Avaliação do texto do Lara Resende
por Mauro Brasil
Comentário ao post Os cabeças de planilha jogam a toalha, mas preservam os frutos
Esse artigo do Lara Resende tem alguns problemas graves.
Primeiro, diferentemente do que ele sugere, o modelo IS-LM prevê que ocorra exatamente o que ocorreu em relação ao Quantitative Easing.
Além disso, diferentemente do Lara Resende e do Cochrane, pessoas como o Krugman, basearam-se no IS-LM para fazer previsões ANTES dos fatos acontecerem.
Aliás, recebendo críticas contundentes de pessoas como o próprio Cochrane, que errou COMPLETAMENTE em suas previsões, sem nunca ter a dignidade de assumir seus erros, baixar a bola e procurar corrigir seus rumos.
A Internet possui várias desvantagens, mas uma vantagem é que tudo fica registrado e pode ser conferido por todos.
Podem conferir um resumo muito bem feito pelo DeLong sobre o histórico desses debates e previsões:
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Lara Resende também se equivoca COMPLETAMENTE ao afirmar que
“A experiência do QE deixou claro que o financiamento monetário – através da expansão de reservas remuneradas no banco central – não é inflacionário.”
Não é verdade e não é isso que o IS-LM afirma, por exemplo. É precisamente na situação da Armadilha de Liquidez que “o financiamento monetário – através da expansão de reservas remuneradas no banco central – não é inflacionário”. Finalmente, o fato do Lara Resende estar se baseando em Cochrane se revela ao final, quando ele defende que o grande problema da inflação no Brasil seria a falta de sustentabilidade das contas públicas, o que é um assunto sério demais para ser tratado dessa maneira leviana e superficial com que ele e os economistas do governo Temer tratam essa questão.
E Lara Resende é pródigo em se utilizar adjetivos que impressionam os incautos, mas são facilmente desmontados por pessoas mais atentas.
A fronteira da macroeconomia NÃO está nesse momento com pessoas como o Cochrane…
Está, na verdade, começando a se afastar da chamada Hipótese da Renda Permanente, introduzida por Friedman, e de modo mais geral da Hipótese de Agentes Racionais, defendida por Cochrane.
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Aliás, coincidentemente, o Krugman postou ontem um twitter mencionando um post bem interessante do Noah Simith, que até um tempo atrás defendia as ideias equivocadas do Cochrane:
Esse post tem um link para um outro post anterior muito interessante sobre o mesmo tema:
E também tem um link para um artigo recentíssimo do Xavier Gabaix implementando essas ideias de racionalidade limitada num modelo que apresenta características Keynesianas no curto prazo e neo-Fisherianas no longo prazo.
http://pages.stern.nyu.edu/~xgabaix/papers/brNK.pdf
Só que uma das conclusões desse modelo, diferentemente do que é defendido pelos conservadores Lara Resende e Cochrane, é que uma política fiscal ativa é ainda muito mais justificada do que nos modelos neo-Keynesianos tradicionais!
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Cá entre nós
De modelos a Física também está cheio deles. Abrace o seu. Se não houver como demonstrar a validade, melhor.
A crítica ao Lara Resende é
A crítica ao Lara Resende é váida.
Não ficou claro pra mim se você rebate ou apoia a ideia de baixar os juros.
Esse é o grande problema do Brasil e não afeta a inflação no longo prazo, como defende o Nassif, que trouxe o texto do Lara Resende (cheio dos adjetivos que vc critica, mas) afirmando que o Brasil pode baixar os juros, se a única razão pra isso for “controlar” a inflação.
Lara Resende é Lobo em pele de Cordeiro
Destaco a seguinte passagem da réplica do Oureiro a Lara Resende:
https://jlcoreiro.wordpress.com/2017/01/15/nihil-novi-sub-sole-uma-replica-a-lara-resende/
Antes de passar a análise do caso brasileiro não posso deixar de comentar que no modelo Sargent-Wallace (e, por tabela, no artigo de Lara Resende) a moeda é, por assim dizer, hiper-neutra, ou seja, ela não é capaz, sequer, de controlar o nível de preços (ou a taxa de inflação). Enfatizo isso porque não consegui entender o entusiasmo com o qual muitos heterodoxos saudaram o texto de Lara Resende. Ora um dos elementos do nucleo-duro do pensamento heterodoxo é precisamente a não-neutralidade da moeda, tanto no curto como no longo-prazo. Afirmar a hiper-neutralidade da moeda não tem nada de heterodoxo. Trata-se apenas do projeto novo-clássico levado as suas ultimas consequências.