Le Pen e Macron vão ao 2º turno na França

Boca de urna aponta liderança da ultradireitista e do centrista; resultado comprova total perda de credibilidade dos partidos tradicionais 

 
Jornal GGN – Pesquisa de boca de urna nas eleições da França que acontecem neste domingo (23) revela que a líder da extrema-direita Marine Le Pen irá enfrentar o centrista Emmanuel Macron no segundo turno marcado para o dia 7 de maio. Macron está levemente a frente, com 24% dos votos, enquanto Le Pen contabiliza cerca de 22%. 
 
A vitória tanto de um quanto do outro representa um forte golpe sobre partidos tradicionais que comandaram o país nas últimas décadas: o Socialista que atualmente dirige o país com François Hollande, e o Republicano, do centro-direitista e ex-presidente Nicolas Sarkozy. 
 
O cenário está favorável para Macron que, conforme pesquisa de opinião realizada pela Ipsos, enfrentando no segundo turno Le Pen receberia 61% das intenções de voto, contra 39% da concorrente. 
 
 
Folha de S.Paulo
 
Macron e Le Pen vão ao 2º turno na França, mostra resultado preliminar
 
DIOGO BERCITO
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
 
Os resultados preliminares das eleições francesas deste domingo (23) sugerem que tanto o centrista independente Emmanuel Macron quanto a ultra direitista Marine Le Pen se classificaram para o segundo turno em 7 de maio.
 
Macron recebeu 23,7% dos votos enquanto Le Pen teve 21,7%. Na sequência estão o conservador François Fillon, com 19,5%, e o esquerdista Jean-Luc Mélenchon, 19,5%. Os números não são finais.
 
A vitória de ambos será um golpe aos tradicionais Partido Socialista, atualmente no governo, e Republicanos (centro-direita), do ex-presidente Nicolas Sarkozy. Rejeitados nas urnas, eles agora abrem espaço para testar outras forças políticas.
 
Se confirmado nas próximas horas, o resultado encerra um período de grande incerteza política no país —e abre uma segunda etapa, marcada pela discussão da própria identidade francesa.
 
O cenário da disputa entre Macron e Le Pen no segundo turno, já testado em pesquisas de opinião nos últimos meses, será provavelmente vencido pelo candidato centrista, ex-ministro da Economia —nunca antes eleito a um cargo público. Ele receberá 61% dos votos contra 39, afirma o instituto Ipsos.
 
INCERTEZA
 
A campanha presidencial foi marcada por mudanças radicais. Há meses, era possível a vitória do conservador Nicolas Sarkozy e do socialista François Hollande, que nem chegaram a concorrer.
 
Sarkozy foi derrotado nas primárias de seu partido e Hollande, extremamente impopular, não se candidatou.
 
Sondagens colocavam os quatro candidatos tão próximos na intenção de voto que os institutos de pesquisa não se arriscavam a prever o resultado do primeiro turno.
 
A incerteza era alimentada também pelo fato de que 31% dos eleitores não sabiam, às vésperas, em quem votar —resultado da desintegração do espectro político francês, em meio à desilusão com o governo socialista e aos escândalos de corrupção no partido conservador.
 
Estas eleições francesas são um dos pleitos mais importantes do ano no cenário global e terão um efeito decisivo no futuro da Europa.
 
Macron e Le Pen divergem em um assunto fundamental para a região: a União Europeia. Ele defende mais integração, mas ela quer um referendo para deixar o bloco econômico, a exemplo do “brexit” do Reino Unido.
Eles discordam também sobre a Otan, a aliança militar ocidental: Le Pen quer sair e Macron quer ficar.
 
A França é uma das principais economias da União Europeia e um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU com poder de veto.
 
Cerca de 47 milhões de pessoas puderam votar. No exterior havia 1,3 milhão de eleitores registrados. Em alguns dos pontos, como em Montréal, no Canadá, as filas se alongaram por horas.
 
SEGURANÇA
 
As eleições foram realizadas em meio a um ostensivo aparato de segurança, após um tiroteio deixar um policial morto na quinta-feira em Champs-Élysées. O ataque, reivindicado pela organização terrorista Estado Islâmico, apesar de sem provas, pode contribuir à campanha de Le Pen, com aversão a ambos a migração e ao islã.
 
O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou durante a semana em uma entrevista à agência de notícias Associated Press que a insegurança favoreceria Le Pen. Ele escreveu em seu Twitter, durante o domingo: “eleições muito interessantes estão sendo realizadas na França”.
 
Os 67 mil locais de votação, abertos às 8h locais (às 3h em Brasília), foram monitoradas por mais de 50 mil policiais e de 7.000 soldados.
 
Uma seção foi esvaziada em Besançon, no leste do país, após um veículo roubado ser abandonado nos arredores com o motor ainda ligado. Houve um incidente parecido em Saint-Omer, no norte, e outro em Haguenau, na Alsácia. Nenhum tinha relações com terrorismo.
 
A França está em estado de emergência desde o ataque que deixou 130 mortos em Paris, em novembro de 2015. Houve uma série de outros atentados desde então.
 
Não há evidências, por outro lado de, que o tiroteio de quinta-feira teve um impacto nas intenções de voto.
 
A França votou em outros períodos na sequência de atentados, sem efeito. Mesmo o ataque a um soldado no Museu do Louvre, recentemente, não transpareceu depois nessas pesquisas.
 
Os quartéis-generais dos candidatos, onde eram esperados para comentar os resultados, estavam cercados por diversas camadas de segurança. A reportagem da Folha foi revistada três vezes para chegar ao escritório do centrista Macron, em Paris.
 
ECONOMIA
 
A segurança é de fato um dos temas mais importantes ao eleitor francês. Mas a questão principal, segundo uma pesquisa do instituto OpinionWay, é o desemprego de cerca de 10%, citado por 57% dos entrevistadas.
 
A economia, em má forma, explica por que o governista Partido Socialista sofreu uma derrota histórica. O candidato Benoît Hamon não chegou à final, o que será recebido como uma crise existencial à sigla.
 
O presidente francês, François Hollande, havia prometido reduzir o desemprego, e o incumprimento da promessa frustra seu eleitorado, que migrou a candidatos como o centrista Macron e o esquerdista Mélenchon.
 
A economia francesa cresceu 1,2% em 2016. A Alemanha e o Reino Unido cresceram respectivamente 1,9% e 1,8% no mesmo período.
 
CORRUPÇÃO
 
A corrida presidencial francesa tinha 11 candidatos, dois quais apenas Macron e Le Pen poderão disputar o segundo turno de 7 de maio.
 
Os outros dois concorrentes de peso, o conservador Fillon e o esquerdista Mélenchon, também haviam sido cotados para chegar à final. A proximidade das porcentagens impossibilitava a certeza até esta tarde.
 
Fillon, em especial, foi considerado por meses como o favorito à Presidência. Sua candidatura, no entanto, afundou após um semanário satírico publicar a acusação de que ele contratou a mulher para um cargo público que ela nunca exerceu.
 
Ele nega, mas a suspeita teve um grande impacto em sua campanha. Ele havia sido eleito durante as primárias da direita como um candidato particularmente limpo —contra Alain Juppé e Nicolas Sarkozy, que já foram acusados anteriormente.
 
Le Pen também enfrentou acusações, mas de menos impacto em seu eleitorado. A ultra direitista teria utilizado verbas europeias de maneira ilegal em seu partido, a Frente Nacional, remunerando um guarda costas como assessor parlamentar. 
 
Redação

12 Comentários

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    1. 2017 era “apenas” um building bloc

      Isso ja é dado como certo.

      O jogo agora é para conseguir ou nao manter o “6” na casa das dezenas da votaçao de Monsieur Macron – virtualmente eleito presidente de uma potencia nuclear… aos 39 anos!

      Se Marine conseguir passar o “teto de vidro” dos 40% – mesmo que Macron granhe por 59.9 – ja tera tido uma (baita!) vitoria moral na eleiçao.

      E nao so moral: com o 17% de 2002 ja conseguiu ser o partido mais votado nos primeiros turnos das eleiçoes locais nos primeiros turnos…

      (A França – uma deformaçao – tem eleiçao quase todo ano! Municipais, depois departamentais (“Estados”), depois regionais (como se as regioes do Brasil, NE, SE, N, S, CO, tivessem um “uber-governador”) e finalmente as eleiçoes nacionais)

      Imagine-se o que ela nao fará cacifada com 40% – e com o austericidio seguindo sob Macron, com a bençao (agora explicitada ja à noite) de Frau Merkel?

      Ela ganha, com isso, (ainda mais) capilaridade.

      E, se a economia global nao decolar nos proximos 5 anos (??), vem com tudo para… 2022.

      2022 sempre foi o alvo dela. 2017 era “apenas” um building bloc.

      *

      Outra coisa é que em junho tem as eleiçoes legislativas, que – de maneira MUITO saudavel e recomendavel – se dao APÓS ja se saber (e ja se digerir politicamente) quem foi eleito o chefe do Estado. Ninguem sabe quais serao os partidos mais votados nessas eleiçoes. É bem possivel que nenhum tenha maioria absoluta e que a formaçao de uma maioria so se de por coalizao.

      Da mesma forma, quase certamente o “novo partido” de Macron nao tera essa maioria (sozinho).

      Assim, a disputa politica passa para a proxima fase: qual sera a maioria, que formara governo (chefiado pelo Primeiro Ministro, nao pelo Presidente).

      A maioria eleita – e o Primeiro Ministro – serao alinhados a Macron?

      Ou voltaremos a ver uma co-habitaçao na França?

      Que, alias, deveria ter acabado com a mudança constitucional que fez eleiçao presidencial e legislativa serem casadas a partir de 2002.

      E de fato acabou!

      Mas…

      Voltou a ser possivel com a ~implosao~ do PS e do LR nesta eleiçao, enterrando o bipartidarismo (“branco”) francês (mantido ate aqui pela ausência de proporcionalidade na eleiçao para a Ass. Nacional, realizada em 2 turnos).

      *

      Amanhã consolido os meus comentarios de hoje – feitos nas redes sociais – em um post e publico (no meu blog e no GGN – blog pessoa aqui (ao menos)).

      Aguardem.

  1. Macron e a derrota do ps partidos tradicionais

    Apesar de muito jovem com apenas 39 anos, o chamado  “novo John F. Kennedy”, é o mais orovável vencedor no 2o. turno. Os franceses têm por tradição extravasar sua frustração e descontentamento no 1o. turno e depois refletirem bem para o o 2o.  turno.  Jean-Marie le Pen, pai de Marie,  também conseguiu chegar em 202 ao 2o. turno com Jacqyes Chirac. No entanto, o resultado é a prova da grande derrota dos dois maiores partidos, o socialista e o conservador, que nos últimos 10 anos, envolvidos em sucessivos escândalos, só mostraram incomoetência em resolver os graves problemas,  O desemprego entre os jovens, no interior do paìs e nas periferias das grandes cidades, essa força vai continuar a pressionar e não desaoarece com uma eventual derrota de le Pen.
     

  2. O que me chamou a atenção foi

    O que me chamou a atenção foi a precisão do Ipsos na última pesquisa. Eles cravaram 23%, 22%, 19%, 19% e 6% para o candidato socialista. Os caras acertaram na mosca.

  3. Macron, candidato novo de

    Macron, candidato novo de ideias velhas. vejam em: http://www.voltairenet.org/article196069.html. Protégé de la presse française.

    O establishment venceu mais uma. Nada melhor que um representante dos Bancos para jogar a França no mundo moderno, eficiente, competitivo e rentável. Ele é o Temer francês, o homem das Reformas.

    Marine Le Pen é o inverso. Nacionalista, contra a Troika, contra guerras, contra um conflito com a Rússia e á favor da França. O povo francês mais sagaz já percebeu a armadilha do Macron e as perdas de direitos sociais e submissão ao mercado.

  4. A esquerda?

    Seria importante o senador Lindenberg refletir sobre essa eleição, pois exaltou o candidato a esquerda.Entretanto Melechon não foi capaz de chegar ao segundo turno, a população segui no caminho da direita e da redução dos direitos sociais. 

     

  5. É apenas o inicio da peleja

    De nada adianta ganhar as presidenciais sem ter congresso para apoiar.

    Coabitação a vista.

    E de imaginar o que acontece com um pais que tem 4 eleições em 5 anos, fica ingovernável!

    Qualquer semelhança com a democracia presidencialista de coalização não é coincidência.

    Havera uma revolta dos muçulmanos franceses?

    Essa conversa de França dentro ou fora da Otan é irrelevante. A França sempre concebeu seu sistema de defesa para ser autonomo , sem necessidade da Otan, uma herança gaullista.

    Quanto à UE. Tanto faz, quem manda é a dona do caixa, a vizinha Alemanha (reunificada). Neste campo diferente dos além canal, o estabilishment gaules sempre apostou suas fichas em uma UE forte. Mas como negócio tem que ser bom para ambas as partes senão naufraga (mais ou menos como matrimônio), a coisa vai mal, muito mal. Os partidos franceses não são derrotados pelas suas posições à direita ou à esquerda, mas pela sua incapacidade de dar uma resposta a uma taxa de desemprego cresente e a uma indústria posta em xeque. Quando o desemprego atinge um pied noir ou um emigrado é uma coisa mas quando o campo frances sofre a figura muda de questão e Petain volta a ser heroi de França….

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