Carmen Lúcia, a nova Marina Silva, por Danilo Thomaz

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Foto Antonio Cruz/Ag Brasil

Carmen Lúcia, a nova Marina Silva

por Danilo Thomaz

O perfil da presidente do Supremo Tribunal Federal – STF, Carmen Lúcia, publicado na revista Piauí de junho, é a primeira peça relevante acerca da personagem que ocupa a cadeira mais alta do nosso egrégio tribunal. Com discrição, a reportagem revela, a cada parágrafo, um pouco menos de Carmen Lúcia. Revelando por contraponto o vazio de sua figura – que muito lembra outra especialista em platitudes, Marina Silva. 

Como sempre acontece, Carmen Lúcia descreveu um Brasil que só existe em sua fala. Disse que as instituições estão funcionando, apesar de dois presidentes – uma legítima (Dilma), um ilegítimo (Temer) – terem áudios vazados, num claro atentado à ordem institucional (para ficar em apenas dois exemplos). Afirmou que a crise política é difícil, mas talvez não seja um problema grave, apesar da iminência da queda de outro presidente no período de um ano, afinal, “viver é difícil” e “algumas vezes, é mais difícil”. Mesmo que fosse grave, não há nada que ela possa fazer: “a crise é política e tem de ser resolvida politicamente. Eu sou juíza e ponto.” Assim, peremptória, sem ser contestada. Como também em relação às questões problemáticas do STF – como o excesso de pedidos de vistas e liminares sem julgamento: “É claro que há um excesso de processos e um número reduzido de juízes para tanta demanda. (…) imprescindível que se resolva isso.” Como? Se ela sabe, não disse.

Atitudes que nada têm a ver com o cargo de presidente do Supremo – como receber 55 crianças órfãs no STF – foram ignoradas. Bem como suas incongruências: dois dias depois de confraternizar com crianças pobres e órfãs como uma primeira-dama dos anos 1950, Carmen Lúcia encontrou-se com Meireles e defendeu a PEC 55, a proposta de controle de gastos mais draconiana da história, que prejudicará essas mesmas crianças.

O perfil cita o encontro da ministra com empresários – os verdadeiros interessados nas reformas de Temer e na segurança jurídica das mesmas – que a consideram “discreta”. Claro que não o suficiente para deixar de emitir opiniões fora dos autos, tirar fotos com criancinhas, soltar frases de efeito (“Cala a boca já morreu”) e ser a primeira entrevistada do Conversa com Bial, na maior emissora do TV do país. Entre as frases impactantes que disse, pode-se destacar: “Eu continuo acreditando no Brasil.”

Pelo visto há (mais uma) Marina Silva para 2018. Mas não importa. “O país vai sempre sobreviver.”

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

15 Comentários

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  1. The best of piores. É tetra!

    O pior Congresso(1) desde 1889, o pior presidente (2)  desde 1889, o pior Judiciário (3)  desde 1808 e os piores homens (e mulheres) públicos (4) desde 1500, e certamente do Planeta Terra, quiçá do Universo. É TETRA! É TETRA! É TETRA! (*) 

    (*) …E mais uma vez, o mundo se curva ao Brasil

  2. A favor da mesma a Nota

    A favor da mesma a Nota duríssima que emitiu em função das denúncias da VEJA segundo a qual o governo estaria espionando o ministro Fachin. Vamos aguardar o GGN publicar. 

      1. Exato. A Nota é pertinente,

        Exato. A Nota é pertinente, sim, mas também serve para questionar as razões de não usar do mesmo empenho fora do escopo corporativista. 

  3. Falou, falou e não disse
    Falou, falou e não disse nada, e assim fazendo revelou tudo, expôs-se por completo em todo a sua nulidade.

  4. A história cobrará um alto

    A história cobrará um alto preço deste senhora, pelo seu papel político ativo no desenrolar do golpe institucional no Estado brasileiro. Ela é cúmplice no que agora chama de ditadura, sendo que ela foi uma dos principais sujeitos históricos a colaborar para que chegássemos a este estado de coisas. 

    Não sairá incólume, numa neutralidade que não tem, de modo algum, diante dos fatos que ajudou a desencadear por causa de sua passividade cúmplice com o golpe de Estado de 2016. Ao invés de ter a coragem necessária de uma juíza do STF para defender princípios constitucionais da carta de 1988, ela não só deu cobertura, mas ajudou a dar o verniz supostamente legal (mas sem legitimidade, que não é um conceito jurídico, mas sociológico e quer dizer que uma lei ou um fato jurídico só tem valor histórico, social e econômico se amparado no respaldo social e consentimento dos atores políticos incluindo-se os cidadãos) a uma jogada politiqueira de um grupo de políticos extremamente corruptos que tomaram de assalto o poder central em nome de um suposto combate à corrupção (logo eles, os mais corruptos).

    Pior ainda, esta senhora foi e continua sendo cúmplice não só do desastre político para o qual deu consentimento (concordou com a prisão do senador Delcídio do Amaral, mas nada faz até agora para a prisão do queredinho dela, o senador Aécio Neves, flagrado em crimes muito mais graves do que o ex senador Delcídio) mas do desastre econômico e social que o golpe de Estado de 2016 trouxe e está aprofundando no país.

    Ela ficará, para sempre, marcada na história brasileira, como uma das carrascas da democracia e dos avanços nas políticas sociais pela diminuição das desigualdades no Brasil. Pior ainda, sendo mulher, também ficará marcad por sua própria misoginia, por exemplo, quando declarou, em entrevista, ao assumir o cargo de presidenta do STF que preferia ser chamada de presidente porque respeitava a língua portuguesa (demonstrando que não entende nada de língua portuguesa com uma maior profundidade linguística). Com a resposta retórica dela, o que ficou patente é que ela estava dando uma punhalada na presidenta Dilma, muito mais do que falar em questões gramaticais (ela poderia dizer, simplesmente, que seria indiferente, ou que preferia ser chamada de presidente, porque era a palavra mais comum usada no dia a dia na sociedade brasileira, sem investir, nada neutramente, na opção de afirmação feminista da primeira presidenta da república brasileira). Só que a atitude desleal dela para com a presidenta Dilma e para com o movimento social feminista não ficará como algo irrelevante, como o que diz ou deixa de dizer a escritora espanhola, disfarçada de brasileira (mas com cara de indígena andina), Nélida Piñon (que não faz uma obra feminina e que não reconhece o discurso feminista autoral na literatura). No caso da presidenta do STF, o caso é muito mais grave, ela ficará marcada como a presidenta do STF que nada fez para garantir a Constituição de 1988, permitindo que o golpe de 2016 prosperasse com seu beneplácido político de apoio a um movimento com conotações fascistizantes.

    Ou ela começa rapidamente a corrigir “a curva” de sua trajetória política anti democrática e anti progressista, ou ficará, para sempre, como uma das sujeitas ativas da construção de uma nova ditadura civil ou militar (pouco importa) que agora temos. Não dá para lavar as mãos no julgamento permanente da história, como Pôncios Pilatos (como o procurador imperial romana, ela poderá ficar, durante dois mil anos, como uma das personagens históricas de um julgamento fraudulento e injusto). A história nunca esquece.

    1. Concordo com tudo, porém

      Essa senhora medíocre assumiu a presidência do STF em 12 de setembro de 2016, quando o golpe já estava consumado. Antes dela, Lewandowski não só assistiu de camarote como presidiu a sessão que consumou o golpe e a destruição do sistema político-institucional do País, e nos legou uma camarilha de bandidos no poder, cujo passatempo é depenar o Brasil. 

      Concordo também que o recibo de mediocridade e falta de caráter foi o lance da “presidente ou presidenta”, um gesto vil e mesquinho de pura vingança, como só atos de vingança podem ser. 

      1. Não é pessoal
        Meu comentário é só uma maneira de manifestar pressão cidadã para que o STF cumpra ativamente com o seu dever pró ativo de defesa da Constituição de 1988 e do Estado de Direito golpeado. Ministros do STF não podem justificar o arbítrio.

        Pouco importa aqui os nomes porque todos estes 11 ministros e ministras são cúmplices do golpe de Estado começado em 16 de abril de 2016 e ainda em curso.

        Se não exercerem o que lhes resta de dever constitucional e político para a restauração do equiliyde poder democrático estabelecido na Carta de 1988; ficarão para sempre marcados, como instituição, como cúmplices do golpe de Estado.

        A sociedade brasileira, não o grande capital, apelidado de mercado, nem a mídia tradicional oligárquica, tem não só o direito de fazer está pressão pelo respeito ao Estado de Direito democrático que estamos perdendo, mas o dever ético político de fazer cumprir o primeiro artigo da Constituição: todo poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido.

  5. Comprei a Piauí ontem

    Após muitos anos, parei de assinar a Piauí no final do ano passado, voltei a assinar. Ainda não terminei de ler o perfil da ministra, antes de partir pro ensaio do Haddad, mas dá para dizer que o autor foi econômico quanto às platitudes e ao vazio da pessoa que preside a mais alta corte. 

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