Supremo poderá brecar a PEC que desvinculará recursos de educação e saúde

Na entrevista que me concedeu há pouco, a procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Deborah Duprat, vê possibilidades do STF (Supremo Tribunal Federal) vetar a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) desvinculando recursos para a saúde e a educação.

A Constituição define como obrigação do Estado a garantia de direitos mínimos dos cidadãos. Se a desvinculação ou o limite de gastos afetar esse mínimo, o Supremo poderá ser chamado a julgar a constitucionalidade.

Conforme mostrei no post “O xadrez da quitação das contas de campanha” (http://migre.me/uaOb7), a maneira como se pretende definir o texto significará uma queda significativa nos gastos com educação e saúde:

“Significará congelar os gastos da saúde no pior patamar da última década.

Em 2015 e 2016 o PIB deverá cair por volta de 7% a 8% e as receitas fiscais por volta de 12%. Pela regra Temer, as despesas de saúde seriam congeladas nesse patamar mínimo. Significará uma queda de pelo menos 12% em termos reais, sobre o nível pré-crise.

Suponha que em 2014 as receitas fiscais estivessem em 100 e as de saúde em 15.

Em 2015 o PIB caiu 3,8% e as receitas fiscais caíram 5,8%. Com isso, os gastos com saúde caíram de 15 para 14,13 em termos reais. Em 2016, é provável que as receitas fiscais caiam mais 6%. Nesse caso, as despesas com saúde cairão para 13,28 em termos reais.

A PEC obrigará então que o valor seja congelado nesses 13,28 e, dali para frente, apenas atualizado anualmente.

Suponha que a partir de 2017 o PIB cresça sucessivamente, 1%, depois 2% e se estabilize em 3% ao ano – e que as receitas fiscais cresçam dois pontos percentuais acima do crescimento do PIB.

Em 2022, a relação gastos de saúde/receitas fiscais, em vez dos 15% previstos atualmente, cairá para 11,5%, congelando o valor real no patamar mais baixo das últimas décadas – como proporção da receita e do PIB.

Para um setor que padece historicamente com problemas de sub-financiamento, será um desastre completo, com o país abdicando da proposta civilizatória de universalização da saúde. É a maior ameaça ao SUS desde a sua criação. O mesmo ocorrerá com a educação pública”.

Em cima desses dados, que poderão ser melhor dissecados por especialistas em orçamento, a própria PFDC poderá arguir a inconstitucionalidade da PEC em votação.

Luis Nassif

5 Comentários

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  1. Estamos vendo, de mãos

    Estamos vendo, de mãos atadas, o desmonte do SUS, dum projeto que veio na consituição de 88, conquistado pela luta de gente da qualidade de um davi capistrano. E sem que isso tenha sido escolhido nas urnas. Se esperarmos algo desse STF, um stf que acha tempo para ter recesso mesmo o país pegando fogo no final do ano, que acha tempo para discutir se pode ou não pode entrar com pipoca de casa, que tem um Teori que fica com o processo do Cunha desde o ano passado e deixa esse psicopata conduzir aquele circo de horrores que foi o impeachment…infelizmente não há ninguém para nos ajudar, nem o chapolim colorado -rs 

  2. Da maneira como caminham os

    Da maneira como caminham os atos desse presidente interino, vai chegar um momento em que ou o STF toma posições firmes ou vamos ter mesmo que admitir que está a Suprema Corte entregando de bandeja o nosso País ao pior dos caos. 

     

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