MP do governo Temer pretende imobilizar o BNDES, por Thiago Mitidieri

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Foto: Divulgação
 
Jornal GGN – Em discussão no Congresso Nacional, a Medida Provisória 777 pretende alterar a taxa de juros aplicada pelo BNDES, a TJLP, pela TLP, se aproximando da taxa básica, a Selic. Os defensores da mudança afirmam que isso reduziria o “subsídio” do governo nos empréstimos do banco de desenvolvimento.
 
Em artigo no O Globo, Thiago Mitidieri, presidente da Associação dos Funcionários do BNDES, diz que a MP vai prejudicar o setor produtivo, que enfrentará mais obstáculos para o investimento, justamente em um momento de alto desemprego. 
 
Quem ganha é o setor financeiro, que vai ter um controle quase total sobre o mercado do crédito no país. A alteração fará com que o BNDES fique sem seu principal instrumento para ser um banco de desenvolvimento, diz Mitidieri. 
 
“No momento que o país mais precisa de um banco de desenvolvimento para financiar investimentos que possam contribuir para retomar o crescimento da economia, o governo está decidindo imobilizar o BNDES”, afirma. 

 
Leia a coluna completa abaixo: 
 
Do O Globo
 
A MP que quer imobilizar o BNDES
 
Selic é a maior anomalia da economia brasileira, fruto de uma política monetária insensível ao lado real e principal responsável pelo ‘problema fiscal’ da União
 
Por Thiago Mitidieri
 
As próximas semanas serão decisivas para o futuro do BNDES, pois serão marcadas pelas discussões finais a respeito da MP 777, que dispõe sobre a mudança na taxa de juros atual aplicada pelo banco para investimentos de longo prazo, a segura TJLP, pela TLP, regulada pelo mercado. Diferentes interesses econômicos estão em lados opostos na discussão, que se desdobra também numa disputa sobre o sentido da medida do governo no atual momento de grave crise, com 14 milhões de desempregados.
 
De um lado, a MP pune o setor produtivo empregador, que passa a ter mais barreiras para o investimento, encarecendo o custo do financiamento e aumentando o seu risco. Com isso, reduz a competitividade da indústria brasileira, especialmente a de bens de capital, favorecendo a concorrência estrangeira. Também prejudica as empresas que mais precisam de crédito ao inviabilizar o Cartão BNDES, produto voltado para o conjunto de micro e pequenas empresas e que cobre todo o território nacional.
 
Na outra ponta está o setor financeiro privado nacional e internacional, que ganha por passar a ter o controle quase absoluto sobre o crédito no Brasil. No âmbito do governo, prevalece a vontade da Fazenda e do BC. Perde o BNDES com a eliminação do seu principal instrumento para ser um banco de desenvolvimento.
 
No caso da infraestrutura, o setor não é atrativo o suficiente para os bancos privados, uma vez que o prazo de maturação dos investimentos é muito longo, e o retorno sobre o capital investido é bem mais modesto. Segundo a Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústria de Base (Abdib ), o déficit brasileiro no setor corresponde a R$ 3 trilhões. Vale ressaltar que até mesmo em países onde o mercado de capitais privado de longo prazo é desenvolvido e as taxas de juros são historicamente baixas e estáveis, o mercado não tem apetite para financiar investimentos em infraestrutura.
 
E, em que pese essa realidade, o maior obstáculo ao desenvolvimento do mercado de capitais privado de longo prazo no Brasil não é nem o BNDES nem a TJLP; mas sim a Selic, por ser uma taxa de juros básica muito elevada e operada de forma descoordenada. A Selic é a maior anomalia da economia brasileira, fruto de uma política monetária insensível ao lado real e principal responsável pelo “problema fiscal” da União.
 
É importante que fique claro que os funcionários do BNDES se opuseram e rejeitaram a proposta de extinção da TJLP em assembleia realizada em abril deste ano. A elaboração, capitaneada pelo ex-diretor Vinicius Carrasco, foi muito discutida com a Fazenda e o BC, mas não com o Banco, que é a parte mais afetada pela MP 777.
 
Que se diga como um alerta, que essa medida é uma “inversão de prioridade” da política econômica. Pois, no momento que o país mais precisa de um banco de desenvolvimento para financiar investimentos que possam contribuir para retomar o crescimento da economia, o governo está decidindo imobilizar o BNDES, cuja consequência será afundar a economia brasileira ainda mais na recessão.
 
Mas o jogo é pesado. No momento em que o presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, sinalizava preocupações com as consequências danosas da medida, os interesses econômicos que se beneficiam dela começaram a se rearticular politicamente e, de modo habitual, a dirigir sua “artilharia” para provocar o recuo do presidente, o que acabou acontecendo ontem, um pouco antes de ser iniciada a primeira audiência pública sobre a MP.
 
O desfecho, que se dará no Congresso Nacional dentro de um mês, deixará patente o peso dos diferentes interesses econômicos dominantes no país e quais os cenários possíveis para o desenvolvimento e o futuro da economia (e da sociedade) brasileira.
 
Thiago Mitidieri é presidente da Associação dos Funcionários do BNDES
 
 
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Redação

2 Comentários

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  1. MP….

    Privatarias. O Retorno. Privatarias à frente, novamente. O BNDES que foi acusado de alavancar Empresas genuinamente nacionais, com donos, diretores, tecnicos, tecnologias, conhecimento, universidades, empregos especializados, salários de 1.o nível brasileiros, está sendo preparadao para a volta do Período da Idade Média Tucana. Dinheiro Público Nacional para financiar multinacionais estrangeiras a comprarem Patrimônio Público Brasileiro. Muito dinheiro via BNDES para esta função como no período FHC. Mas sempre poderemos importar a preços extorsivos as sucatas dos donos das empresas que já foram nacionais e ter empregos braçais de ótima qualidade em Teceirizações. Afinal quem não quer trabalhar 12 por 36? Dia por noite. Natal e Ano Novo por plantão. Feriados em troca d salários terceirizados magnificos. Como podemos ser um povo tão limitado? A culpa é de quem? (P.S. A próxima bala na agulha das privatarias é sua água, que foi impedida pela ONU, nos anos 90 de ser privatizada. Agora sera se você não impedir. CEDAE / RJ é a primeira das jóias da coroa. SABESP do Alckmin já tem ações em NY faz anos)  

  2. Há um grave problema na

    Há um grave problema na concessão de emprestimos pelo BNDES a pequenas e medias empresas. O BNDES não opera diretamente nessa faixa e usa como agentes os bancos do sistema financeiro. Os empresariaos dificlmente conseguem

    esses emprestimos porque as exigencias são enormes e a boa vontade dos bancos é zero para essa linhas, que dão pouco lucro aos bancos, a comissão de agente é de 2% e o risco fica todo com o banco concedente, então de cada dez empresarios que tentam essas linhas um ou dois tem chance, os demais não passam da primeira consulta. Sem falar na “reciprocidade”

    induzida, nada é as claras, o banco agente sugere “seguros”, aplicações, etc para ter a vontade de fazer o repasse da linha BNDES. A solução seria o BNDES usar exclusivamente o BB com funcionarios seus na operação da linha, pelo menos em grandes agencias do BB. Sem isso os recursos chegarão com dificuldade às pequenas e medias empresas e se perde ai

    uma das principais funções do BNDES.

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