Por Maria Eduarda
A mulher arrasta os pés pelo corredor longo de portas fechadas. A luz fria engana; é dia ou noite? O cheiro de desinfetante e drogas arranha o nariz. O som de gritos, choros e gemidos atravessa as portas e fura os ouvidos. O coração bate acelerado. Dois passos adiante, andando eficientemente, segue outra mulher, imune à luz, ao odor e ao barulho. Nestas horas a ironia é irresistível.‘Vocês dão beliscão nelas?’ Pergunta a mulher que se arrasta. A outra dá uma piscadela antes de abrir a porta de um quarto vazio. As duas entram. Pouco depois é a vez de a mulher gritar, gemer e chorar. Falam por aí que a dor do parto é uma das mais doídas.
Call the Midwife |
Os recordistas Tatiane e Gabriel |
Beth nasceu em casa |
Luciana, que tinha tudo planejado e Lucas |
Call the Midwife |
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.
“Como se tivesse falhado”
“Como se tivesse falhado” não, o trabalho de parto bem atendido que acaba em cesariana é por falha do corpo sim. Se tudo tivesse corrido perfeita e fisiologicamente bem o bb teria nascido através de parto, simples assim.
Daí a sentir culpa, complexo de inferioridade é outra história. As mulheres costumam relatar que sentem necessidade de fazer um luto pelo não-parto, sentem que precisam entender o que deu errado e digerir tudo o que aconteceu. Sensação de perda, luto, tristeza – é perfeitamente normal chorar pelo parto perdido.
Completamente diferente da mulher que fez cesariana eletiva (sem trabalho de parto) sem necessidade médica. Esta eu conheço: vazio, breu, o que eu faço com esse bb enorme e faminto?, insegurança, medo. O corpo e a cabeça não sabem que o bb nasceu, é horrível!
É o oposto do parto normal ativo (fiz um em casa), no qual há brilho, força, poder, ânimo, leite jorrando, amor instantâneo pela cria (rios de ocitocina, baby). As inglesas sabem das coisas…