Maquinomem

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Sugerido por Jns

                                          Helena Kolody

                                          O homem esposou a máquina 
                                          e gerou um híbrido estranho: 
                                          um cronômetro no peito 
                                          e um dínamo no crânio. 
                                          As hemácias de seu sangue 
                                          são redondos algarismos.

        

                                          Crescem cactos estatísticos 
                                          em seus abstratos jardins.

                                          Exato planejamento, 
                                          a vida do maquinomem. 
                                          Trepidam as engrenagens 
                                          no esforço das realizações.

                                          Em seu íntimo ignorado, 
                                          há uma estranha prisioneira, 
                                          cujos gritos estremecem 
                                          a metálica estrutura; 
                                          há reflexos flamejantes 
                                          de uma luz imponderável 
                                          que perturbam a frieza 
                                          do blindado maquinomem.

                                          Do livro: “Era Espacial e Trilha Sonora”, Ed. Autora, 1966, PR

                                          Ilustração de Kazuhiko Nakamura

 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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  1. millÔr ferNANdes

     

     

                                               com que grandeza

                                               ELE SE ELEVOU

                                               às maiores baixezas

    Eugene Mirman Boris – comediante e escritor norte-americano de origem russa – nas ruas de New York

  2. Ode Triunfal

    Álvaro de Campos (1)

    [ uma aula magna de dicção, sonoridade, significados e inflexões ]

    Ode Triunfal é o melhor exemplo de energia bruta e da velocidade, da vertigem agressiva do progresso, evoluindo depois no sentido de um tédio, de um desencanto e de um cansaço da vida, progressivos e auto-irônicos. Foi publicada no primeiro número da Revista Orpheu, em 1915, e foi redigida em Londres em 1914

    À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
    Tenho febre e escrevo.
    Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
    Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

    Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
    Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
    Em fúria fora e dentro de mim,
    Por todos os meus nervos dissecados fora,
    Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
    Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
    De vos ouvir demasiadamente de perto,
    E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
    De expressão de todas as minhas sensações,
    Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!

    Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical – 
    Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força – 
    Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro,
    Porque o presente é todo o passado e todo o futuro 
    E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes eléctricas
    Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão, 
    E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta, 
    Átomos que hão-de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século cem, 
    Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes,
    Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando, 
    Fazendo-me um acesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma.

    Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
    Ser completo como uma máquina!
    Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
    Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
    Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
    A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
    Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!

    *

    Ode Triunfal, de Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa)

    http://www.passeiweb.com/estudos/livros/ode_triunfal

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