O assassinato de Marielle e o medo das vozes insubmissas
por Luis Felipe Miguel
É difícil reagir à morte de Marielle Franco. Além da brutalidade da execução, há seu simbolismo: o silenciamento de uma mulher negra, a escalada de uma violência política que quer negar à esquerda o direito de existir. Um crime em que tudo aponta, uma vez mais, para o entrelaçamento do Estado com o crime organizado, no Rio de Janeiro e no Brasil.
Mas, paradoxalmente, o assassinato de Marielle Franco é uma demonstração de que, ao contrário do que eles querem fazer parecer, não está tudo dominado. Quando mais eles apelam para as tentativas de intimidação e para a violência, mais fica claro que eles têm medo: medo das vozes insubmissas, medo de quem não baixa a cabeça, medo da luta popular.
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Esses Ratos podem matar uma, duas ou três Rosas
Mas eles não vão impedir a Primavera.
Atenção
Ao dobrar uma esquina
Uma alegria
Atenção, Menina
Você vem
Quantos anos você tem?
Atenção
Precisa ter olhos firmes
Pra este sol
Para esta escuridão
Atenção
Tudo é perigoso
Tudo é divino maravilhoso
Atenção para o refrão
É preciso estar atento e forte
Não temos tempo de temer a morte
Atenção
Para a estrofe, para o refrão
Pro palavrão
Para a palavra de ordem
Atenção
Para o samba exaltação
Atenção
Tudo é perigoso
Tudo é divino maravilhoso
Atenção para o refrão
Atenção
Para as janelas no alto
Atenção
Ao pisar no asfalto mangue
Atenção
Para o sangue sobre o chão
É preciso estar atento e forte
Não temos tempo de temer a morte
Descanse em Paz, Marielle!
Espalham o terror para impedir o povo pobre de ir às ruas.
Espalham o terror para impedir o povo pobre de ir às ruas. Devemos montar barricadas inteligentes até outubro.
Marielle, porque você pôs o dedo na nossa ferida?
Cartomante
(Elis Regina)
Nos dias de hoje
É bom que se proteja
Ofereça a face a quem quer que seja
Nos dias de hoje esteja tranquilo
Haja o que houver, pense nos seus filhos
Não ande nos baresç esqueça os amigos
Não pare nas praças, não corra perigo
Não fale do medo que temos da vida
Não ponha o dedo na nossa ferida… Ah…
Nos dias de hoje
Não lhes dê motivo
Porque na verdade
Eu te quero vivo
Tenha paciência
Deus está contigo
Deus está conosco
Até o pescoço
Já está escrito
Já está previsto
Por todas videntes
Pelas cartomantes
Está tudo nas cartas
Em todas as estrelas
No jogo dos Búzios
E nas profecias… ah…
Cai, o Rei de espadas
Cai, o Rei de ouros
Cai, o Rei de paus
Cai, não fica nada!!
Estou chocado. Trabalho perto
Estou chocado. Trabalho perto da Casa das Pretas, na Lapa, onde ela estava numa reunião com a militância. Acompanho o trabalho dessa militância de negros, mulheres e LGBT de perto e vejo como são fortes, corajosas e inclusive de bem com a vida.
Não sei como esse assassinato vai bater nelas, será duro, um baque. Mas aposto que vão partir para guerra com ainda mais coragem. Tô junto!