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Poemas casas e pássaros, por Maíra Vasconcelos
Escreverei poemas que revelem o tormento da carne, talvez. Eis o tempo memorável. Repasso textos largos e lisos como cantos de pássaro. Espécie: golondrina. Indefesa como esse texto entregue regularmente ao jornal, como esse delirar fabuloso de acreditar que a palavra entrega avoares. Escreverei, esperem e os alcanço em céus vermelhos, refratária. Os galhos das árvores ajudam ao descanso e durante o pouso saem faíscas à terra. O pássaro tem seu peso medido pela força e fragilidade da natureza, a natureza dele mesmo e a do mundo exterior. Nem todo galho é ninho resistente, nem todo pisar é manso – como casas sendo arestas para tantos pontos de vista e cheias de gestos terríficos. Pássaros emanam estrondos como árvores frutíferas. E ambos fazem eclodir perfeitas suturas logo derrocadas pelo tempo. As naturezas colidem e o pássaro canta. Invadem casas como poemas que revelam o tormento da carne. Deixar a janela aberta e colocar alpiste na beirada, o pássaro confundido então pode entrar, bater as asas na quina da cozinha, derrapar na sala, ficar acuado, alerta ao perigo de nunca mais deslizar entre céus. Pois casas nunca estão dispostas aos pássaros, mas sempre atentas e devotas aos poemas.
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