Brasil, refém do seu povo e do seu passado

Por Francy Lisboa

É impressionante, mas trinta anos depois da redemocratização do país a resiliência antidemocrática continua a demonstrar forças. Em diversas áreas da Ecologia é costumaz observarmos que mesmo depois de longos períodos um sistema perturbado continua a guardar semelhança com a situação anterior.

Os fatos que se sucedem na atual conjuntura revelam traços dramáticos de desilusão que vai muito além da classe política. Certa vez escrevi que a medida que o tempo passa as forças retrógradas tendem a ficar mais intensas por saberem que a mudança para um novo patamar está próxima.

Esse novo patamar, no meu entendimento, seria a consolidação da Democracia por meio do respeito ao seu signo maior: as urnas. Contudo, as narrativas raivosas e o aval de brasileiros a abertura de processo de impedimento de Dilma Roussef mostra que minhas previsões, confesso muitas vezes contaminada por natural otimismo, estavam erradas.

Claro como o céu depois de intensa chuva, os atores artífices do golpe branco atuam com a complacência de quem os atura por representarem o cavalheiro destinado à matar o dragão, o inimigo a ser derrubado, representado pelas figuras de Dilma, Lula e o PT.

Não haverá qualquer sentimento de vitória caso as pretensões golpistas concretizem-se. O que haverá é a natural euforia característica da ainda grande desprezo e mau entendimento do povo brasileiro sobre o que é Democracia. Esse desprezo que guarda relação com outro tipo de desprezo característica tupiniquim: se não fui o primeiro, então não presta!

Como continuar acreditando no povo brasileiro sendo que este tem desprezo pela Democracia? Se ele, o povo, quando não contente, acha que é simplesmente trocar o comando técnico do time? O relógio democrático citado por Dilma em sua entrevista à Folha deveria estar no pulso de todos nós depois destes 30 anos, mas o que se vê é que tal relógio não faz sucesso entre muitos de nós: não gosto e pronto!

Há quem avalize qualquer tipo de coisa desde que isso represente derrota de Dilma. Esse brasileiro, esse médio brasileiro, é a triste percepção que a Democracia não é feita apenas das badaladas “instituições sólidas”.

A Democracia é feita por um povo que reconheça o valor de eleger seus representantes sem se descuidar da minoria. É reconhecer que um presidente, seja de esquerda, de direita ou que governa com os “bons”, terá a obrigação de ofício de buscar governar para todos sabendo que é impossível agradar a todos os gregos e a todos os troianos.

Dilma cometeu diversos erros como muitos outros ex-presidentes cometeram. E por isso merece o impedimento? Quer dizer que na ocasião de não agradar a todos qualquer presidente deverá ser destituído? É possível acreditar no descontentamento brasileiro para além do curto prazo? Afinal, sabemos que nossa natureza xiliquenta nos faz susceptíveis à variações de humor que tornam qualquer previsão catastrófica, até mesmo as mais respeitadas como as do Nassif, simplesmente FURADAS.

Basta que estaleiros voltem contratar e as construtoras voltem às suas atividades regulares para atender a nossa imensa demanda por infraestrutura que o brasileiro mudará seu humor, a ponto de se tornar tamponado àquelas pregações diárias que confirmam as palavras de Obama como potencial global: não é mesmo, Sardenberg e sua tese sobre influência de Lula sobre a crise grega?  Enfim, o Brasil é infelizmente refém do seu povo e do seu passado, que o torna muito difícil à experimentações democráticas  simples, como o respeitar do sufrágio universal.

Redação

14 Comentários

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  1. resiliências

    “É impressionante, mas trinta anos depois da redemocratização do país a resiliência antidemocrática continua a demonstrar forças.”

    Mutatis mutandis só de leve: “Não é nada impressionante que, trinta anos depois da redemocratização, a resiliência antidemocrática continua, taticamente, a pegar carona na resiliência (Haja “resiliência”…) da corrupção.”

  2. Estou desanimado, mas penso

    Estou desanimado, mas penso um pouco diferente: acho que sem as laranjas podres, o cesto de “povo brasileiro” não seria contaminado. E as laranjas podres nós sabemos muito bem quem são, são filhotes daquelas mesmas que estiveram por trás do golpe de 64 e depois apoiaram a ditadura. O povo, infelizmente, se comporta como gado e a direita golpista não tem pudor em tocar os seus berrantes. Sem politizar o povo, nunca nada mudará.

  3. de lona em lona

    O time de futebol é uma lastima, trocamos o técnico.

    Os crimes aumentam, diminuição da idade penal.

    A costituição não me agrada, pec nela (autor CUnha).

    Promessa é dívida, Serra entregando a Petrobrás à Chevron.

    O que é bom para os EUA é bom para o Brasil, toda a turma dos demos/psdb.

    Nos derradeiros tempos estas e muitas outras são as preciosidades a nos governar.

  4. Chauí: violência, racismo e democracia no Brasil

    Segue a parte final de uma conferência da sempre lúcida Marilena Chauí no seminário “Representação Política e Enfrentamento ao Racismo”, realizado em Salvador (2013):

    … se a política democrática corresponde a uma sociedade democrática e se no Brasil a sociedade é violenta, autoritária, hierárquica, vertical, oligárquica, marcada pelos preconceitos étnicos e de classe, polarizada entre a carência e o privilégio, só será possível dar continuidade a uma política democrática enfrentando essa estrutura social.

    A ideia de inclusão social não é suficiente para derrubar essa estrutura social e a polarização carência/privilégio. A polarização só pode ser enfrentada se o racismo e o privilégio de classe forem enfrentados. E eles só serão enfrentados, creio eu, por meio de quatro grandes ações políticas:

    1. A reforma tributária, que opere sobre a vergonhosa concentração da renda e faça o Estado passar da política de transferência de renda para distribuição e redistribuição da renda.

    2. A reforma política, que dê uma dimensão republicana às instituições públicas e permita redefinir o sentido público da representação.

    3. A reforma social, que consolide o Estado de Bem-Estar social com uma política de Estado e não como um programa de Governo.

    4. E uma política de cidadania cultural que comece pela educação e alcance o conjunto das artes de maneira a desmontar o imaginário autoritário, quebrando o monopólio da classe dominante sobre a esfera dos bens simbólicos e a sua difusão, e quebrando a sua conservação por meio da classe média.

    Mas a ação do Estado só pode ir até esse ponto. O restante, para construção de uma sociedade democrática, igualitária e sem racismo só pode ser a práxis dos movimentos sociais e populares organizados como sujeito de sua ação, isto é, como autênticos representantes de suas demandas, reivindicações e direitos.

    Artigo na íntegra aqui: http://goo.gl/Gm4XVB

  5. manifestação ensandecida de um coxinha debilóide

     

    Aquele momento em que devemos rever nossa posição em relação ao fechamento dos Manicômios…

    Diego Lourenço: “parece cocaina, mas é so um coxinha”

    https://fbcdn-video-d-a.akamaihd.net/hvideo-ak-xfp1/v/t42.1790-2/11648555_384754988384239_1162670915_n.mp4?efg=eyJybHIiOjUxNiwicmxhIjo1MTJ9&rl=516&vabr=287&oh=1e0a9d6bcebabcea0f748a9bafd04679&oe=559D9D6C&__gda__=1436396463_7c4710b79aee83858de1079e1f374bee

     

    fonte:  https://www.facebook.com/pages/Isso-%C3%A9-culpa-do-PT/182253441875906

  6. “legitimidade”

    Agora sobre a “legitimidade”.

    Incrível que em 1992, o PT bradou o tacape pelo impeachment de Collor, que também foi “legitimamente eleito. E no final, se comprovou que nem havia corrupção por parte de Collor. Para o Collor o impeachment era legitimo, mesmo sendo ele eleito nas urnas, par o PT não é.

    Não defendo Collor, porque também fui um dos caras pintadas na época, muito pelo contrário me alegrei quando ele caiu, O que pesava contra Collor era que arruinou a economia ( Dilma também), mentiu e enganou o povo, fazendo o oposto do que prometeu na campanha ( Dilma também) e Collor criou um desemprego monstruoso (Dilma também). Collor tinha muito mais coisas, lógico, como o confisco.

    Não sou a favor do impeachment, mas também não levantarei um dedo para impedir. Afinal, Dilma não ergueu um dedo para impedir o ocaso da Odebrecht, com seus centenas de milhares de empregos perdidos, nem das tercerizadas da Petro, com seus outros centenas de milhares. Se houver impeachment que Dilma chame o Zé Cardozo, quem sabe ele abre uma sindicancia como fez na Lava Jato. 

     

    “Como muda o comportamento de um partido quando está na oposição e quando está no governo”.

  7. Sobre a democracia

    Então as pessoas quererem que o governo notadamente corrupto é golpismo? Então o que se passou com o Collor em 92 foi golpismo? As pessoas tem o direito de pensar o que quiserem, isso é democracia…

  8. Povo confuso e manipulável é a maior das fraquezas.

     

       Com todos os seus defeitos Dilma e o PT são mais do que o país está merecendo, junto do PC do B e poucas organizações mais próximas como CUT e MST são a única força organizada pró povo e que mantém o país no caminho do desenvolvimento ultimamente, fora disso só há apelo à  desorganização, ignorância e até brutalidade extrema, o que só fortalece interesses externos pois aqui nem mesmo a velha elite tem o que comemorar com isso, todo o potencial do país fica em risco. Que o resto da sociedade acorde, a frente de esquerda recentemente anunciada é um bom sinal, tomara que haja mais e mais gente acordando para essa onda de mediocridade que quer nos fazer andar pra trás pois considerando o congresso, judiciário e mídia é quase um milagre o que Lula conseguiu a partir de 2003.

          É  um raro momento em que o governo está passos frente da população, isso não é bem um problema quem dera fosse sempre assim mas acontece que esse povo não tem a menor consciência disso, estamos com uma população cada vez mais  confusa e manipulada,  povo é sempre o elemento principal não é a toa que a mídia sempre tenta convencer esse povo de sua própria incapacidade, principalmente de se governar, como quase sempre tivemos elite e governos dos mais exploradores e atrasados, o povo se a costumou à isso de tal maneira que não consegue conceber uma realidade diferente e as forças do atraso aproveitam isso muito bem,  PT só foi eleito porquê o eleitor ainda conseguiu ver o PSDB como “mal maior”, é preciso mais tempo para que as conquistas se consolidem de forma que apontar o copo meio vazio seja só uma piada sem graça mas alguns anos mais de continuidade levariam à um ponto de não retorno, até lá só resta brigar contra a propaganda fascista, a velha mídia tá caindo mas é preciso ter alguma coisa pra botar em seu lugar.

  9. O povo até que resistiu muito

    O povo até que resistiu muito nestes últimos 12 anos, essa campanha suja começou em 2003, houve tentativa de golpe em 2005, por trás de tudo isso há uma poderosa superestrutura que envolve, como apontou Marx há séculos, a religião, a midia e o judiciário.,..há anos essa superestrutura lança suas pedras no lago para fazer onda na direção da periferia de forma que o pensamento do topo da pirâmide terminou sendo enfiado goela abaixo e descendo para a base, ou seja, desceu, para usar uma palavra do então ministro Gilberto de Carvalho ao testemunhar no metrô de SP pessoas simples reproduzindo o discurso de ódio de nossa elite zelote

    https://jornalggn.com.br/blog/spin-ggnauta/estrutura-e-superestrutura-nos-dias-atuais

     

     

     

  10. Acabou a ditadura, mas ela

    Acabou a ditadura, mas ela deixou o ovo, que é chamada de Rede Globo de Televisão. Tem aquele velho ditado popular que diz: Filho de peixe, peixinho é. Os filhos do Roberto Marinho talvez sejam piores que o pai. Tem também muitos filhos da ditadura lá no congresso. Mas o pior mesmo é esta TV marginal criada na ditadura.

  11. Não foi Simon Bolívar quem

    Não foi Simon Bolívar quem disse que um “povo ignorante é o instrumento cego de sua própria destruição”. Pois é. Então não o brasileiro não tem do que reclamar.

  12. Ô povim, sô!

    Falo isso com minha esposa com frequência quando debatemos política, o maior problema do Brasil, é o povo!

    Parafraseando Gabriel “O Pensador”: onde a grande maioria não é patriota e nacionalista, e prefere as cores dos states com as estrelas e as listras, fica difícil mesmo construir uma nação de verdade!

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