Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Alimentos, Tecnologias e Biodiversidade, por Rui Daher

Enviado por Rui Daher

Da CARTACAPITAL

Setor de alimentos é um dos que mais cresce no Brasil e no mundo
 
 
No mundo, o setor de alimentos foi o que mais cresceu nos primeiros meses de 2015. No Brasil, o agronegócio cresceu 3,4%, enquanto a indústria recuou 0,8% e os serviços 0,4%

Vistas assim do alto ou com a lupa, as pinimbas campesinas são tantas que sinto difícil escolher um só tema para comentar. E olhem que há pouco tempo o agro se queixava de ausência nas folhas e telas cotidianas.

Carpideiras, que ainda não perceberam como ocorreu a história da industrialização mundial, nos dois últimos séculos, continuam lamentando o Brasil exportador de bens primários e crendo que neles não há qualquer adição de valor. No mínimo, valeria lembra-los de um filósofo barbudo alemão, que mostrou trabalho ser valor.

Sim, precisamos rever nosso perfil econômico, perseguir inovações tecnológicas. Mas não adianta derramar lágrimas por um passado secularmente proibido a países pobres e mal geridos para a modernização. E assim tem sido o que temos para ontem e hoje.

Proponho três discussões no “FB Caboclo”.

De que adianta a maior biodiversidade do planeta?

Em outubro de 2014, na Coreia do Sul, realizou-se a Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica, a 12ª COP, para evoluir no Protocolo de Nagoya, difícil acordo sobre o uso de recursos genéticos e repartição justa de seus benefícios.

Embora signatário, o Brasil não participou do evento, e terminou impedido de palpitar e votar. O tratado foi assinado ou ratificado por 51 nações, inclusive a União Europeia. Países importantes ficaram de fora, como Estados Unidos e China, adoradores de muros e muralhas quando o assunto é clima e preservação do planeta.

Aqui a batatada veio do indescritível e poupado Congresso Nacional, que deixou de votar proposta enviada, em 2012, pelo Ministério do Meio Ambiente.

De péssima matemática ao defender patrimônios nacionais, como as diversidades biológica e cultural, precisa na hora de proteger os próprios interesses, a bancada ruralista temeu prejudicar a agropecuária no custo de acesso à genética contida em moléculas de agrotóxicos, sementes transgênicas, por aí.

Como se já não pagassem os tubos por isso, embutidos em royalties, preços extorsivos, dosagens que excedem necessidades, também por aí.

O Senado acaba de aprovar um texto básico para aprovação na Câmara. Tenta-se um avanço. Nele, o Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGen), do Ministério do Meio Ambiente, permite cadastro voluntário de instituições de pesquisas e empresas, o que diminui a burocracia antes existente.

Na proposta, reserva-se 1% da receita líquida obtida com produtos desenvolvidos a partir do conhecimento tradicional aos povos indígenas e comunidades locais.

Acho pouco. Mesmo assim duvido que passe.

Na contramão, o Brasil também compra

Na coluna anterior, a propósito do câmbio e de exageros opinativos que enfraquecem o Brasil aos olhos estrangeiros, discutimos o país em barato total.

Embora eu veja mais provável o sertão virar mar do que o mar virar sertão (salve, Sérgio Ricardo), há movimentos no sentido contrário de grupos brasileiros comprando ativos no exterior.

Cá como lá e acolá, as negociações de aquisição e fusão focam setores ondem crescem consumo e produção.

Segundo o Índice Gerente de Compras (PMI, na sigla em inglês), da consultoria britânica Markit, no informe de Assis Moreira, correspondente do Valor em Genebra, os setores de alimentos e bebidas foram os que mais cresceram e receberam encomendas no primeiro trimestre de 2015. Nada mudou. O desempenho dos alimentos se repete desde 2009, quando o índice começou a ser calculado.

Mais: no plano nacional, segundo a Serasa Experian, em fevereiro, a atividade industrial recuou 0,8% e a de serviços 0,4%, descontados os efeitos sazonais. O setor agropecuário avançou 3,4%.

O fato confirma o que se repte na coluna sobre a tendência positiva para produtos originados da agropecuária nos próximos cinco anos.

E se comentaristas empertigados acham Insuficientes os argumentos destas Andanças Capitais, basta olhar para os setores em que o grupo brasileiro 3G Capital, de Lemann, Telles e Sicupira, vem investindo no exterior.

Lembram-se? Inbev, Anheuser Busch, Burger King, Heinz, Tim Hortons, Kraft. Com isso, o valor de mercado do Grupo chega hoje a US$ 260 bilhões.

Barato nenhum, certo?

A tecnologia e o melhor amigo do homem

Os leitores mais empolgados com avanços tecnológicos e que sofrem por eles serem ralos em nossa Federação de Corporações e vigorosos em países desenvolvidos, provavelmente, gostaram de saber da existência de tratores com menor potência, equipados com GPS, analisadores de solos, o siri e o cacete (grato, Bosco e Blanc), destinados aos pequenos e médios agricultores.

O que dizer então de drones australianos e neozelandeses sendo usados para substituírem vaqueiros e cães de pastoreio?

A notícia chegou aqui, no último dia 13/04, através do site do Wall Street Journal: “Cães de pastoreio perdem o emprego: drones vigiam ovelhas”.

Não só ovelhas, mas também bovinos. Não houve menção aos crocodilos do falecido Dundee.

Imagino a cena. Dannevirke, Nova Zelândia. Tarde fria. Sob gigantesca árvore de kauri, Mr. Joseph Thornton afaga a cabeça de Buddy, seu velho e inteligente Australian Cattle Dog: “Do not worry my friend, they can fly, but will not barkin’& howlin’ these beautiful songs we know“.

No dia seguinte, esquadrão de robôs voadores, comprados a US$ 500 cada, levantará voo para arregimentar um grupo de confusas ovelhas, que aguardava a desabalada corrida e os latidos do velho Buddy.

http://www.cartacapital.com.br/economia/setor-de-alimentos-e-um-dos-que-mais-cresce-no-brasil-e-no-mundo-8009.html

 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

4 Comentários

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  1. Mais atenção ao analisar os dados estatísticos da agropecuária

     

    Rui Daher,

    Como entusiasta do setor produtivo rural, você não pode esquecer, ao analisar os dados da produção, que tendencialmente este setor perde participação no PIB.

    Isso é válido para qualquer país se você considera em um prazo maior do que vinte anos. E não há razão para esta tendência deixar de existir pelo menos até os meados deste século.

    Se você não levar essa tendência em considerar suas expectativas não vão ser realizadas e você pode até a começar a fazer torcida que em você não cairia bem como torcer para que aumentasse o número de obesos no mundo 

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 18/04/2015

    1. Prezado Cléver,

      Não há dúvida de que a sua análise de tendência é real. Ela parte da financeirização das economias, sobretudo a partir do início dos anos 1980, quando o setor de serviços passou a predominar sobre os demais.

      Embora eu sempre prefira analisar a agropecuária, como atividade antes das porteiras das fazendas, evitando a etapa posterior, do agronegócio, pois muitos acham isso um palavrão, na tendência para este século é preciso considerar também a transformação dos bens primários agrícolas, pecuários, da silvicultura, energias renováveis, de uma forma muita mais ampla, com crescimentos crescentes pelos milhões de carentes alimentares ainda apontados pela FAO e, mais do que isso, por sabermos que a conquista de renda parte de uma pirâmide que vai se afunilando ao topo, conforme a qualidade e sofisticação desses itens. No final, tais aquisições podem até chegar aos serviços financeiros.

      Daí eu achar que o assunto precisa ser visto de uma forma mais abrangente do que se faz no Brasil, como forma, até política, de minimizar a atividade rural.

      Quanto ao aumento de obesos no mundo, disto já me livrei, o que sugiro aos infelizes de seu vaticínio: fiz cirurgia bariátrica há três anos.

      Abraço

  2. excelente materia do

    Internet é otimo para antas como eu colocar os pitacos; Enquanto o vendedor de pamonha grita na porta com seu som estridente fico sabendo que o USA ta fazendo/tirando etanol do milho. Aquele lero lero de minerio de ferro exportado barato com ouro junto,impediu a construção de produtores de aço,exportamos o minerio baratississimo,que gasta uma baba de agua no mineroduto e compramos o aço.Levar ferro mais do isso somente choriço.Exportamos petroleo e compramos oleo e gasolina.Se comprar uma refinaria la fora o mundo acaba. Desjo a todos que chova muito em sua horta mas sem melar o quiabo.

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