Economistas que assessoram Mercadante ganham destaque no governo

Do Estadão

‘Mercadante Boys’ ganham destaque no governo Dilma
 
Assim como o ministro da Casa Civil e o ex-ministro Delfim Netto, economistas que assessoram Aloizio Mercadante foram presidentes de centro acadêmico da USP
 
João Villaverde
 
BRASÍLIA – Quando era estudante de Economia da USP, Aloizio Mercadante foi presidente do Centro Acadêmico Visconde de Cairu (CACV) no atribulado ano de 1976, quando o “milagre econômico” da ditadura militar começava a dar sinais de fadiga.

O principal formulador econômico do regime, Antônio Delfim Netto, também havia sido presidente do CACV, em 1951. Ministro todo-poderoso de 1967 a 1974, Delfim Netto tinha em seu gabinete um grupo de economistas egressos da USP e da UFRJ, que o Estado apelidou de “Delfim Boys”. Quarenta anos depois, uma nova equipe de jovens economistas se prepara para, na Casa Civil, ajudar o governo Dilma Rousseff a promover desenvolvimento.

Formado em economia pela USP, e com doutorado na disciplina pela Unicamp – onde teve Delfim Netto entre os examinadores -, Mercadante chega à Casa Civil com a missão de defender e aprimorar a política econômica do governo. Em sua equipe, o ministro conta com nada menos que dois ex-presidentes do mesmo CACV que ele e Delfim Netto presidiram – os assessores especiais Guilherme Penin Santos de Lima e Gabriel Ferraz Aidar.

Na Casa Civil desde 2012, ambos devem ganhar papel mais destacado. Penin presidiu o centro acadêmico dos economistas da USP em 2003, quando o PT de Mercadante assumiu o governo federal, e Aidar liderou o CACV dois anos mais tarde, quando a explosão do “mensalão” fez a então ministra de Minas e Energia do governo Lula, Dilma Rousseff, chegar à Casa Civil, para substituir José Dirceu. Quando Mercadante era o líder do PT no Senado, já no segundo mandato de Lula, Aidar estava concluindo seu mestrado em economia na UFRJ.

Além da equipe já formada, Mercadante trouxe para a Casa Civil mais dois jovens economistas oriundos da USP: Fernando Sakon e Marcus Aguiar. Antes de se tornar assessor especial do ministro da Casa Civil, Sakon trabalhou por cinco anos na Ideias Consultoria, fundada por Delfim Netto, em São Paulo. Aguiar, que foi do BNDES, estava com Mercadante no Ministério da Educação.

Desenvolvimentismo. Os novos “Mercadante Boys” não podem ser acusados de pensar diferente do chefe. Crítico do neoliberalismo implementado por Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), o novo ministro da Casa Civil defendeu no doutorado a tese de que o governo Luiz Inácio Lula da Silva criara um “novo desenvolvimentismo”, em que o Estado fazia a distribuição de renda, o que permitia, com certo grau de dirigismo estatal, acelerar o crescimento econômico.

Cartilha semelhante é defendida, em maior ou menor grau, por seus subordinados no Planalto. Aidar, por exemplo, escreveu um trabalho acadêmico (“paper”, no linguajar universitário) em 2010 que destacava o papel da política fiscal e monetária como “instrumentos anticíclicos”, isto é, que deveriam ser usados – como foram, no Brasil – para contrabalançar os efeitos de uma crise econômica.

O trabalho de Aidar, Auge e declínio da teleologia neoliberal, se apoia em textos de Celso Furtado e Dani Rodrik, passado e presente do desenvolvimentismo, além de destrinchar os trabalhos dos principais teóricos do que viria a ser chamado “Consenso de Washington” – John Williamson, economista, e Francis Fukuyama, historiador.

A teoria neoliberal, apoiada na ideia de Estado mínimo, privatizações e desregulamentação da economia, esteve presente na casa de Aidar – sua mãe, Ana Carolina Aidar, foi, nos anos 1990, diretora de privatização do BBA e depois responsável pelos negócios no Brasil de um dos maiores fundos de investimentos do mundo, o Chase Capital Partners.

Já Penin focou sua dissertação de mestrado na recuperação da indústria naval brasileira, fenômeno iniciado no fim dos anos 1990 que se acentuou a partir de 2004. O economista destacou casos de êxito, como o japonês e o sul-coreano, onde o Estado teve papel central ao direcionar a demanda e facilitar o modelo de negócios da indústria. Penin tem sido um dos principais e mais elogiados técnicos do governo na área portuária.

Em tempo: a alcunha “Delfim Boys” era uma referência aos famosos “Chicago Boys” – a turma de economistas liberais que orbitava em torno de Milton Friedman, nome maior da Universidade de Chicago, que levaria o Prêmio Nobel de Economia em 1974, auge do “milagre econômico” brasileiro.

Porém, os economistas que acompanham Delfim Netto no Brasil são desenvolvimentistas – entendem que o Estado tem papel central no desenvolvimento econômico.

 

Redação

14 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Pois é, desde 1951 não?
    Esses

    Pois é, desde 1951 não?

    Esses “cabeças” estudam, estudam, estudam, estudam, estudam, estudam e puffffffffff, o país continua desigual, o povo melhorou de vida só um pouquinho por que estava copm a corda no pescoço, mas ganhar 800 paus de salario não dá para fazer de ninguem “crasse media” como o governo enche a boca para falar, gostaria que os m. boys vivessem com isso por um mes. A verdade é uma só, estudam, estudam, estudam, estudam, desde 1951 ( pagamos para eles estudarem, já que é em faculdade publica)  e pufffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffff…………………………………………………………………….

  2. os mercadantes boys

    Boa parte do trabalho das equipes economicas que rodearam Lula, no primeiro e no segundo mandatos, e de Dilma, no presente, foi marcantemente defensivo, tendo em vista sobretudo as circunstâncias internas e externas do país. A manutenção e a estimulação da demanda interna são a face mais visível desta política, mas não a única. Destacaram-se, ademais, no mesmo sentido,  também as competentes e vantajosas operações cambiais do BC, sem buscar argumentos mais longe. É verdade que com Dilma viu-se também uma tentativa de favorecer a concentração economica em certos setores, tentativa cuja maior ou menor felicidade em sua realização será, com certeza, objeto de ampla avaliação, inclusive dos partidos da base de seu governo, neste ano de eleições. A adesão de Mercadante e de seus auxiliares mais diretos a essa política bem sucedida não representa, portanto, o comêço de uma nova política mas, ao contrário, segundo entendo, o encerramento da atual. É porisso que não acredito que ele possa realizar mais que isso. Uma nova política econômica necessita de um ministro com uma visão mundial dos processos reais da economia política.  

  3. Casa Civil

    Casa Civil  – Ministério meio de campo, não vejo como economistas desenvolvimentistas lotados na Casa Civil irão afetar as políticas públicas desenvolvidas pelo Ministério da Industria e Comércio e o Ministério do Planejamento, bem como terão força nas decisões do Ministério da Fazenda e no Banco Central do Brasil.

    A Dilma está bagunçando o coreto.

    Falta Rumo, Falta Norte e Falta Estrela para este governo.

    Em casa que falta pão, todo mundo grita e ninguém tem razão.

    1. Ou você tá brincando, ou é realmente do contra.

      Alexandre, provavelmente você não conhece como funciona exatamente o organograma dos ministérios, senão não escreveria tantas coisas que não procedem, como esta em que define o mais próximo ministério do governo federal, como “meio de campo”.que não teria autonomia para interferir nos demais ministérios relacionados ao desenvolvimento e economia, o que contraría frontalmente, o que ocorre na área da Casa Civil, que coordena e aprova/desaprova, todos os projetos que envolvam valores e empenhos do dinheiro público, é a fonte de consulta mais consultada e mais próxima da Presidencia da República.

      Portanto suas considerações, são inoportunas e fora do contêxto.

    2. Pô, Weber… dá um toque lá

      Pô, Weber… dá um toque lá pra Dilma!, Passa pra ela suas idéias, ajuda a Presidenta com sua experiência e seu vasto conhecimento. Não custa nada você dar  uma assessoria pra ela, que “tá bagunçando o coreto”. Seria um imenso favor que você faria ao Brasil e ao povo brazuca. Contamos com sua inestimável ajuda. Mostra pra eles, garoto!

  4. As melhores cabeças pensantes deste país.

    Não bastasse, o Mercadante ser hoje, efetivamente o mais confiável e experimentado ministro do governo Dilma, aonde demonstrou nos ministérios por onde passou, ser eficiente ao máximo, e cumpridor na íntegra, das missões a ele confiadas pela Presidenta, daí ter chegado à Casa Civil, ele sabe como ninguem, onde encontrar as pessoas certas, para ajuda-lo a exercer corretamente suas funções, e estes dois “boys” são provavelmente as melhores cabeças pensantes e tecnicamente falando, os melhores economistas deste país, que “pensam” a economia, antes da política.

  5. FEA USP = Delfim Netto.

    FEA USP = Delfim Netto. Difícil um economista da USP que se desvincule do pensamento “Delfiniano”. Tanto que seus filhos mais brilhantes acabam se abrigando sob as asas do mesmo, como a reportagem bem demonstra.

    A bem da verdade, tantas décadas de dominância levaram a faculdade ao ostracismo, que agora o Mercadante faz o “favor” de resgatar.

    A “meca” do “desenvolvimentismo” brasileiro é a Unicamp. Se o governo quisesse uma virada “progressista”, não há nome mais certo do que Márcio Pochmann, que parece que ostenta papel meramente decorativo no partido.

     

    1. FEA USP

      FEA USP ostracismo?

      Informe-se melhor. A faculdade já teve até professora contribuindo com ganhadores do prêmio Nobel de economia recentemente (2012)

    2. “A bem da verdade, tantas

      “A bem da verdade, tantas décadas de dominância levaram a faculdade ao ostracismo, que agora o Mercadante faz o “favor” de resgatar.”

      Faça me o favor digo eu, depois da caducidade da ciência da economia, os senhores não queiram fazer o Estado de asilo. Fizeram muita besteira aqui fora. Agora de papel meramente decorativo chega os que já estão lá.

  6. Sem dúvida, Mercante sendo

    Sem dúvida, Mercante sendo presidente com a turma do Delfim na ecomomia para revivermos  os gloriiosos índiices econômicos será o paraíso.

  7. A ignorância de extensão dos economistas.

    Como adreditar neles?

    A ignorância é a ignorância, dela não se pode derivar nenhum direito de justificação do mundo para os países.

    Entra ano sai ano e o mundo fica pior.

    Substituir uma ignorância por outra ignorância do mundo não trás a sua explicação no tempo.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador