Morre Eleuterio Rodriguez Neto, médico que contribuiu com a criação do SUS

Médico-sanitarista participou do movimento pela Reforma Sanitarista, nascida em decorrência de lutas contra a ditadura
Médico-sanitarista participou do movimento pela Reforma Sanitária, nascida em decorrência de lutas contra a ditadura
 
Eleuterio Rodriguez Neto faleceu em decorrência da doença neuro-degenerativa Pick, às oito horas da manhã desta segunda-feira (23), aos 67 anos, no Hospital São Luiz, em São Paulo. Eleuterio foi um dos responsáveis pela criação e consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS), a partir da chamada medicina social, abordagem dos problemas médico-sanitários através das ciências-sociais. 
 
Nascido em Campinas, interior de São Paulo, em 21 de julho de 1946, Eleuterio iniciou sua militância na Universidade de Brasília (UnB), onde graduou-se em medicina aos 24 anos, em 1970. Em 1972 decidiu largar a residência em Clínica Médica na UnB para cursar mestrado em Medicina Preventiva na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), onde teve contato com a abordagem dos problemas médico-sanitários da chamada medicina social. 
 
Iniciou sua carreira como docente na Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1975, admitido por concurso público interno. Um ano antes, Eleutério havia ingressado no Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde (NUTES), da UFRJ, onde estava sendo implantado o Centro Latino-Americano de Tecnologia Educacional em Saúde (CLATES), em cooperação com a Organização Pan-americana da Saúde (OPAS). 
 
De 1975 à 1995, quando começou a sentir os primeiros efeitos da doença de Pick, ainda não diagnosticada, Eleuterio realizou consultorias para a OPAS em Washington, D.C., EUA, PAHO/HQ, Genebra, Argentina, Colômbia, Equador, Honduras, Costa Rica, México, Chile, Bolívia, Peru, Brasília, Quebec/Canadá e Rio de Janeiro.
 
De 1980 a 1982 foi Coordenador de Planejamento e Estudos da Secretaria de Serviços Médicos até 1982, onde se destacou na formulação do “Plano de Reorientação de Assistência à Saúde Previdenciária”, elaborado pelo Conselho Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária (CONASP). 
 
Como gestor público contribuiu para a criação e consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS), pensado desde o movimento pela Reforma Sanitária, nascido da luta contra a ditadura militar a partir da metade da década de 1980. O tema central do movimento consolidado na 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986, era Saúde e Democracia, de onde resultou a emenda popular de que a saúde é um direito do cidadão e um dever do Estado, hoje garantido na Constituição Federal. 
 
A lista de atividades ao longo de sua vida profissional é ainda mais extensa, tendo atuado também como Diretor do Departamento de Planejamento, onde estruturou as Ações Integradas de Saúde (AIS), na Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (CEBES), do qual foi presidente e vice-presidente. Em 1990 deixou a UFRJ para dar aula na UnB, nesse mesmo ano foi admitido por concurso como assessor legislativo da Câmara dos Deputados. 
 
Segundo sua esposa, Lucia Ypiranga (71), Eleuterio passou a sentir os efeitos mais fortes da doença nos últimos dez anos, de lá para cá foi obrigado a se afastar das atividades acadêmicas e políticas. O mal de Pick é neuro-degenerativo atacando a região fronto-temporal do cérebro causando incapacidade cognitiva irreversível. 
 
Nos últimos dois meses o médico foi internado na UTI do Hospital São Luiz onde permaneceu até a manhã desta segunda-feira, deixando um casal de filhos, dois netos, além, é claro, de contribuições sem precedentes na história da saúde pública brasileira. 
 
Com informações da 1ª EXPOGEST-MS
 
 
Redação

11 Comentários

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  1. meus sentimentos e minha admiração

    Nossos sentimentos pelo principal formulador da Reforma Sanitarista do Brasil. Todos nós das políticas públicas somos devedores da sua capacidade de formular e implantar o Sistema Único de Saúde que se tornou um modelo para todas as outras políticas sociais. Uma grande perda para o país.

    Agradeço em meu nome e em nome de todos os meus colegas, gestores de políticas públicas, termos tido a honra de conviver e espelhar nossa prática no modelo formulado por um grande brasileiro, médico e sanitarista: Eleutério!

  2. E sabem quem mais morreu

    E sabem quem mais morreu hoje?  O criador de uma das armas mais usadas no mundo: AK-47,Mikhail Kalashnikov.

    Morre aos 94 anos Mikhail Kalashnikov, inventor da AK-47

    Arma é uma das mais usadas no mundo e foi criada logo após a 2.ª Guerra; inventor estava internado desde novembro

    23 de dezembro de 2013 | 14h 35 O Estado de S. Paulo

    MOSCOU – O inventor do famoso fuzil de assalto soviético AK-47, Mikhail Kalashnikov, morreu nesta segunda-feira (23), aos 94 anos. O anúncio foi feito pela agência de notícias oficial Itar-Tass, que citou um porta-voz das autoridades da República de Udmurtia, na região dos Urais, na Rússia. O inventor da Kalashnikov enfrentava problemas de saúde e estava internado desde novembro. Ele morreu na cidade de Izhevsk. 

    O trabalho de Kalashnikov para a União Soviética o imortalizou no nome da arma de fogo mais popular do planeta, usado tanto por exércitos regulares quanto por grupos armados clandestinos e rebeldes em todo o planeta. O nome AK-47 é uma combinação das iniciais do nome do fuzil, “Avtomat Kalashnikova”, e o ano em que a arma começou a ser produzida, 1947.

    Inspirada no fuzil de assalto alemão Sturmgewehr 44, a arma popularizou-se por causa de sua manutenção relativamente simples, por sua resistência a condições adversas, como água, areia e lama, e também por seu baixo custo.

    Estima-se que 100 milhões de fuzis AK-47 estejam em uso em todo o mundo desde sua invenção, após a 2.ª Guerra.

    Questionado em 2007 sobre sua contribuição para o derramamento de sangue em conflitos pelo mundo, Kalashnikov respondeu: “Eu durmo bem. São os políticos os culpados pela falta de acordo e pelo recurso à violência”. /AP e REUTERS

     http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,morre-aos-94-anos-mikhail-kalashnikov-inventor-da-ak-47,1111849,0.htm

  3. Agradecimentos

    Em nome de minha família, agradeço a todos pelas manifestações de solidariedade e, principalmente, pelo reconhecimento de sua luta e sua obra.

     

  4. Falecimento do mestre mostra o quão ineficaz o SUS ainda é.

    E foi sintomático que o professor Eleutério, grande defensor do SUS e da medicina social/coletiva, tenha morrido em um hospital particular usando plano de saúde. Isso diz muito sobre como o SUS continua, 25 anos depois, sendo apenas um belo texto de papel.

  5. É lamentável que o SUS,

    É lamentável que o SUS,  teoricamente tão perfeito, na prática não “permita” que um de seus principais idealizadores o utilize como “plano de saúde”.  O falecimento de um idealizador do SUS em um serviço privado  demonstra que na realidade há muita ideologia e pouca ciência médica/gestão  no SUS.  Então vale o “faça o que digo mas não faça o que faço?”.   A viabilidade do SUS fica como promessa,  uma conquista por acontecer talvez num futuro distante quando menos ideologia e mais técnica for a prioridade.  

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