Um certo cheiro de pólvora nas festividades

Enviado por Aracy

Os espetáculos pirotécnicos promovidos por órgãos públicos, empresas privadas e famílias são tradicionais nas festas juninas e de fim de ano. Mas, por trás da sua beleza no céu quando bem planejados e executados, há outros aspectos muito menos atraentes que não podem passar despercebidos.

Um estudo de pesquisadores da PUC-MG, publicado na Revista Cadernos de Psicologia Social do Trabalho em 2.012 (http://pepsic.bvsalud.org/pdf/cpst/v15n1/v15n1a10.pdf), analisou as condições de trabalho de empregados das fábricas de fogos de artifício de Santo Antônio do Monte (MG). O município, ligado a essa atividade econômica desde 1.859, tem dezenas de fábricas e é apontado como o segundo maior polo produtor mundial de fogos, perdendo apenas para a China. 

Segundo Carlos Eduardo C. Vieira e demais autores da pesquisa, a concessão de registro e a fiscalização do funcionamento das fábricas de fogos são atribuições do Exército Brasileiro. Entre as normas de segurança estabelecidas está a de que as empresas localizem-se em área rural, longe de habitações urbanas.

As fábricas registram muitos casos de funcionários que sofrem lesões osteomusculares nas mãos e punhos por esforços repetitivos, além de acidentes que resultam em explosões, com as consequentes queimaduras, amputações traumáticas de dedos das mãos ou mesmo mortes de trabalhadores. Os pesquisadores também denunciam a existência de condições inadequadas de trabalho em algumas empresas, apesar da fiscalização do Ministério do Trabalho: empregados sem registro em carteira, assédio moral contra trabalhadores sindicalizados, assédio sexual praticado pelos encarregados de produção contra as trabalhadoras, jornadas de trabalho de até 20 horas e permanência dos empregados  em barracões com condições de higiene precárias.

Outro estudo revela que há deterioração da função pulmonar em metade de uma amostra dos empregados dessas fábricas, provavelmente pela inalação da pólvora. Esse efeito é mais acentuado entre os fumantes (68% dos trabalhadores examinados) e os indivíduos expostos à pólvora por mais de uma década.

Além das denúncias de condições de trabalho degradantes e aparecimento de doenças ocupacionais na produção dos fogos, não podemos esquecer do despreparo de alguns lojistas que comercializam os produtos – irresponsabilidade que já provocou grandes explosões em bairros residenciais de várias cidades – e das pessoas que utilizam os fogos.

Todos os anos, prontos-socorros de norte a sul do Brasil ficam movimentados na noite de Réveillon com o atendimento a casos de queimaduras na pele ou nos olhos e de mutilações causadas por acidentes com fogos. Homens adultos são os mais afetados, mas crianças e adolescentes também têm sido vítimas frequentes.

Nem os animais estão a salvo dos efeitos negativos dos fogos. Apavorados e incomodados com o ruído excessivo, muitos ficam doentes, ou fogem de casa e se perdem ou são atropelados.

Fogueteiros amadores e pessoas que contratam serviços profissionais de pirotecnia deveriam se conscientizar disso antes de queimarem seu rico dinheirinho e transformarem-no em fumaça nas ocasiões festivas. A questão vai muito além da pólvora.

Redação

8 Comentários

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  1. E por quê o M.doT. não coloca

    E por quê o M.doT. não coloca um posto avançado na cidade mineira e com os funcionários na condição de rotativos ?

    O Exército fiscaliza a quantidade de pólvora usada para que não ocorram desvios e claro, com muita lerdeza e má vontade.

  2. Eu sou dos que não gostam

    Desde pequeno detesto ouvir aquela barulheira misturada ao cheiro da pólvora e aos clarões. E todos sabemos que se trata de uso de pólvora, nem sempre cercado dos cuidados devidos. Vi acidentes com foguetes e bombas: gente sem uma das mãos, com defeitos nos olhos, com queimaduras. Ocorrem mortes, também.

    A solução que encontro, nessas ocasiões, é ficar longe desses festejos e em casa fechar janelas para ouvir menos.

    Forçoso reconhecer que é imenso o número de pessoas que adoram estar perto dessas festividades com fogos. Se acham que é bonito, que aproveitem bastante.

  3. Novamente este problema que não resolve nunca…

    A fiscalização insuficiente no Brasil.

    A fiscalização no Brasil é cínica. Só funciona para quem está regularizado perante o fisco.

    1. ?

      A que sindicato deve se dirigir uma vítima civil com um tímpano perfurado por explosão de rojão numa festa? Ou quando a vizinhança é fogueteira e os fogos incendeiam o quiosque de sapé e quebram telhas da casa ao lado?

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