Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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STF como biombo no truque dos mágicos, por Armando Coelho Neto

STF como biombo no truque dos mágicos

por Armando Rodrigues Coelho Neto

Enquanto era anunciada a improvável prisão de Eduardo Cunha, José Sarney e outros, a Câmara Federal dava sequencia ao debate sobre o PL 4567/16, cujo foco é Petrobras e Exploração do Pré-Sal. Na prática, as prisões seriam mais um possível factoide para distrair incautos. Primeiro, distrair os foram às ruas com a camisa da CBF pedir o fim da corrupção, com direito a banheiro químico, metrô liberado, foto com a truculenta polícia de São Paulo… Segundo, desarticular a tímida resistência ao golpe.

Estamos no mais vergonhoso golpe da história. O golpe de 1964 assumiu os tanques e os entreguistas assinaram embaixo. Hoje, os coautores do golpe, antes enrustidos, mostram aos poucos os rostos. Muitos através do recebimento dos jetons, cargos, reajuste salarial; outros pela mudança de foco dos noticiários. Os capitães do mato da PF já afinaram a voz diante do impostor.

Com o rei nu, surgem gravações que lembram o famoso refrão dos traficantes dos morros cariocas: “tá dominado, tá tudo dominado”. Segundo as gravações, que sem provas a nada se prestam, do Poder Judiciário ao Exército, tudo está sob controle. Inclusive os tímidos sinais de reação, tudo dentro dos cálculos e com repressão violenta e desproporcional, que é pra servir de exemplo e amedrontar um segmento da sociedade que defendia a sociedade desarmada. “Podem ir pra cima. Não vai ter reação”.

O golpe está gratinando. Uns disfarçam o cheiro de podre, outros o de queimado. Desse modo, vamos deixar de lado aqueles que ao lado do pato, estão pagando o pato pelo mico. Pausa para os que que gritaram “Somos todos Cunha”, os que acreditavam mesmo que Lava Jato seria a redenção do País, que culparam Dilma pela queda de Plutão e o não retorno do seriado Bonanza. Falemos da tímida resistência no truque dos mágicos.

Recentemente, o controvertido político Ciro Gomes, um dos raros que está falando coisa com coisa, sabe-se lá a que título, esteve no Teatro Oficina. Disse coisas importantes, mas foi sistematicamente atropelado por pessoas, então centratadas em seus umbigos: negros, mulheres, homossexuais, artistas, etc. Claro que são questões importantíssimas, mas que no contexto do todo, da essência e da urgência só se tornam maiores se apreciadas no conjunto e não isoladamente.

Causou perplexidade o individualismo, inclusive por parte de nomes respeitáveis. A democracia pisoteada, a Faixa Presidencial sendo roubada, enquanto preciosos minutos eram perdidos, por exemplo, no debate se o machismo é culpa do homem ou da mulher. Enquanto isso, o expoente Zé Celso queria fazer dança indígena como grande ato revolucionário. Poucas foram as vozes direcionadas ao todo, onde se inclui o controvertido Ciro Gomes.

Disso vem tirando proveito os golpistas. Com o uso da mídia, lançam factoides que vão do desapreço pela cultura ao convescote de um ator pornô com o preposto da educação. Ao mesmo tempo, imagens de um medieval estupro é jogado na rede; debate-se o foi não foi, acusam o funk, enquanto um simples rolezinho num shopping é farejado com alma de vidente pela Polícia Militar, pronta para arrastar pelas ruas mais uma mulher pelo cabelo, bem ao gosto do homem da caverna.

Nesse truque de mágicos, de desvio de atenção, a direita brasileira tem sido sábia e não perde o foco. Entre o acidente (2006) de um avião da Gol com quase 200 (que em parte lembra as história paralela do acidente aéreo que matou o ex-presidente Castelo Branco) e a cobertura do “Dossiê dos Aloprados”, a mídia golpista não teve dúvida. Leia-se, os golpistas não perdem o foco, enquanto os órfãos da democracia embarcam em jogos de cena.

Nesse truque de mágicos, no qual o Supremo Tribunal Federal tem servido de biombo, a presidente Dilma Rousseff está encurralada. Não pode dizer que é golpe e é obrigada a se defender para legitimar a farsa jurídica. Se não se defender, o ato será lido como confissão de culpa ou da tão sonhada renúncia. Mas, para quem optou por governar dentro das regras do jogo, inclusive as espúrias, não pode fugir ao macabro ritual de bruxaria. Nem reagir pode, para não ser acusada de insuflar a violência.

Temer, preposto de Cunha, tem o STF, o Exército, a base golpista, a mídia, a Fiesp, o Tio Sam. Só não tem o povo, que, aliás, também não está com Dilma, culpada até por terremoto num longínquo ponto do planeta.

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

9 Comentários

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  1. Deflação é o nome da tragédia

    Palavra proibida na mídia.

    Mas a realidade é inescapável.

    O preço nominais das ações caem, mas os prédios das empresas  feitos de cimento e tijolo ainda estão lá e os consumidores também.

    O preço do petróleo cai, mas o litro de gasolina empurra o carro.

    O preço do feijão cai, mas enche a barriga do povo, como a soja, o milho, o arroz e tudo o mais.

    O preço relativo do Dólar cai.

    Enfim todos os preços estão caindo, mas para que a banca continue recebendo os seus juros regulados pela pornográfica taxa que pagamos é preciso mentir com a pedalada da inflação fictícia.

    Esta é a realidade, os juros pornográficos estão aumentando pois Juros Reais são igual a Taxa de Juros + Deflação, o que têm levado o Brasil para esta sinuca de bico, onde não se têm dinheiro para nada ( saúde, educação, investimentos, etc…) e mesmo assim o déficit público não para de aumentar, pois toda a riqueza e a poupança está sendo drenada por estes juros criminosos.

    Só não vê quem é muito trouxa mesmo.

    Este governo está pendurado pelo saco com a banca rentista que nos explora, simples assim.

    1. Os que não entendem não conseguem se defender

      A grande maioria das pessoas não consegue enxergar o perigo como perigo, esta é a realidade, infelizmente.

       

      It Takes A Village To Maintain A Dangerous Financial System

      “The few who understand the system will either be so interested in its profits or be so dependent upon its favors that there will be no opposition from that class, while the great body of people, mentally incapable of comprehending the tremendous advantage that capital derives from the system, will bear its burdens without complaint,and perhaps without even suspecting that the system is inimical to their interests.”

      1. Elites nefandas post do Assis

        Eu prefiro ser como “rês desgarrada…Nessa multidão boiada caminhando a esmo”.

        Sobre a elite que o artigo fala, imagino que sejam os jovens, os de mentalidade jovem, os livres, que exatamente impulsionam os avanços. A outra elite tem pavor de avanços, não admitem mudanças no “status quo”. Ou como diz Bertolt Brecht:

        Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar. Há homens que lutam um dia, e são bons; Há homens que lutam por um ano, e são melhores; Há homens que lutam por vários anos, e são muito bons; Há outros que lutam durante toda a vida, esses são imprescindíveis.

        Ou ainda o que diz, (não sei o autor):

        “Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os pinos redondos nos buracos quadrados. Aqueles que vêem as coisas de forma diferente. Eles não curtem regras. E não respeitam o status quo. Você pode citá-los, discordar deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Empurram a raça humana para a frente. E, enquanto alguns os vêem como loucos, nós os vemos como geniais. Porque as pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam.”

        Esses são os que sonham, os utópicos, os que acreditam que sempre se pode avançar; que o mundo não é estanque. Diferentemente da outra elite, pragmática, que trava a mobilidade da sociedade com o sempre medo de perder a sua condição.

        É exatamente esta elite sonhadora que muda o sistema, que ajudarão as pessoas a perceberem que o “crescimento econômico” tem seus limites, que não se pode crescer indefinidamente.

        É essa elite que está remodelando o papel da nova escola, ao apresentar “alternativas viáveis à nossa própria existência no planeta, uma vez que o abismo gerado pela exploração dos recursos se aproxima.”

  2. Mas onde estão os audios do

    Mas onde estão os audios do temer? Aquele monte de reuniões com o ministro sinistro e o pgr golpista seria para isso?

  3. Interinidade e novas eleições

    O governo interino(sic) age como se fosse de vacancia e como tal não tem poder para alterar a estrutura e orientação geral do governo afastado.  Torna-se portanto questionável tudo que realizar em caso da volta do titular.  Posto isso Dilma que se por um milagre(sic) voltar podera desfazer tudo que for feito fora dessa estrutura e orientação, inclusive privatizações e entregas do tipo pre-sal. E é isso que Dilma deveria gritar em alto e bom som: “Em se confirmando minha inoscencia, desfaço todo o embrolio golpista e dou ao Brasil novas eleições para Presidente”

    Simples assim!!!!

  4. o stf é mais um farsante na

    o stf é mais um farsante na nossa farsante democracia, quando se precisa deles correm feitos meninos assustados, enquanto o dono do pedaço perdeu toda a vergonha de impor a sua vontade, se estiverem esperando algo do ainda “presidente festejado” esqueçam, estão mais preocupados em garantir as mordomias da nova lomam , que discutem na moitinha para não chamar a atençaõ.

  5. O autor está certíssimo. O

    O autor está certíssimo. O diversionismo à toda ordem, inclusive como método do golpe, mas o setor progressita/esquerda incapaz de formular uma percepção das questões realmente essenciais, com a devida reação à altura.
    Em tempos de ilhas ideológicas, vou falar em alto tom:  o setor progressista/esquerda perdeuuuuuu fragarosamente a luta no campo institucional e avançou apenas milímetrossssss no campo neutro.  Pior, nada de estratégias eficientes e, sobretudo, unificadas levadas à cabo, e enquanto as mobilizações girarem em torno de convertidos desde sempre, o fiel da balança, o POVO, há de continuar esquecido.  Lutar dessa forma não é outra coisa que não a presunção de ser David ou, quem sabe, retroalimentação do ego com posturas de bravura inútil.
    Se a política também é o campo onde se dá a luta pelo poder e governabilidade, os mais fracos não só não conseguem, como também não devem prosperar, sejamos franco.    Ou acordamos, ou tchauuuu.

  6. percebam

    O que o governo provisório está fazendo de muito é ruim, é tiro no pé do povo, é algo que os bocós e bobos da corte coxinhas ou não deviam entender melhor – seus futuros estão comprometidos com Temer, não o futuro do pt ou petistas ou esquerda – é o futuro do povo em geral, dos pobres e da classe média – de todos nós – e até mesmo a classe média alta vai se ferrar. Vejam a Grécia , Siria Espanha, França etc. ENTENDAM SEUS BURROS, PQP!!! PERCEBAM.

    1. percebam…

      Caros srs Carlos e Armando, vocês enxergaram o que muitos não entenderam. Grupos sociais organizados poliiticamente e ligados à esquerda não são a sociedade. E nem a representam. Apesar de toda prepotência representam uma pequena parte desta sociedade e só. A sociedade brasileira querendo sua representação como um todo, pode ser levada ao abismo. Se o embate continuar sem a busca da democracia e o todo que esta representa, nos empurarremos mutuamente ao precipício. Abs.

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