TV GGN 20h: um general de Bolsonaro ou do Partido Militar?

Luis Nassif e Marcelo Auler conversam com o ex-presidente do Partido dos Trabalhadores, José Genoino, para repercutir a fala do General Braga Netto

O programa começa com a apresentação dos dados da covid-19 no Brasil. Nesta quinta-feira, foram registrados 99.514 casos. A média chegou a 37.313 casos, queda de 12,9% na média ante sete dias e de 23,3% ante 14 dias.

Quanto ao total de óbitos, 2.824 pessoas perderam a vida para a covid-19. A média ficou em 1.153 mortes, queda de 7,9% ante sete dias e de 19,9% ante 14 dias.

Em sete dias, 56.035 pessoas morreram de covid-19 no mundo. O Brasil representa 15,2% do total, com 8.523 vidas perdidas – “Se não fosse o crescimento da Indonésia, o Brasil estaria com 18%, 19% dos óbitos mundiais”, diz Nassif.

Genoíno comenta o caso Braga Netto

“O caso do dia foi esse manifesto, a matéria do Estadão dizendo que o Braga Netto mandou avisos pressionando políticos – e a nota oficial dele é uma confirmação”, diz Nassif. “Ele diz que, quando trata com chefe dos outros poderes, ele não manda avisos. Ele fala diretamente. E voltou a defender o voto impresso”, ressalta.

“O voto impresso permite a você montar denúncias para todo lado, que nem foi feito nos EUA com o Trump”, diz Nassif. “Você pega o interior, o sertão. Se você tem a urna eletrônica, você acaba de votar, você põe na rede telefônica, dispara na Internet e não tem interferência”.

“Há dúvidas sobre as maneiras de fazer auditoria, mas se você põe o voto em papel você vai ter os bolsonaristas, que nem os trumpistas fizeram, no Brasil inteiro levantando falsas denúncias”, diz Nassif. “É evidente que o voto impresso é um voto pra golpe”.

“E finalmente você tem a questão do antilulismo presente nas Forças Armadas”, diz Nassif. “O sentimento que mobiliza as Forças Armadas é o antilulismo, aquela visão mais estapafúrdia de guerra fria”.

Para discutir a respeito do tema, Nassif conversa com o jornalista Marcelo Auler e José Genoíno, ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) e ex-deputado federal.

Segundo Genoíno, “é um governo dos militares. É a tutela militar que nasceu com a candidatura do atual presidente, teve a tutela sobre o STF, teve a tutela quando o Braga Netto foi interventor no Rio de Janeiro e está tendo a tutela no exercício do governo”.

“Portanto, é um governo dos militares. Esse governo dos militares tem uma aliança muito profunda com o atual presidente da República. O presidente da República foi a chance deles voltarem ao poder, de exercerem cargos-chave estratégicos”

Na visão de Genoíno, essa aliança militares-Presidência foi estruturada “a partir de uma narrativa do marxismo cultural, bebendo na extrema-direita americana, contra o politicamente correto, o conceito da guerra interna, do inimigo interno – a esquerda vira inimigo interno, índios viram inimigos internos, os quilombolas viram inimigo interno, as lutas sociais viram inimigos internos. É a recuperação daquele conceito da guerra revolucionária na época da Guerra Fria”.

“Lamentavelmente, enquanto a gente não derrotar essa visão tutelar de que os militares tem o monopólio do patriotismo, os militares tutelam o Estado e o Estado parece que foi depois deles, esse corporativismo acentuado através de autonomia militar é uma questão muito séria”.

“Eu entendo que essa declaração, essa matéria do Estadão – primeiro, que não é inventado, o Estadão bancou. Segundo, essa matéria se soma à nota de 10 dias atrás que foi muito mais grave”, diz Genoíno. “Aquilo ali (nota do Ministério da Defesa) foi um pronunciamento militar. E antes dessa nota, teve a queda dos comandantes e do ministro da Defesa, e a ascensão de Braga Netto”.

“Portanto, as próprias declarações do comandante da Aeronáutica e da Marinha vão nesse rumo”, ressalta Genoíno. “Eu acho que nós estamos diante da expressão política da tutela. Ora eles dizem que o governo do capitão é exagerado, ora eles aparecem como ajuizados – e aí eles usam a tática de ‘bode na sala’. Então, por exemplo: o Ramos diz ‘não, um trem passou por mim’. Isso é para dispersar, porque ele foi para a Secretaria-Geral do Palácio do Planalto, que é tão importante como a Casa Civil”.

“Ao mesmo tempo, eles criam uma onda pra ver se pega, porque o que eles fazem: tentam legitimar a tutela militar e a intervenção”, afirma José Genoino. “Por isso que é necessário uma oposição contundente e democrática”

“Ele (Braga Netto) tem que ser convocado para explicar essa nota e essa declaração no Congresso Nacional. As manifestações de ministros do Supremo, dos parlamentares, eu acho que essa é uma questão democrática fundamental”, ressalta Genoíno.

“Temos uma democracia tutelada”

Genoíno alerta que, “se nós acharmos que é uma brincadeira, é uma arruaça, se a gente não der a importância, não é só rompante. Desde a candidatura do atual presidente até hoje, vem se acentuando e se aprofundando a tutela militar. Nós temos uma democracia tutelada”.

Para o ex-presidente do PT, “ná uma certa escalada de autoritarismo, é necessário a gente denunciar, combater, se opor a essa escalada. Não dá para a gente aceitar isso como se fosse algo corriqueiro, e legitimar o anormal”.

Para Genoíno, os militares “não apoiaram Bolsonaro por acaso, eles não assumiram o governo por acaso e estão defendendo porque tem interesse em comandar o país. Um comando político, ocupar as questões centrais – Por exemplo: eles (militares) nunca aceitaram ser julgados por civis (…) A gritaria que eles fizeram contra a Comissão da Verdade é que eles não aceitam que civis apreciem militares, por isso que eles tem uma Justiça Militar”, diz Genoíno.

“Eles são uma força de Estado, mas eles é que tomaram a iniciativa de ir para o governo com a candidatura do atual presidente”, diz Genoíno. “Foram eles que resolveram aceitar a candidatura a ser lançada na AMAN (…)”

“A luta democrática tem que enfrentar esse tipo de tutela. E, se a política e os políticos não compreenderem a importância disso – o que aconteceu com a transição de 79, o tipo de anistia que aconteceu na Constituinte, o artigo 142 da Lei e da Ordem. O que aconteceu inclusive no nosso governo, em que a gente tinha que ter sido mais contundente para estabelecer o predomínio do poder civil sobre o poder militar, a unificação dos comandos… Quer dizer, a influência nos critérios de formação”, diz Genoíno.

O ex-deputado federal ressalta que as Forças Armadas tem que ser dirigidas pelo poder civil que emana do voto popular. “Enquanto esse primado não ficar estabelecido, nós vamos ficar sempre diante de pronunciamentos como na década de 50, na década de 60 (…)”, diz o ex-deputado federal. “Nós não podemos legitimar esse tipo de coisa. Quando se dá cavalo de pau na democracia, a gente sabe como o cavalo começa a trotear, mas não sabe quando termina a corrida. Esse é o problema”, diz Genoíno.

Redação

2 Comentários

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  1. ““Há dúvidas sobre as maneiras de fazer auditoria, mas se você põe o voto em papel você vai ter os bolsonaristas, que nem os trumpistas fizeram, no Brasil inteiro levantando falsas denúncias”, diz Nassif. “É evidente que o voto impresso é um voto pra golpe”.”

    Essas são todas as evidências que você apresenta, Nassif? Que decepção, negacionismo puro!

    Que tal uma reportagem com mais evidências e entrevistas com quem entende do assunto, incluídos estrangeiros mais neutros e distantes? Essa comparação com Trump não tem pé nem cabeça!

    Não ha como haver transparência, justiça e segurança nas eleições com esse conflito de interesses intransponível da justiça eleitoral, que produz urnas, organiza eleições, controla os partidos e julga a sí própria!

    Você faria depósitos e pagamentos sem recibo? Pra que serve o recibo se basta postar o pagamento no Facebook?

  2. Genoíno: “Nós temos uma democracia tutelada”.

    Pensei que isso fosse ditadura.

    Se os militares detêm esse poder, alguém concedeu. Se não fomos nós, quem foi?

    Por que insistimos em nos considerar uma nação livre e democrática, se não passamos de uma ditadura colonizada?

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