Temer planeja engavetar segunda denúncia com CPMI da JBS

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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O presidente da ANPR, José Robalinho Cavalcanti, o senador governista Romero Jucá e o procurador Angelo Goulart Vilela – Foto: ANPR
 
Jornal GGN – Como já adiantado pelo GGN, o presidente Michel Temer pretende utilizar a CPMI da JBS para realizar uma autodefesa da segunda denúncia que tramita na Câmara dos Deputados, como palco de críticas ao ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
 
O intento será expor possíveis irregularidades e abusos cometidos por procuradores da República sob o então comando de Janot para inferir sobre a credibilidade das investigações da Operação Lava Jato a nível do Supremo Tribunal Federal (STF), com a coordenação de Rodrigo Janot.
 
Para isso, o Planalto mobilizou aliados e deputados da chamada “trope de choque” do governo no Congresso. A Comissão, por se tratar de apuração envolvendo também o Senado, deve levantar críticas de outros parlamentares que tampouco são aliados de Temer, mas que foram alvos de inquéritos e denúncias nos últimos meses relacionadas à Lava Jato.
 
De acordo com reportagem da Folha de S. Paulo, tanto senadores, quanto deputados devem “se revezar” na CPMI e também na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que analisa a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral, a segunda enviada contra Temer.
 
Desta vez, o argumento de deputados para engavetarem mais uma investigação contra o mandatário, sem sequer levá-la à Suprema Corte, será as possíveis irregularidades e críticas expostas na CPMI.
 
Neste domingo (24), o presidente Michel Temer teria se reunido com líderes de governo justamente para traçar a estratégia. Entre os passos será tentar aproveitar a audiência com o procurador Ângelo Goulart Villela, que deve falar na CPI nesta terça-feira (26).
 
Ele foi acusado de repassar informações privilegiadas à JBS, em troca de recebimento de propina. No início de junho, o jornalista Andrei Meireles publicava coluna em Os Divergentes informando que Villela, recém preso, estava “mandando recados”: “ele não seria o único do time da JBS. Teria colegas a entregar em uma delação premiada”. 
 
Sem a confirmação de que os “colegas” seriam Marcello Miller ou outros procuradores aliados e assessores de Janot na PGR. É aí está o interesse da bancada governista: o relator da CPMI da JBS, deputado Carlos Marun (PMDB-MS), confirmou o interesse assim que foi aberta a Comissão. Para ele, os parlamentares precisariam “olhar para a PGR e para o Judiciário sem medo”.
 
“A Lava Jato até hoje preservou o Ministério Público e o Judiciário. A CPMI não tem esse compromisso. Temos que olhar para o que já foi feito até aqui”, havia dito Marun nas primeiras sessões. Goulart foi visto como “traidor” dentro do MPF, pela acusação de receber propina para as negociações, o seu isolamento pela instituição vem motivando-o a querer detalhar o máximo de informações que tem conhecimento.
 
Em entrevista recente, Villela afirmou que Janot “tinha pressa” para denunciar Temer e inclusive barrar a indicação de sua sucessora, Raquel Dodge, no comando da Procuradoria-Geral. Os parlamentares e Michel Temer querem explorar essas acusações, com o objetivo de prejudicar a credibilidade da segunda denúncia contra o peemedebista que tramita, ao mesmo tempo, na Câmara.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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