Realidade à Temer: racismo e medo tatuados no cérebro

Esta semana dois casos de violência privada sacudiram a internet. O primeiro foi a tatuagem realizada à força na testa de um rapaz que supostamente tentou furtar uma bicicleta. O segundo foi a agressão que Mirian Leitão disse ter sofrido durante uma viagem de avião. A ligação entre os dois episódios existe, mas não é muito evidente.

Durante vários anos Mirian Leitão atacou ferozmente a política econômica dos governos petistas. Ela é sem dúvida alguma responsável pela balcanização partidária que resultou no aprofundamento da crise política e econômica brasileira https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/miriam-leitao-e-a-balcanizacao-partidaria-do-brasil-por-fabio-de-oliveira-ribeiro.

O colapso político e econômico reforçado pela evidente comprometimento da credibilidade do Poder Judiciário – os juízes apoiaram o golpe em troca de aumento de salário – não foi capaz de transformar totalmente a sociedade brasileira. Mas sem dúvida alguma trouxe à superfície algumas de suas características mais odiosas: o racismo, a predileção pelo linchamento e o gosto sádico pela vingança privada.

Estas três características herdadas do período colonial e imperial afloraram com força após Michel Temer chegar ao poder. A tatuagem na testa do garoto pobre é uma evidência incontestável do tratamento desumano que ele recebeu. Mirian Leitão, no entanto, não foi vítima de uma violência real. Vários passageiros contestaram a versão que ela deu para os fatos.

O medo da comentarista da Rede Globo de ser agredida não foi nem maior nem menor que o do rapaz tatuado na testa. Ele foi qualitativamente diferente. Num caso a agressão foi real, no outro ela foi apenas imaginada. Nenhuma novidade. No passado, enquanto se espalhavam pelo território nacional os brancos também se imaginavam vítimas de violência maiores do que aquelas que eles mesmos praticavam contra índios e negros.

Miriam Leitão, co-responsável pelo retorno recalcado de estruturas sociais antigas sob o antiquado Michel Temer, certamente não se sente responsável pela tatuagem que foi inscrita na testa daquele pobre rapaz. A duplicidade moral dela é, portanto, evidente. Como nossos antepassados, a comentarista da Rede Globo naturaliza a violência privada praticada contra o “outro” considerando ultrajante qualquer tipo de reação pública. Acostumada a ser aplaudida ela não suportou nem mesmo ser ridicularizada. E justamente por isto se tornou ainda mais ridícula.

Isto não causa estranhamento. O medo do ridículo nunca foi predominante numa sociedade que se caracterizou e que voltou a se caracterizar por distinções políticas de natureza racial. Ali Kamel, chefão do jornalismo da Rede Globo, escreveu um livro para provar que não somos racistas. Sem querer a subordinada dele (vítima de uma violência imaginada) provou que somos. Não por acaso o rapaz tatuado na testa é bem mais escuro que Miriam Leitão.  

Fábio de Oliveira Ribeiro

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