Poucos dias antes de morrer, Olacyr de Moraes tentou reunião com Lula

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Bilhões, mulheres e solidão

Por Mônica Bergamo

Na Folha

Cinco dias antes da morte do empresário Olacyr de Moraes, ocorrida na quarta (16), um de seus funcionários mandou um e-mail ao Instituto Lula, a pedido do chefe, para solicitar um encontro com o ex-presidente. A mensagem dizia que ele queria tratar de assuntos pessoais, informam os repórteres Bela Megale e David Friedlander.

Mesmo debilitado por um câncer de pâncreas, Olacyr sonhava em voltar a ter relevância como empresário. Desta vez o ex-bilionário, ex-rei da soja, ex-banqueiro e ex-empreiteiro queria explorar jazidas de tálio na Bahia, sua última aposta no mundo dos negócios. Buscava o apoio de Lula para fazer o projeto deslanchar.

As reuniões com executivos de sua mineradora, a Itaoeste, eram alguns dos poucos compromissos da rotina solitária do empresário nos últimos anos, quando já tinha perdido a maior parte de sua fortuna.

No aniversário de 84 anos, dia 1º de abril, ganhou festa surpresa organizada pelos funcionários da casa. Além deles, apareceram duas sobrinhas, os enfermeiros, algumas das companheiras mais jovens que ele tanto apreciava e um ou outro amigo.

Nada parecido com a badalação das festas que promovia ou frequentava. Quando fez 80 anos, lotou uma conhecida casa noturna de São Paulo com 200 convidados. Nessa fase, ele ainda cultivava uma caderneta que chegou a ter o nome de 30 mulheres, com o valor que cada uma recebia dele por mês.

“Não pense que no caderninho tinha só meninas. Tinha amigos que quebraram e perderam tudo, e ele ajudava com R$ 5.000 por mês”, diz a sobrinha Gisele Moraes, que trabalhou com Olacyr e era a pessoa da família mais ligada a ele. “A história dele com as meninas era interessante para os dois lados. Ele sempre tinha companhia e as meninas tinham a vida delas, namorados, não ficavam só com ele. Nesse final da vida, elas desapareceram.”

Desde que começou a tratar a doença, há pouco mais de um ano, o empresário passava a maior do tempo na varanda de seu apartamento de 600 m², no Itaim, assistindo a noticiários na TV. Para relembrar os tempos de prestígio, montou uma sala com dezenas de fotos das modelos com quem já tinha saído, celebridades como Xuxa e Pelé, e seu último encontro com uma autoridade, a presidente Dilma Rousseff, em 2012.

Olacyr carregou por muitos anos uma grande mágoa dos empresários e banqueiros que lhe deram as costas quando seu império começou a desmoronar, em 1995. Ele tinha sido um dos brasileiros mais jovens a entrar para a lista de bilionários da “Forbes”, foi dono de 40 empresas e da maior produção de soja do mundo. Era bajulado por políticos e empresários.

O vento mudou depois que começou a construir a Ferronorte para transportar a produção do Centro-Oeste para o porto de Santos. Ele esperava recursos públicos que nunca chegaram para financiar a ferrovia e passou a tomar empréstimos para bancar o empreendimento. Endividado, vendeu a maior parte de seu patrimônio para pagar o débito de R$ 1,4 bilhão.

“Olacyr foi corajoso a ponto de tentar construir uma ferrovia daquele tamanho comprometendo dinheiro pessoal”, diz João Santana, presidente da Constran, construtora de Olacyr e vendida em 2010 para o grupo UTC.

Os pagamentos mensais feitos pela Constran, cumprindo acordo firmado com Olacyr, sustentaram o empresário nos últimos cinco anos, quando suas despesas chegaram a R$ 200 mil só com gastos médicos. As prestações atrasaram recentemente, após o grupo UTC se tornar alvo da Operação Lava Jato, que investiga esquema de corrupção na Petrobras.

Os últimos anos do empresário ficaram marcados pela presença de oportunistas que lhe vendiam ideias furadas para arrancar dinheiro. Um deles foi o ex-senador boliviano Andres Gúzman, assassinado em 2014. Ele foi morto a tiros pelo motorista de Olacyr, que alegou à polícia não suportar mais ver Gúzman arrancar dinheiro do chefe com a promessa de negócios impossíveis.

O episódio abalou a saúde já frágil do empresário. De um ano para cá, ele praticamente não fazia nada sozinho, e repetia: “Quero ir embora. Chega dessa vida”. Pediu a pessoas próximas que não o reanimassem, caso tivesse uma parada cardíaca.

Olacyr demorou para aceitar o tratamento médico do câncer. Recebeu o diagnóstico em 2013, mas recorreu a tratamentos alternativos como as cirurgias espirituais com o médium João de Deus, em Abadiânia (GO). “Ele tinha medo de operar. Antes de João de Deus, tentou vários tratamentos naturais”, diz Sarah Mansur, amiga e assessora pessoal do empresário. Pouca gente foi ao velório, realizado no Hospital Albert Einstein. Segundo assessores de Olacyr, alguns artistas e políticos do Centro-Oeste telefonaram para prestar solidariedade.

Familiares reclamaram que a cerimônia foi curta e terminou antes da hora marcada por iniciativa de Marcos, filho do empresário. Dizem que isso explica, em parte, a falta de pessoas no velório. Procurado, Marcos de Moraes não deu resposta até a conclusão desta edição.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

9 Comentários

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  1.  
    … Mais um da “elite

     

    … Mais um da “elite branca” que imaginava ter o prazo de validade infinito!

    E “ainda por cima” poderia ter servido de [mais] bucha de canhão contra o ex presidente Lula!

    Imaginemos “os operadores” (sic) da Lava a Jato resolvendo investigar os últimos dias e reuniões recentes do “imortal” bilionário Olacir de Moraes!

    Ex bilionário!

    E ex imortal!

    E a vida cansada de ensinar lições a alunos desatentos!…

    1. Vade retro comunista dos infernos!
      Um pouco mais de respeito.
      Vc acha que está falando de quem?

      O cara colocou todo seu patrimônio a serviço da Brasil, a zona.
      Lógico que quebrou. Se tivesse comprado títulos do governo, estava na Forbes ainda.

      1.  
        … Cuidado com o excesso

         

        … Cuidado com o excesso de bilirrubina do ódio figadal!

        Esse “Vc acha que está falando de quem?” é típico do pessoal da DIREITONA!

        Vade retro Satanás!

         

      2. E …………..

        Athos, não vou comentar que nem vc, pois o que vc postou, está validado pelas estrelinhas!

        Apenas complemento o que voce disse, dizendo – Alguns comentários deveriam ser ignorados apenas pelo que nada representam, e nada acrescentam !!!

  2. Quando li essa matéria, não

    Quando li essa matéria, não tive vontade de reproduzi-la

     no Fora de Pauta.

                  Por que?

                Porque muito antes de ficar doente , o cara era um imbecil competo.O cara larga a esposa e se apoixona por outra? OK.

             Mas separar da mulher companheira, pra desfilar com séquito de umas dezenas dela com idade pra ser suas netas?

                Se fizesse na ”moita” tudo bem.Mas ele queria palco.E isso é VERGONHOSO,

               Muito pior que Suzana Vieira que pega um garotão por vez.

  3. Fazenda Itamarati

    Comecei no BB em 1975, em Ponta Porã, ainda no tempo de Mato Grosso, antes da divisão do estado. Em pouquíssimos dias já descobri que o principal cliente da agência era a Fazenda Itamarati. Ponta Porã e Dourados viviam a efervescência de serem o epicentro da nova fronteira agrícola iniciada no MS no início dos 70. As fazendas eram enormes, todas extremamente planas, o que favorecia a intensa mecanização e a utilização de aviação agrícola para pulverização de grandes áreas. Não por acaso, empresas de vendas de insumos pipocavam por toda parte, e a demanda por pilotos dispostos a voar a 3,4,5 metros do solo. A relação da Fazenda Itamarati era intensa, dezenas de contratos de financiamentos de todos os tipos, a Fazenda, cuja implantação iniciara em 1973, demandava fortemente todas as linhas de crédito possíveis em volumes altíssimos. Daí dizerem que a Itamarati “sustentava” a agência do BB local. Certo dia, em 1976, alguém apontou para um cliente entrando na agência e se dirigindo à gerência e falou: “aquele ali é o Olacir de Moraes, dono da Itamarati”. Isso e nada  para mim foi a mesma coisa, jamais havia ouvido falar em Olacir de Moraes, que só viria a ganhar a alcunha de Rei da Soja muito depois. E, pouco depois disso, fui começar a me interessar pela figura. 

    A Fazenda Itamarati 

    Frequentemente, a ABBB local convidava o pessoal da Fazenda para um jogo de futebol de salão, na cidade, e após isso churrasco e cerveja. Em seguida, era a vez da itamarati retribuir a gentileza. Só que a retribuição era em grande estilo. Fui numa dessas ocasiões em que a Fazenda convidou toda a agência (cerca de 50 funcionários) incluindo familiares para um jogo de futebol no domingo. Prepararam uma recepção à altura. Colocaram as dezenas de tratores e colheitadeiras todos alinhados, bem como os aviões agrícolas, como para dizer “olha aqui onde vai parar o dinheiro que vocês nos dão”. O nosso time atirou-se ao uísque eà cerveja, e enquanto isso o time da fazenda se concentrava e passava sebo nas chuteiras. Lá pelas 15/16 horas, o jogo. O glorioso e fortíssimo escrete da AABB entrou aos tropeços em campo e foi fragorosamente derrotado por uns 15 a zero para delírio do pessoal da Fazenda. Campo de terra batida, traves sem rede, tudo muito espartano. 

    Com poucos dias de BB, uma pessoa chegou à minha mesa e se apresentou: “Oi, sou o Bruno, meu pai é vizinho do teu tio em Adamantina (SP), conheço teus primos desde criança, sou piloto agrícola da Itamarati”. Nessa visita à Fazenda, o Bruno me mostrou as dependências, o barracão onde ficavam os aviões, etc. O que chamava a atenção é que era tudo de uma simplicidade e rusticidade desconcertante. Ali era um local de trabalho, jamais foi para o lazer do Olacir. A chamada casa sede então era o que se pode chamar de franciscana, praticamente um barracão com chão de vermelhão. Se o Olacir convidasse uma das beldades que sempre carregava à tiracolo para um “deslumbrante” fim de semana na Fazenda Itamarati seria a última vez, não havia nada, piscina, essas coisas. É certo que o Olacir gostava de festas e boates, mas seguramente não era ali que ele fazia das suas. 

    Mais um ponto que vendo pelo que comprei, sem entrar no mérito ou tentar entender o objetivo. O Bruno me mostrou 2 freezers enormes cheios de carne de todos os tipos e explicou que o Olacir tinha uma política de não permitir que nenhum funcionário plantasse, cultivasse ou tivesse algum tipo de criação, porque o que tinha nos freezers era de todos, cada um que pegasse o que precisava, todos tinham inteira liberdade de entrar e pegar. Era assim. 

    A Itamarati era uma propriedade com 50 mil hectares, soja no verão e trigo no inverno. Ponta Porã tinha ligação ferroviária com Campo Grande, passando por Maracaju e Sidrolândia. Havia o trem e a litorina. A litorina, muito mais confortável, ar condicionado, saía pontualmente às 6:00 da manhã e chegava em Campo Grande ao meio-dia. Entre Ponta Porã e Maracaju, passava-se por dentro da Fazenda Itamarati, ficava bem uns 30 minutos (ou mais) passando por dentro das plantações. Quem viajasse no inverno, passaria por dentro da plantação de trigo, que próximo da colheita era um colchão dourado ondulante que se estendia ao horizonte, não tinha fim. A cena maravilhosa remetia diretamente ao filme Doutor Jivago (1965) .

    A administração 

    A Itamarati possuía apenas dois administradores, não mais do que isso: o agrônomo Alberto Keiti Nomura e o economista Fernando Vicente Vicente (era assim mesmo o nome), um morando na sede da Fazenda e outro em São Paulo, que vinha frequentemente a Ponta Porã. Dr. Nomura, que morreu muito cedo, tornou-se lenda entre Ponta Porã e Dourados, pessoa extremamente bem quista. Trabalhei com um agrônomo em Campinas, entre 1995/2004, que havia iniciado no BB nos anos 80, em Dourados, e relatava a fama de excelência profissional do Nomura. O que chamava a atenção em ambos os administradores era a simplicidade, a educação, a fineza com que tratavam a todos no BB, como de resto todo o pessoal da fazenda. Era uma característica da empresa. Naquele tempo não havia informatização, os financiamentos eram registrados em fichas gráficas, escriturados em máquinas Burroughs. Periodicamente, o economista Fernando Vicente pegava as dezenas de fichas gráficas e levava para a Fazenda, oq ue não era permitido a ninguém, eram documentos únicos que não podiam sair do BB. Ele passava dias e dias conferindo cada lançamento e se os juros estavam certos. Vez ou outra achava diferenças, para mais e para menos, corrigidas pelo Banco, tamanha a confiança. 

    Editado 17p1

    Olacir de Moraes foi vítima. A partir do governo Sarney, os ruralistas quebraram em série com os mirabolantes planos econõmicos sucessivos, as taxas de juros indexadas do crédito rural, não eram juros fixos como agora, não se sabia quanto um financiamento de custeio viria a custar na hora de pagar. além disso, dos juros proibitivos para a atividade rural, o descasamento de preços. Imagina-se um gráfico em que os juros apontam para cima e os preços agrícolas para baixo, era assim naqueles terríveis anos 80 e 90. Investimentos altíssimos em outras áreas também comprometeram a saúde do conglomerado, empresas socorrendo empresas. O endividamento rural resultou na Securitização, que resultou no PESA – acima de R$ 200 mil -. Dívidas sobre dívidas numa espiral sem fim. Reepito, Olacyr de Moraes foi vítima dos anos loucos. 

     

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