Favorito à presidência da Câmara, Cunha já propôs criminalizar a “heterofobia”

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Cunha e a cruzada contra “gays, abortistas e maconheiros”

Por Maurício Moraes

Na CartaCapital

Deixem de pensar por um minuto em Bolsonaro ou no Marco Feliciano. O inimigo número 1 dos LGBTs (e das mulheres, das minorias, dos movimentos sociais, dos maconheiros e de mais um monte de gente) na próxima temporada tem nome: Eduardo Cunha. Em breve é possível que ele tenha também novo cargo, um dos mais altos da República, a presidência da Câmara dos Deputados.

“Estamos sob ataque dos gays, abortistas e maconheiros”, já tuitou, peremptório, o deputado carioca do PMDB, o mais esperto representante dos fundamentalistas religiosos no Congresso.

Em 2010, Eduardo Cunha apresentou um projeto no mínimo excêntrico, para não dizer insolente: a criminalização da heterofobia. No alto de sua hombridade, Cunha se sentia “descriminado” pelos LGBTs, como argumentou na época. Mas isso é fichinha…

Vamos às apresentações. Eduardo Cunha, 56 anos, é radialista, economista e líder evangélico. Entrou na política pelas mãos do tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor, o falecido PC Farias. Cunha era o responsável pelas finanças do comitê carioca do então candidato, em 1989. Virou presidente da antiga Telerj, a companhia telefônica do Rio. Foi exonerado depois de um escândalo de corrupção na estatal.

Tornou-se então radialista da Melodia, rádio de propriedade do pastor e ex-deputado Francisco Silva, fundador da Igreja Sara Nossa Terra. Evangélico, Cunha reapareceu no centro da política carioca em 1999, com a ajuda do então governador Anthony Garotinho. Virou presidente da Companhia Estadual de Habitação, mas ficou no cargo por apenas seis meses. Foi afastado em meio a outro escândalo de corrupção.

Em 2001, virou deputado estadual (era suplente), garantindo imunidade parlamentar em meio às investigações. Daí em diante teve uma carreira meteórica, embalada pelo bordão de seu programa de rádio “O povo merece respeito!”. No ano seguinte, elegeu-se deputado federal. Não demorou muito para se tornar um mestre do ofício nos corredores do Congresso.

Eduardo Cunha, agora do PMDB (já foi PRN e PPB), é o nome mais cotado para by AdBlocker Manger”>ganhar a presidência da Câmara. Ou seja, ele será a pessoa a escolher qual projeto de lei vai ou não a votação no plenário. E Cunha já avisou: não colocará na pauta qualquer projeto que criminalize a homofobia, que mude a lei do aborto ou que revise a política de drogas.

Ou seja, o compromisso de Dilma Rousseff de pautar a criminalização da homo e da transfobia no Brasil está em risco. Cunha, aliás, é um dos grandes pesadelos da presidenta e o mais resiliente exemplo da esquizofrenia e disfuncionalidade do sistema político brasileiro (cadê a Reforma Política?).

Embora seja do PMDB, um partido em tese aliado, tem sido o grande inimigo do Planalto. (E você, que é de oposição de esquerda, não precisa comemorar esse fato, como já verá).

Cunha foi um dos maiores empecilhos na aprovação de legislações progressistas como o Marco Civil da Internet. Era ferrenho opositor da “neutralidade da rede”, que proíbe as empresas de telecomunicações de regular o conteúdo que circula no serviço de internet. A liberdade na rede do cidadão significa, nesse caso, menos lucros para as teles o que explica o lobby ferrenho dessas empresas para barrar a legislação.

Habilidoso e determinado, Eduardo Cunha montou uma imensa rede de contatos e apoios na Câmara (sempre com as piores companhias). Um alto integrante do governo já me disse em conversa reservada que “se precisar fazer reunião as 7h da manhã, ele está lá”.

Reportagem da Folha de S. Paulo mostrou que Cunha driblou até mesmo os caciques do PMDB ao formar uma bancada particular:

“O executivo de uma grande empresa disse à Folha que este ano recebeu de Cunha pedido para fazer doações a um grupo de 20 a 30 candidatos a deputado, a maior parte do Rio, de Minas Gerais e do Nordeste”, disse a reportagem.

“Foi assim que o líder do PMDB montou ‘uma cadeia de agradecimentos'” no Congresso, segundo o jornal. São esses deputados os que podem eleger Cunha. Estratégia digna de Frank Underwood, o ambicioso deputado americano retratado na série House of Cards.

Para quem acha que a falta de água em São Paulo e os apagões elétricos já indicam um ano desastroso, calma! No Congresso Nacional 2015 só começa dia 1 de fevereiro, com a posse dos novos deputados. Agora, sob nova direção.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

10 Comentários

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  1. Chegamos, finalmente, ao

    Chegamos, finalmente, ao fundo do poço. Só a hipótese desse cidadão ser escolhido presidente da Câmara dos Deputados, segundo na sucessão na eventual vacância da Chefia do Executivo; ter, entre seus imensos poderes, o de acolher e decidir – monocraticamente – pedidos de impedimentos do(a) presidente da República, causa-me calafrios típicos da febre advinda da malária. 

    1. Será secreta.

      É direito dos brasileiros saber em quem votou  os deputados que elegeram.  Temos que descobrir quais os congressistas que apoiam esse homem de passado tão duvidoso, como presidente do Congresso. Os que o apoiarem são farinha do mesmo saco e devem ser lembrados, para serem excluidos numa próxima eleição. Chega de picaretas!  

  2. A legislação esperta em favor de minorias

    Casal Gay ganha 20 mil na justiça ao serem repreendidos por dona de restaurante ao se beijarem em público. O casal foi advertido enquanto almoçava, na frente de outros clientes.

    http://oglobo.globo.com/sociedade/justica-de-sp-condena-comerciante-por-repreender-beijo-gay-em-restaurante-do-litoral-15119145

    Casal Gay vai se amassar à vontade, em público. É dinheiro na certa. Casais gays poderiam ir a esses restaurantes caros e ficar-se beijando até alguém chamar a atenção. Travestis poderiam ir de saia a fazer barraco, e torcer para alguém chamar a atenção. Nisso é que dá essas Leis especiais de minorias, que querem viver em camarote, com legislação especial. Sempre foi possível chamar a atenção a casais héteros que, em locais públicos, ficam fazendo manifestação afetiva em excesso. Isso é bom senso. 

  3. Tudo o que havia contra Cunha

    Tudo o que havia contra Cunha na Lava Jato sofreu uma lavagem de dentro para fora e de fora para dentro. Se algum delator premiado ousar tentar dizer que tem alguma coisa contra Cunha, não vai encontrar ninguém que queira escutá-lo, toddos fugirão dele como o diabo da cruz. Nem da imprensa e muito menos do judiciáio, polícia e ministério público. Se for necessário, criarão um salvo conduto oficial para figuras como o Eduardo Cunha.

  4. Cunha, caso se eleja

    Cunha, caso se eleja presidente da Câmara, se tornará o político brasileiro mais poderoso pós-Sarney. Terá, a exemplo deste e de ACM, uma bancada própria, multipartidária, para lhe dar sustentação. Contudo, será certamente o primeiro político pós-ditadura, com carreira política feita no regime democrático, a ter essa sustentação. Além disso, sua inserção junto à bancada ruralista e, principalmente, à bancada evangélica, mostra uma forte mudança na correlação de forças histórica no Congresso, em que as bancadas católicas sempre tiveram preponderância. Cunha é uam herança política de Collor, é certo, mas deve seu ressurgimento a Garotinho. Vale lembrar que Garotinho só ganhou a eleição contra Marcelo Allencar devido ao apoio petista. O PT nacional impediu o PT estadual de lançar candidatura própria, em troca da aliança com o PDT e a vice para Brizola. Zé Dirceu foi o grande mentor e executor dessa manobra, que destruiu o PT no estado do Rio e na cidade do Rio de Janeiro. Vem daí o apoio a Cabral, a Paes e a atual situação de uti do partido no estado.  Por fim, ele se tornou efetivamente forte com Cabral no poder do estado, mas, no primeiro mandato, já disputou com Marcelo Sereno o poder em fundos de pensão. Mostrou sua enorme competência parlamentar no episódio da CPMF, tarefa que acabou credenciando-o a outras tantas. Mas tem disputas com a Globo, deve-se ter claro. E tanto ela quanto ele não esquecem jamais. Seu período na Câmara pode ser decisivo para o país e para ele ou rápido como o de Jáder Barbalho na presidência do Senado.   

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