dinâmicas sociais contemporâneas. 

Róber Iturriet Avila é pesquisador, doutor em economia e professor da Unisinos. Luís Felipe Gomes Larratea e Antônio Tedesco Giulian colaboram com Róber.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

41 Comentários

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  1. Como falar…

    Como falar de meritocracia quando se passa fome? Ou quando se tem que trabalhar E estudar ao mesmo tempo?

    Sem contar as redes sociais dos ricos, que se conhecem por festas, eventos sociais, fazem um “networking” que os ajuda a conseguir melhores empregos e oportunidades, sempre.

    Compare com festa de “pobre”.

    Fale em meritocracia quando filho de rico tiver que estudar na mesma escola do filho do pobre, comer a mesma comida, nao possa usar celular de ultima geração durante a aula.

    1. Eu trabalhei e estudei ao

      Eu trabalhei e estudei ao mesmo tempo, qual o problema? O Delfim tambem, milhões de brasileiros tambem, as escolas no Brasil sempre tiveram cursos noturnos e os que faziam esses cursos trabalhavam de dia e o que tem de errado?

  2. Meritocracia é estudar em boa

    Meritocracia é estudar em boa escola particular e fazer cursinhos caros e ter avó que pague as despesas para um intercâmbio

    1. Todo mérito é relativo,

      Todo mérito é relativo, Assis.

      E no caso de dois irmaos gemeos, ambos com cursinhos caros pagos pela avó, um  passa em um vestibular díficil e o outro não e não consegue entrar em faculdade, acha que o que passou não tem mais mérito que o segundo ? Ou ele estudou mais ou tinha mais facilidade, de qualquer forma, mérito dele.

      Eu estudei em escola particular. Na minha turma de terceiro colegial, a maioria sempre estudou lá e pouquissímos passaram em bons vestibulares, mesmo sendo entre as melhores escolas da cidade. Quem passou não tem, neste quesito, mais méritos do que quem não passou ?

      Nâo podemos chegar aos extremos. Todo esforço traz recompensas e é sempre meritório. Dai não podemos deduzir que o Estado deva tirar benefícios das pessoas para que se “tornem mais meritórias”.

       

  3. Texto  muito bom e entral

    Texto  muito bom e entral para o rol daqueles desmistificando a ideia de merito. O mais engracado foi um causo que escutei esses dia. Estudante de medicina foi para os EUA pelo Ciencias sem Fronteiras, filho de empregada domestica, etc. Estava descendo a malha na Dilma. Em certo momento perguntaram a ele sobre a sua situacao atual com o CsF. A resposta foi: “eu cheguei aqui por merito, nao devo nada aquele vaca da Dilma”.

    O tempo passo e vemos que nao sao soh os politicos que sao detestaveis…

  4. No popular: “quem não rouba

    No popular: “quem não rouba ou não herda vive na m…”

    No caso das elites brasileiras as duas coisas andam bem juntas. Sonegação, corrupção, superfaturamento, fraudes a todo tipo de regulamento, inclusive trabalhistas… E por aí vai.

    Faltou acrescentar que dos impostos que cada cidadão bbrasileiro paga – e que os crédulos passaram a acreditar que não retornam em serviços por causa exclusiva da corrupçao – boa parte são desviados para o pagamento de juros. Quase a metade do orçamento, orçamento federal é pra isso. A outra metade é que vai ser rateada para as outras despesas… Essa é uma das maiores maquinas de trasnferência de renda (pra cima) já montadas na face do oeste. Até o Levy Fidelix sabe disso.

    Ou seja esse discurso do mérito não passa de ideologia para justifiicar certas coisas. Individualmente os sujeitos pprecisam, claro, se apegar a algo que justifiique suas existências individuais; mas pra isso não é necessário negar a dimensão coletiva da vida. Isso, sim, é ideologia no sentido purinho do termo. Sem contar a exigência de certos habitus em relação a quem começa a obter algum sucesso econômico-social. Exige-se do sujeito o comportamento que consideram correspondente; se não ficam satisfeitos com os “modos” fazem de tudo pra derrubar; pra fazer voltar pro “lugar de onde veio”.

    Enfim, o papel da ideologia (no sentido de ideias e crenças) foi precipitadamente negligenciado na pesquisa social ao londgo das últimas décadas; inclusive pela velha e boa análise materialista (digo isso com a tranquilidade de quem nunca foi “marxista”). Eu até incluo isso entre os fatores que levaram ao avanço do ideário reacioonário nos últimos tempos. Na base está a crença de que as condiçoes materiais de existência ffalam por si. A realidade não fala; ela precisa ser compreendida, explicitada e comunicada. E isso não tem nada a ver com ciência engajada políticamente. É essa confusao que fez se tornar tabú o debate sobre desigualdade no Brasil. Qualquer palavra sobre o assunto e “ahh, isso é coisa de comunista”, dizia algum “sábio”.

    Quanto mais se fala em desigualdade no atlantico norte mais essas discussões respingam por aqui pelo Brasil. Que sejam bem vindas.

     

     

     

  5. A classe média brasileira

    Está cheia deste pensamento cruel. “agora existe o ProUni, não estuda quem nao quer”.  Escutei isso e quase virei a mesa na cabeça de um familiar. ai ai.

  6. Só Rawls explica…
    Não

    Só Rawls explica…

    Não adianta somente nos preocuparmos com a igualdade de oportundiades, temos que também nos preocuparmos com a igualdade na repartição dos benefícios. Só o esforço individual não é bastante para obtermos os benefícios oferecidos pela sociedade atual, e sim de termos a felicidade (sorte mesmo) de nascer em berço explêndido ou com um Q.I. superior a média.

    Em seu livro “Uma teoria da justiça”, John Rawls, buscando definir os princípios básicios que deveriam reger as instituições numa sociedade justa, propõe dois: 1- respeito a liberdade individual e 2- a igualdade democrática e o princípio da diferença (só serão permitidas as desigualdades sociais e econômicas que visem ao benefício dos membros menos favorecidos da sociedade).

    Podemos apontar quatro teorias diferentes de justiça:

    1. Sistema feudal ou de castas: hierarquia fixa estabelecida em função do nascimento.

    2. Libertária: livre mercado com igualdade de oportunidades formal.

    3. Meritocrática: livre mercado com igualdade de oportunidades justas.

    4. Igualitária: princípio da diferença de Rawls (igualdade de benefícios).

    Ralws argumenta que as três primeiras teorias baseiam a distribuição de justiça em fatores arbitrários do ponto de vista moral – seja por nascimento, seja por um melhor posicionamento social e econômico, seja por aptidões e habilidade naturais.

    Como igualmente posto no artigo, os ganhos sociais não estão diretamente vinculados ao esforço individual, pois se, mesmo dando igualdade de oportunidades a todos, por exemplo, numa largada de uma corrida, os ganhadores já são conhecidos antes mesmo de começar, os melhores corredores. Não adianta o mais ‘fraco’ se esforçar, pois não terá chances naturais de ganhar a corrida.

    Para corrigir essa distorçao é que Rawls propõe o princípio da diferença, só permitir desigualdades para beneficiar os menos favorecidos. Isso porque a preocupação de Ralws não é somente na igualdade de oportunidades, mas também na igualdade de benefícios. Que espécie de justiça é essa que somente oferece igualdade de oportunidades e não garante igualdade de resultados?

    Para maiores estudos, tem uma série de aulas do professor Michel Sandel, de Harvad, no curso “Justice”, disponibilzadas no youtube, como esta aqui explicando a teoria de Ralws e outras mais:

    http://youtu.be/0ROt8RHGaMI

    1. E essa agenda está posta

      E essa agenda está posta desde a década de 70, mas os chiques daqui até hoje a ignoram. Ignoram mesmo; do tipo não sei do que se trata mas deve ser alguma coisa de comunista, stalinista, fidel, cuba, etc.

      Mas não tem problema, ela é inevitável. Aqueles que acham que derrubando um governo ou partido; ou mentindo, censurando e distorcendo a realidade vão conseguir cegar a população pras injustiças estão muito, mas muito enganados mesmo. Podem ganhhar algum tempo, mas sossego não terão.

  7. Que texto pobre e

    Que texto pobre e ideologizado ao extremo. O sucesso na vida vem de um conjunto de fatores e não de um só, vem de esforço individual, condições de berço, um pouco de sorte, uma visão de mundo, comportamento, determinação.

    O CEO da grande empresa de equipamentos finlandesa WARSTILA, no Brasil, é um exemplo claro disso. Rapaz afro descendente, ficou orfão de mãe aos 8 anos, o pai casou com outra, foi criado pela avó, sabe-la lá com que dificuldades,

    começou a trabalhar cedo, estudou a noite, as condições de partida as mais negativas possiveis. Chegou à presidencia da empresa por seu proprio esforço.

    Conheço incontaveis casos desse tipo, de esforço individual com condições de inicio dificilimas e que chegaram ao topo.

    Atrevo-me a dizer que a maior parte dos presidentes de multinacionais no Brasil são de origem bem humilde.

    Tambem conheço n casos de condições de inicio exuberantes, grande herança , que acabaram mal.

    A vida é muito mais complexa do que esse mediocre artigo de um marxismo tardio e insuficiente.

      1. Meu caro Assi, estudei nas

        Meu caro Assi, estudei nas duas, no Grupo Escolar Miss Brownie no Brooklin em São Paulo, no Ginasio Estadual  Alberto Conte em Santo Amaro, São Paulo,  era muito dificil, não consegui passar de ano e fui jubilado, tive que ir para escola particular bem fraca, nunca fui grande aluno. No meu tempo de estudante  boa era escola publica, onde só estudavam os otimos alunos porque era muito mais dificil e exigente do que a escola particular, hoje a coisa mudou.

        1.  
          A Escola Publica era tao

           

          A Escola Publica era tao boa assim no passado Motta? Pergunto isso porque escuto a mesma coisa do meu sogro. Mas eu replico se ela era universal. Bem, o silencio respondeu por ele.

          1. Depende. A escola primaria

            Depende. A escola primaria era acessivel a todos, a partir dai não era tão universal como sempre foi nos EUA, onde praticamente não existe pessoa sem o 2º ciclo (high school) mas dai para a frente cai a universalização, no meu tempo de faculdade era muito menor que hoje, em SP havia tres escolas de direito e duas de medicina, o acesso era dificil e dependia de vestibular apertado e para este precisava cursinho. Do lado positivo  saiam profissionais de muito mair competencia e nivel que hoje, do lado negativo é que era acessivel a poucos.

            Mas a universalização extensiva demais do ensino superior é um erro, a meu ver, está saindo gente muito mal formada que acredita que basta um diploma para vencer na vida. O pais não precisa de tantos diplomados precarios, não servem para nada e nem para eles mesmos,  o gasto de uma faculdade não vai adiantar muito na vida. É preciso sim um funil, um meio termo, o Brasil tem 1.308 faculdades de Direito, a Europa inteira tem 180 e os EUA tem 104, estamos brincando de ensino, formando semi-letrados com diploma bonito, é um engodo geral.

        2. AA sua resposta lhe trai e é o que o texto aborda

          Escola pública era excelente e aberta para todos.

          Isso, meu caro, é igualdade de condições.

          Enfraqueceram (você sabe qual governo?) a escola pública para criar a peneira dos meritocráticos com dinheiro para pagar escolas particulares e cursinhos caríssimos.]

          Entendeu?

           

          1. Escola pública era boa mas

            Escola pública era boa mas não era aberta para todos, muitos não estudavam.

            Hoje a educação é universalizada o que, naturalmente fez com que a qualidade abaixasse., com o aumento enorne de oferta, não se conseguiu manter a qualidade, pois seriam necessários muito mais recursos financeiros.

            Desconfio que a “escola de tempo integral ” que  a Marina e também a Dilma propoem, só aprofunda essa questão. Aumenta a oferta e haveria tendência de maior perda de qualidade. Ora, para dobrar o turno teria que dobrar os recursos, no mínimo com pessoal alem de construir várias outras escolas, algo evidentemente inviável para o momento atual.

    1. Esse deve ser 1% dos casos:
      Esse deve ser 1% dos casos: De uma pessoa que nasceu pobre e chegou a um cargo de presidência/diretoria.

      Supondo que todas as pessoas seguissem o mesmo exemplo – o que agradaria os defensores da meritocracia – teríamos um mundo formado por executivos? Essa lógica não fecha!

      Sobre ‘vencer na vida’ cito Raul em Ouro de tolo:

      ” … Eu acho isso uma grande piada e um tanto quanto perigosa …”

    2. Rsrs Motta, eu senti certo

      Rsrs

       

      Motta, eu senti certo raiva no seu comentario.

      Vejam soh como sao as coisas. Ao inves de buscar com dados contra argumentar vc parte para a ideologia pura e barata. O que o autor diz nao tem nada de absurdo, ou o senhor tambem acha que todos tem oportunidades iguais? Ou melhor, alguns tiveram a chance de escolher nascer em berco de ouro e outros nao?

      Usar os termos “marxista”, “medicore”, etc, soh mostra que a carapuca deve ter servido, soh pode.

      Vem com exemplos que soh servem para comprovar a regra e acha que sao suficientes para colocar panos quentes nessa ferida que incomoda tanto os mais abastados desse Brasil. A discussao sobre merito eh sempre boa para mim uma vez que ajuda a exteriorizar certas sandices como o senhor Motta fez agora.

      1. Meu caro, não tem raiva

        Meu caro, não tem raiva alguma em jogo, o texto é uma TESE que é falsa. Na economia global convivem empresas herdadas, cada vez menos e empresas formadas por novos empresarios, a maioria dos quais de origem pobre.

        Assim é em todo o mundo, até na Europa, onde a riqueza é mais antiga. A economia é muito dinamica e recicla tudo, se vc pegar a lista das 500 maiores empresas brasileiras em 1973, da revista Conjuntura Economica, dois terços dessas empresas não existem mais. Eu compus uma lista de 500 familias industriais de São Paulo que tiveram fabricas importantes e cujas empresas desapareceram, vou usar em um futuro livro, a mais emblematica a Matarazzo, um imperio que chegou a ter 300 fabricas em 1914,  ficaram dois majestosos edificios da familia que foi simbolo de São Paulo, o Predio sede das empresas onde é hoje a Prefeitura de São Paulo e o Palacio dos Bandeirantes, que é hoje sede do Governo do Estado de São Paulo, dois predios Matarazzo para testemunhar a importancia da familia, cujo faturamento era o dobro da arrecadação do Estado de São Paulo. Nomes simbolos de riqueza e poder desapareceram da cena empresarial brasileira, Henrique Lage, os Crespi, os Jafet, os Calfat, os Guilherme da Silveira, isso é a reciclagem da riqueza, muda de mãos, o que contraria COMPLETAMENTE a tese do post acima.

        O que se herda e não se perde é a educação no seu sentido mais amplo, a cultura, as boas maneiras, a postura, a linguagem, o conhecimento dos códigos do poder e da sociedade, muitos que perderam a fortuna se recuperam porque mantem o conhecimento desses códigos e as conexões sociais.

        1.  O fato da riqueza mudar de

           

          O fato da riqueza mudar de maos nao contraria de forma alguma o Post. O texto fala sobre a balela da meritocracia usada por pessoas que sempre estiveram na diateira, seja por meio de grana ou de “simbolos de poder” como voce citou. A questao eh, partindo do zero (sem grana e sem a tal linguagem do poder que vc cita), elas conseguiriam manter a dianteira?

          Note que nao se trata de reciclagem de riqueza, a riqueza pode reciclar, mas nao sai do circulo seleto de maos que jah tem o conhecimento dos codigos do poder. A questao eh a raia caro Motta, a rai de onde se pula para comecar a nada.

          Nao ha de se falar em merito em uma pessoa que jah tem todas as condicoes previas de se tornar bem sucedido. Nesse caso o esforco eh bem menor, ou vc duvida disso? Mesmo o rapaz cuja famila perdeu suas economias  estah na fente por ter recebido os codigos de poder a tempo, logo, jah pula na agua a partir da metade da piscina.

           

          PS: quando o livro serah lancado?

          1. Meu caro, na aniga União

            Meu caro, na aniga União Sovietica, no apoogeu do comunismo, que visava acabar com a desigualdade, nem todos os operarios e camponeses poderiam ser Embaixador da URSS em Londres, um só podia, esse um era o mais capaz, o mais refinado, o mais culto possivel, no caso Ivan Maisky, de classe superior polonesa russificada, assim como aristocratas eram Giorgi Chicherin, o primeiro Chanceler do regime sovietico , o Ministerio do Exterior em Moscou  era habitado pela ex-nobreza imperial, porque eram os mais bem treinados e preparados para serem diplomatas, Stalin não iria mandar um boçal para representar a URSS perante a Corte de St.James. ISSO É DA NATUREZA HUMANA, não é do capitalismo,

            a maioria da humanidade é constituida de broncos e toscos, os melhores são uma reduzida percentagem, esses serão a elite aqui ou no Vietnam, sempre foi e será assim, faz parte da trajetoria da humanidade, nem todos podem ser Ministros e banqueiros.

          2. Concordo com vc que nem todos

            Concordo com vc que nem todos podem ser ministros ou banqueiros, mas o que se coloca eh o que se conveciona como merito. Atualmente, ser “o melhor” eh ter grana e dispor dos tais codigos do poder como vc citou”. Se isso eh da natureza humana? Tambem estou de acordo, mas dizer que isso nao tem relacao com o modelo em vogo eh forcar a barra. Mas no geral, acho que entendo o que quer dizer.

             

             

    3. Sua comparação é pobre

      Comparar casos que você conhece no seu meio individual – limitados ao espaço e ao seu tempo – com pesquisas feitas em nível internacional com dados históricos não tem mérito algum, desculpe-me, mas você carece de capacidade de abstração.

      1. “”Pesquisas feitas em nivel

        “”Pesquisas feitas em nivel internacional” tem para todos os gostos, com as pesquisas fundamenta-se a tese que se quer, o marxismo é uma tese, para alguns cientifica e comprovada, prefiro ficar na minha longa experiencia de vida, comecei no banco do Brasil, fui dirigente de empresas privadas brasileiras das pioneiras da industrialização, de emprsas multinacionais de grande porte, de empresas estatais, tenho apenas uma vivencia bem extensa e dai posso extrair minha visão de mundo, não dependo de “pesquisas internacionais”” que em sociologia e economia podem e são EXTREMAMENTE enviesadas, formuala-se uma tese e a partir dela se faz uma pesquisa para comprovar a tese e isso se faz há muito tempo PORQUE SEMPRE HÁ CREDULOS para quem uma tese em ciencias humanas é CERTA PORQUE É CIENTIFICA e baseada em pesquisas, há sempre novas gerações de crentes para qualquer estoria que se queira contar.

        1. Hahahahah! Há sempre papel e

          Hahahahah! Há sempre papel e tinta disponível pra qualquer salada de “histórinhas”, hahahah!

          Ai, ai, séculos de luzes pra tão pouca vontade de enxergar, hahaha.

          Pra quê ciência, afinal, voltemos à revelação, né? Hahahaha!

          Conte mais uma história, “meu caro”, hahahaha…

  8. numa sociedade notorimaente

    numa sociedade notorimaente patrimonialista, tipo neonliberal,

    o cara que faz sucesso é o  cara que já tem algum patrimonio.

    o  cara que tem mérito e não tem patrimonio

    continua tendo mérito mas sem muitos bens patrimoniais.

    óbvio.

    para mudar isso, é preciso mudar, transformar a sociedade

    para que ela beneficie os que produzem, não os que já tem

    tudo de mão beijada – benesses familiares e de classe!

  9. Quando nascemos estamos

    Quando nascemos estamos condenados a liberdade. Essa célebre frase de Sartre, dono de outra célebre que diz que o inferno são os outros, é vital para todos nós entendermos que, largados à  própria sorte da vida, não somos nada sem ajuda.

    Tornou-se comum ouvir as críticas das mais rasas em relação aos beneficiários do Bolsa-Família, das cotas raciais, entre outros auxílios oferecidos pelo atual Governo.

    A maioria dos críticos tem a crença na ideia que é preciso ensinar a pescar e não dar o peixe. Pessoas que em suas histórias de vida, apesar de muito diferentes, tem provavelmente um traço em comum, o sentimento de que venceram sozinhas ao infortúnio da liberdade depois do nascimento, ou que no mínimo estão batalhando por uma vida melhor.

    Certo de suas próprias forças, o homem feito ignora os obstáculos e alcança o horizonte de tranquilidade financeira depois de uma vida cheia de labutas. Tudo isso sem olhar para trás e notar os pontos de apoio da maratona que ele insiste em dizer que completou sozinho.

    Amigos, pais, parentes mais próximos, certos professores, Santos, Orixás, Deus, etc. Quantas coisas não passaram pelas nossas vidas dizendo: não desista, siga em frente? Ou mesmo, quantas pessoas não se sacrificaram para que pudéssemos ter dinheiro para a condução, comida, livros, viagens, enfim tudo?

    Mesmo histórias boas para a manutenção do pensamento da classe média sobre a aura do homem auto-feito, como por exemplo, o menino que trabalhou na roça durante toda a sua infância, e que pegou um livro para, a partir daí, ganhar o mundo, estão longe de terem como resultado um ser humano com independência de fatos favoráveis ocorridos. Isso não existe.

    Todo o apoio, seja ele financeiro, emocional, ou espiritual durante a nossa caminhada deve sim ser computado como ajuda. Ou vocês acham que não teve alguém que ajudou o garoto da roça ao pelo menos servir de espelho ?

    Sendo assim, por que ainda há pessoas que acreditam que se auto fizeram, e que por isso ninguém deveria receber o peixe? Podemos ser PhD em tudo, termos vindo da lata do lixo social, mas uma analise fria do passado é capaz de jogar por terra todo nosso orgulho adquirido, aquela sensação de que vencemos sozinhos.

    A sequencia de elogios durante a nossa caminhada é perigosa, ela nos leva a crer que de fato somos bons e nosso sucesso nada tem a ver com as forças que mantém, e mantiveram, a atmosfera favorável. Isso é uma falácia, pois sabemos que a tendência natural em uma vida ditada pelo ter para ser é sempre a infelicidade.

    Sabemos, por exemplo, que temos momentos em que queremos desistir. Então por que não associar o minúsculo benefício do BF, e das cotas, à essas atitudes que mantém a atmosfera favorável para a caminhada da vida dos beneficiários?

    O pretenso homem auto-feito tem a seguinte idéia na cabeça: eu não tive e venci sozinho. Pobre de espírito por achar que de fato foi independente de qualquer ajuda. Puro egoísmo.

    É nesse ambiente que o Brasil está fervendo. A todo  momento busca-se associar aos beneficiados por programas sociais do Governo que eles não tem competência para se auto fazer. A crença nessa independência dos fatos favorecedores ao longo da vida mostra que muitos de nós não olhamos para trás, não fazemos a reflexão necessária, talvez pelo medo maior de se constatar o quão idiotas fomos e continuamos sendo.

  10. Texto meio estranho.
    É

    Texto meio estranho.

    É evidente que existem inúmeras variáveis que vão determinar o “sucesso” ou não de uma pessoa.

    Mas é evidente que quem se esforçar mais, terá, no mínimo, um viés de alta no seu “sucesso”, digamos assim.

    Pensando somente na questão financeira, um exemplo: Na minha cidade há uma fábrica de calçados que ja foi a maior do Brasil nos anos 80 ou começo de 90, hoje estão quase quebrados. Os donos são de uma famiiia enorme, a maioria ainda é muito bem de vida, pelos bens adquiridos nas épocas de bonança, mas estão muito piores financeiramente do que estariam caso tivessem administrado a empresa com mais solidez. E mais, alguns que administraram melhor seus recursos, possuem muito mais bens do que quem administrou pior. Isso é evidente.

    O caso das familias donas da Sabia é a mesma coisa. Viviam da empersa, hoje alguns está mal por causa da quebra, outros, nem tanto.

    Ou seja, é claro que quem se esforça mais, consegue melhorar muito mais, isso em todos os campos da vida.

    1. Daniel, está na própria matéria

      Enganoso porque tal análise parte do pressuposto de que todos estão em igualdade de concorrência, que nascemos e crescemos em condições análogas de capital (material, político, cultural, etc).

  11. O fato de o mérito contar não

    O fato de o mérito contar não significa que todas as pessoas não devam ser providas por um mínimo necessário seja em educação, saúde ou mesmo ajudar financeira direta, como o bolsa família.

  12. E o nosso “case”?

    Caros colegas debatedores

    O artigo abordou um tema importante mas , em minha opinião, a abordagem foi ruim. Vou explicar porque. Vamos lá.

     

    Primeiro ponto:

    Em que pese o importante trabalho do Pikety  não há a MENOR necessidade de recorrermos  a ele para tratar do caso brasileiro. Aliás, o próprio  Pikety, como dizem por ai…, não conseguiu informações no Brasil. Ué, estranho não? Por que será hein..?

    Bom, deixa pra lá.

    Mas se ele não conseguiu informações do Brasil no Brasil então não pode tratar do brasil  – com aquela propriedade “cientifica” bastante adotada pelos “economistas” . Aquela de  que tudo mais está constante, exceto, o que se  demonstra neste gráfico e neste momento, diria um economista “científico”. 

    Acho que isso é inveja das ciências “duras”. rsrs

    Brincadeiras a parte, vamos ao que interessa.

    Só um estúpido mentecapto não percebe a BALELA que é este tal de MERITOCRACIA. Rebatizando-a: MERDORITROCRACIA.

    A merdoritocracia , evidentemente, só existe porque existe o direito de familial. Já disse isso aqui.

    Não precisamos ficar comparando PIB de um país com o outro, mormente, o per capta.

    Isso é papo FURADO de economista. Das duas uma: ou é desatento, ou é enviesado.

    Pib per capta no Brasil a preço de mercado ou a custo de fatores ou ao que quiser, só nos demonstra exatamente, O CONTRÁRIO do que propaga os economistas DESAVISADOS.

    Quanto mais um pib per capta CRESCE no Brasil mais podemos identificar o seu SUBDESENVOLVIMENTO.

    Afirmação forte essa não? Mas é a verdade. PIB per capta é MÉDIA. E média, já sabemos: Se você está com a cabeça no forno da siderúrgica e com os pés no ártico, então o seu corpo estarás na temperatura “média” ideal.  Eis uma das falácias da média.

    Conjugue este resultado com a distribuição de renda. É subir o pib per capta para ,institucionalmente, perceber que aquele rico “meritocrático” já se entupiu mais um pouco de “recursos”.

    Isso serve para a mediana, para a moda, para o desvio padrão, com ou sem graus de confiança, para as pesquisas eleitoreiras que , não raro,  pegam  OTÁRIOS e por ai vai.

    Matemática serve para a matemática e para as ciências ditas “duras”.

    Para a ciência social , vamos retirar o vocábulo ciência. Para a “observação” social, o sentir na pele, o DEVIR, o contexto de forças, a psicanálise, as condutas humanas, o papo é outro. “Tudo certo como dois e dois são cinco”…

    Portanto, a realidade entre mérito, renda e realidade social, sobretudo, esta, é multidisciplinar. E nessa estamos fritos. O vocábulo “mudança” significa  permanência. Ou não mudança. Enfim, parece que é mas não é. 

    Como diz o provérbio popular :não comparemos BANANA com LARANJA.

    Renda é renda. Realidade social é realidade social, mérito é mérito.

    Os três juntos, no braisil, só pode nos levar a sofismas!

    Vou encurtar a conversa:

    Não basta pregar o ABOLICIONISMO e decretar uma lei. Sobretudo, espiando os “indígenas” lá da Inglaterra.

    E o que vem depois? Sobrados e mucambos para manter a “ordem e o progresso” , baseando-se na “cordialidade do homem que , por sua vez, aceita uma “democracia entre opostos”, talvez inspirada Heráclito?

    Evidentemente, com a formatação burocrática , pra variar, IMPORTADA, de max weber, Comte, Saint simom e o príncipe Durkeim da vida?

    Ou vivemos no romantismo rousseauniano acreditando que nossos “bacharéis” de coimbra , iluminados, teriam, mesmo, de fato e de direito, fomentado aquele contrato social? Seria o contrato social caracu? Iguais = iguais ; muito desiguais= muito desiguais.  O advérbio de intensidade foi por minha conta.

    Essas baboseiras , também econômicas,  NÃO COLAM no Brasil. Colam para cooptar imbecis!

    A questão tributária brasileira foi abordada pelos autores acima  com uma ingenuidade tremenda. Não creio que sao tão ingênuos assim. Não é possível. Senão vejamos! Vejamos mesmo heim!

    Sem essa de ” o mesmo raciocínio econômico é usado aqui, ali e acolá. Balela. Papo furado.

    Somália é somália. Inglaterra é Inglaterra. Brasil é Brasil. Logo, não há falar em MESMO raciocínio para estes lugares.

    É evidente que o raciocínio deve ser outro. E o  bacharel em direito, que brincou com a “ciência”  econômica  Sr. Furtado já nos deu a dica. Não adianta substituir nada, muito menos, importações!

    Ai sim, se formos tratar de “importações” podemos até pensar em “MESMO RACIOCÍNIO”. Evidentemente, para MANTER O MESMO MODELO que, logicamente ( até eu que sou mais idiota) propagaria com a  fórmula de “liberdade”.

    Ora, “liberdade”, vai tomar no ….. ( em homenagem àqueles dos recente episódio)

    Queres  tratar de carga tributária então trate-a com meritocracia. Aqui caberia o vocábulo. rsrs

    Tratá-la de forma genérica usando a expressão “carga tributária de x%” não ajuda a esclarecer quase nada.

    Mas se você começa a tratar de propriedade privada e pública ai o papo é outro. 100% de carga tributária , em tributos DIRETOS sobre o PATRIMÓNIO, na azienda,  transforma o privada em público! Ohhhhh! Meu Deus. Eis o comunismo!

    O homem é natural, atemporal e requer LIBERDADE! 100% tributos DIRETOS é retirar a ‘liberadade” do homem…

    Liberdade é quase o mesmo que paraíso… fiscal, é claro.

    Caros economistas de escol, fale-nos sobre o “grandes fortunas” … Fuga de capitais? Ué, mas já não fogem mesmo?

    No Brasil, quem paga o bolsa família são os bolsistas. Quem não paga NADA ou paga muito pouco relativamente,  reclama. E como reclama!

    Cuidado! Se pressionar muito ameaça aquele direito facista do trabalho…Um facismo absurdo, certo? Errado!

    E tem otários desavisados que ainda acreditam neses imbecilidades!

    Por fim, escolhi uma passagem interessante de um “liberal”  para nos ajudar a tratar ,com muita propriedade ( privada?) – do tema. Claro, lá de londres:

    (…) O abolicionismo , porém, não é só isso e não se contenta com ser o advogado ex-officio da porção da raça negra ainda escravizada; não reduz a sua missão a promover e conseguir – no mais breve prazo possível – o resgate dos escravos e dos ingênuos. Essa obra – de reparação, vergonhosa ou arrependimento, como a queiram chamar – da emancipação dos atuais escravos e seus filhos é apenas a tarefa imediatado Abolicionismo. Além dessa, há outra maior, a do futuro: a de apagar todos os efeitos de um regímem que, há trés séculos, é uma escola de desmoralização e inércia, de servilismo e irresponsabilidade para a casta dos senhores , e que fez do Brasil o Paraguai da escravidão(…)( grifo meu)

    Joaquim Nabuco  por volta de 08 de abril de 1883. Claro, lá da Inglaterra. 

    Mutatis mutandis o texto  parece atual.

    Tivemos que esperar mais de um século para começar a agir  , mesmo que timidamente e com mutos equívocos. Por pra funcionar aquela obra do futuro prevista projetada, no papel…

    Ué, que diabos a esquerda tem que se meter nisso!?(é claro, esquerda “autorizada”.  aquela que convive e paga o preço do tomate e seu superávit primário…)

     

    Portanto, o post acima, com o devido respeito é fraco vez que  fica preso na  pior das análises que é a econômica.

    Economia só serve para mascarar o nosso “CASE”.

     

    Saudações

     

     

     

     

     

     

     

     

  13. Mérito: A parábola dos talentos, texto retirado da wikipedia

    Um talento era uma unidade de peso de cerca de 80 libras11 , embora haja alguma discordância acadêmica sobre o tamanho exato da unidade. Apesar de um talento poder medir qualquer coisa, quando utilizado sem qualificação entende-se que se refere a prata como uma unidade monetária (Talento (moeda)|]]) no valor de cerca de 6.000 denários1 . Uma vez que um denário era o pagamento usual para um dia de trabalho1 , um talento equivalia aproximadamente ao valor de vinte anos de trabalho de uma pessoa comum12 .

    Em Mateus, as palavras de abertura parecem ligar a parábola à parábola das Dez Virgens, que a precede imediatamente1 , e que lida com a sabedoria num contexto escatológico1 .

    Como um ensinamento para os cristãos

    Tradicionalmente, a Parábola dos Talentos tem sido vista como uma exortação aos discípulos de Jesus a usar seus dons dados por Deus a serviço de Deus e a assumir riscos pela causa do Reino de Deus1 . Estes dons incluem habilidades pessoais (“talentos” no sentido usual), bem como a riqueza pessoal1 . A não utilização dos talentos, a parábola sugere, irá resultar em julgamento1 .

    O poeta John Milton era fascinado com a parábola (interpretado nesse sentido tradicional), referindo-se a ela várias vezes, nomeadamente no soneto “On His Blindness”13 :

    When I consider how my light is spent – “Quando eu penso sobre como minha luz se esvai”
    Ere half my days, in this dark world and wide, – “Antes que eu chegue à meia-idade, neste mundo enorme e de trevas”
    And that one talent, which is death to hide, – “E que um talento, que é mortal esconder,”
    Lodged with me useless, though my soul more bent – “Dentro de mim, inútil, embora minha alma esteja mais inclinada”
    To serve therewith my Maker, and present – “A servir ali mesmo com meu Criador, e apresentar”
    My true account, lest He, returning, chide – “Meu verdadeiro relato, para que Ele, ao retornar, não me admoeste.”

    Esta interpretação parece ser a origem da palavra “talento”, utilizada para uma aptidão ou habilidade14 .

    Como uma crítica de líderes religiosos

    Joachim Jeremias acreditava que o significado original da parábola não era uma questão ética sobre todos os homens. Em vez disso, viu-a como visando os escribas que tinham retido “de seus companheiros uma quota devida do dom de Deus”15 . Em sua opinião, Jesus está dizendo que esses escribas em breve serão levados para explicar o que fizeram com a Palavra de Deus que lhes foi confiada15 .

    Jeremias também acreditava que na vida da igreja primitiva, a parábola tomou um novo significado, com o comerciante se tornando uma alegoria de Cristo para que “sua jornada se tornasse a ascensão, o seu posterior regresso… a parusia, que convida os seus para o banquete messiânico15 .

    Como uma crítica social

    William R. Herzog II acredita na interpretação tradicional da parábola16 , mas fornece uma interpretação à luz da teologia da libertação em que a imagem do senhorio ausente, que colhe onde não semeou, é interpretada literalmente. Na leitura de Herzog, o terceiro servo é um “delator”16 que “desmascarou a ‘alegria do mestre’ pelo que ela é, os lucros da exploração desperdiçados em excessos”16 . Ele é punido por falar a verdade e não por não trazer nenhum lucro. Para Herzog, o objetivo da parábola é a necessidade de agir com solidariedade quando confrontado com injustiça16 .

    O sociologista Robert K. Merton utilizou a Parábola dos Talentos para descrever um sistema de recompensas na ciência no qual cientistas famosos geralmente recebem créditos desproporcionais por suas contribuições, enquanto que cientistas menos famosos recebem menos do que seria justo. Ele chamou este fenômeno de Efeito Mateus17 .

  14. Um larga com 10 voltas de

    Um larga com 10 voltas de vantagem, bem alimentado e com o sapatos de ultima geracao.

    O segundo, dez voltas atras, com fome e descalco, ainda tem que correr na pista de lama.

  15. A história

    A meritocracia é uma falácia.

    O fato de alguém conhecer casos ou “vários casos” de pessoas que assumiram postos em grandes empresas mesmo não tendo nascido no chamado “berço de ouro” (ou coisa que o valha) não significa invalidar a sentença com que iniciei o comentário.

    A ideologia, ao operar pela inversão, e a ela todos estamos sujeitos, a ideolgia condiciona o indivíduo a trair a lógica dos fatos, tanto o mais quando ele integra o grupo dos (relativamente) “vencedores”.

    Para cada caso de sucesso (material) dos que vêm “de baixo”, quantos serão os que nada conseguiram, a não ser – sobreviverem?

    A explicação meritocrática é uma das mais típicas aberrações ditadas pela ideologia.

    Que, claro, só pode ser a das classes dominantes. Apesar de alguns duvidarem de sua existência.

    O esforço pessoal, para a imensa maioria das pessoas, não é recompensado nem de longe.

    Exceções não passam disso: exceções. E como são raras!

    O artigo é muito bom. 

    1. Nem tudo se resume a

      Nem tudo se resume a dinheiro, ora.

      Nem por isso o esforço pessoal deixa de ser recompensado. Ainda que apenas com a satisfação própria, em alguns casos. Sempre será melhor se esforçar do que não se esforçar. Voce tem alguma dúvida disso ?

      A sociedade tem inumeras variáveis. Nâo tem como existir um sistema de “compensações justas” para que quem mais “se esforçe” possa ter vida melhor do que os demais.

      É óbvio que nem todos os casos de diferenças sociais se dão por meritocracia, mas, também, por outro lado, é evidente que o mérito conta sim em relação à ascensão social e ao bem estar.

      O que vemos é que existem os fundamentalistas dos dois lados que querem ter exclusividade da verdade quanto ao tema.

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