Delimitando historicamente a classe média no Brasil

Por Jorge Nogueira Rebolla

Comentário ao post “Desvendando a espuma: o enigma da classe média brasileira

Antes de qualquer análise sobre os preconceitos da classe média seria preciso delimitá-la.
 
Quais seria os seus membros? A classe média urbana brasileira era composta pelos chamados profissionais liberais, pequenos e médios empresários, oficiais das forças armadas, empregados privados e funcionários públicos em cargos de nível superior.
 
Era praticamente inexistente nas pequenas cidades, poderia ser contada apenas com as mãos. Uma Rural Willys transportava todos.
 
Nas médias cidades caberiam numa jardineira.
 
Concentrava-se basicamente nos grandes centros. Principalmente Rio de Janeiro e São Paulo. Além destas duas cidades poucas outras possuiam massa crítica para os seus preconceitos e rancores próprios permearem toda a sociedade.
 
Nas regiões predominantemente rurais os seus escassos membros eram em geral carreados à reboque dos terratenentes locais.
 
Abaixo dela, oscilando conforme o vento, existiam os “remediados”. Era o gerente do armazén, o encarregado do turno na fábrica, o chefe da repartição pública obscura, os funcionários semi-qualificados das estatais como a RFFSA, o autônomo habilidoso e com conhecimento técnico, etc. Diferenciavam-se dos pobres por comerem carne de segunda três ou quatro vezes por semana, não utilizarem remendos nas roupas e sapatos e morarem em casas de alvenaria.

 
A exceção de momentos específicos, em geral guiada pela elite, a classe média no Brasil nunca possuiu força política, embora fosse ouvinte assídua da banda da UDN. No período pré ditadura elegeu um presidente, Jânio Quadros, fato este até hoje completamente inexplicável em termos lógicos e racionais. A derrota dupla do brigadeiro que virou doce, embora fosse o seu ungido, demonstra a sua fraqueza político-eleitoral na época. As suas manifestações em 1964 foram o efeito e não a causa da ebulição nos quartéis. Mesmo sem elas o golpe viria como um raio no céu azul.
 
No Brasil de hoje este segmento da população permanece muito pequeno. Sempre esquecem um dos requesitos básicos para a sua conceituação: um revés temporário não lançará o desafortunado na miséria. Os que embora possuam casa própria e bom nível educacional, mas não detêm uma retaguarda, mesmo que pequena, de bens materiais suficientes para suportar o revés, na “pobreza com dignidade”, está no proletariado e não na pequena burguesia. Estes não podem ser considerados como pertencentes à classe média. Os seus conceitos e atitudes, apesar de refletirem em alguma escala os dominantes dentre os economicamente mais favorecidos, foram criados em sua própria esfera. Mesmo que estejam na segunda ou terceira geração com os pés fora do lodo.
 
O conceito de classe média nas análises marxilenistas é mero reflexo da autora. Atribui a classe social a qual pertence uma força que nunca teve. Do Chuí diz que vê a olho nú o que ocorre no Oiapoque… O preconceito rançoso da classe média, que finge ter o nariz de defunto da grã-fina, é demonstrando pela própria phylosopha, atribuindo-se supostas qualidades superiores, boa e justa em relação aos pobres e despossuídos e não a postura de madrasta malvada que lança sobre os seus pares.
 
Os desalmados meritocratas fazedores de espuma são em sua quase totalidades empregados de 44 semanais, 11 meses por ano e 13 salários, com FGTS e contribuição previdenciária. Muitos trabalhavam de dia e cursavam o ensino média e a faculdades à noite. Saíndo de casa antes da 7 da manhã e retornando quase no dia seguinte. Durante anos se submeteram a esta rotina desgastante, enquanto viam inúmeros vizinhos, colegas e amigos fazendo força para não pegarem no pesado, e eles são culpados por isto?
Redação

2 Comentários

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  1. Rebolla, acho que voce

    Rebolla, acho que voce escreve muito bem. Como o AA, é bastante esclarecedor, noves fora as abordagens opinitavas.

    O último parágrafo é que é uma porcaria. Quase fiquei com peninha da classe média à brasileira. Só não fiquei porque faltou voce reclamar dos impostos.

    Para a classe média típica, toda vez que paga imposto é como se lhe arrancassem um dedo da mão

    1. O pessoal citado no último parágrafo…

      … faz parte da classe média estatística pelos critérios atuais de renda, mas na realidade não pertence a ela. Aliás é a sua parcela majoritária, mas no caso de perda do emprego,  não conseguirá se manter nesta “classe social”, pois dificilmente será contrado em outro com salário aproximado.

      É a classe média Porcina…

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