Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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O avanço do ‘Pacote do Veneno’, por Rui Daher

Agrotóxicos

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O avanço do ‘Pacote do Veneno’

por Rui Daher

em CartaCapital

Curiosa a nossa dinâmica legislativa que traz sequência infinita de números e datas para, na maioria das vezes, decidir o que não se fará ou, feito, dará errado.

Em 15 de maio, dediquei coluna à tentativa da bancada ruralista no Congresso Nacional em fazer aprovar o projeto de lei 3.200/2015, conforme relatado pelo deputado federal Luiz Nishimori (PR-PR). Sei hoje em vigor a Lei 7.802, de 1989. A nova lei põe no ringue dos embates fisiológicos, revigorado pelo golpe de 2016, o projeto de lei 6299/02.

Escrito assim, parece mais uma das banalidades e malfeitos que crescem no atual “Festival de Besteiras que Assola o País”, salve Stanislaw Ponte Preta, o escritor e jornalista Sérgio Porto (1923-1968). Na melhor hipótese, serviria como dica de combinações para apostar na Mega-Sena.

Só que não. O assunto é de alta importância, e sob a desfaçatez de ser caracterizado como modernizante, traz mudanças fulminantes para a saúde humana e a preservação ambiental.

Foram e ainda são inúmeras as vezes que, em minhas andanças presenciei casos e ouvi relatos de deformidades em crianças, mortes, altos teores de veneno em águas, esterificação de solos, extinção de fauna, causados pelo uso excessivo (quando aprovados) de agrotóxicos e “como Deus fez a mandioca”, de qualquer jeito  com os não aprovados ou contrabandeados.

E notem: aqui não me refiro apenas ao meio rural, mas também às zonas urbanas, ou pensam que em nossas hortinhas ou hortonas os mesmos tratamentos e produtos não são aplicados? Nos rios Tietê e Pinheiros não boiam apenas sofás, mas altos teores de princípios cancerígenos.   

Resumindo, o que se quer é dar mais rapidez às aprovações e registro de agrotóxicos no país. Naquela coluna, escrevi: “Ou seja, pede coxas no lugar de profundidade e segurança”. A mesma discussão que deformou o Código Florestal.

Como sempre, o preâmbulo do deputado federal vem coroado de loas à magnitude do agronegócio brasileiro, embora em artigos recentes mostro que nem tanto. Mas, vamos lá que seja, se isso servir para amenizar eterno complexo de vira-latas.

A aprovação e registro para comercialização de agrotóxicos no Brasil, como em qualquer outro país, necessita de testes demorados, diversificados entre os vários órgãos que tratam das seguranças alimentar e ambiental. Se houver necessidade de mais recursos para agilizar as concessões, que se dê, e não que se determine prazos aleatórios, limites a partir do que, não cumpridos, jogue-se para o alto qualquer análise de periculosidade e se passe a vender os princípios e moléculas a bel prazer dos departamentos comerciais e da massificaçãi publicitária de seus fabricantes.

Desde o Ministério Público Federal até o Instituto Nacional do Câncer, passando por Anvisa, Ibama, institutos de pesquisa científica, e organizações da sociedade civil não recomendam a necessidade de tais mudanças. Desburocratizar é muito mais do que, passado um tempo, liberar geral.

Como o projeto ainda deverá passar pelos plenários da Câmara e do Senado, além de sanção presidencial, idos tempos, eu diria que não passaria, tão desavergonhado é. Hoje em dia, diante do enxovalhamento político e econômico a trabalhadores e aparelhos de segurança alimentar e ambiental, perco tal certeza.

Porém, Nishimori votou pelo arquivamento das denúncias de corrupção passiva do ilegítimo presidente Michel Temer e improbidades tais. Deixa claro seu lado.

Ah, ia esquecendo: em 2008, foi escolhido Deputado do Ano, pelo Diário Popular de Curitiba.

 

 

 

 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

4 Comentários

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  1. ANTICAPITALISMO DE ESTADO

    Assistiram ao Globo Rural deste final de semana? Quantas Empresas Brasileiras que produzem Defensivos Orgânicos e Ecológicos muito mais sustentáveis e práticos? O pessoal da EMBRAPA. O pessoal da ESALQ. Uma Juventude Brasileira extraordinária a produzir, desenvolver, progredir. Um Mercado Trilionário para Desenvolvimento de Produtos, Controle Ecológico, Defensivos muito menos agressivos. E a mesma falta de interesse e proteção à Indústria e Conhecimentos Nacionais por parte do Estado Brasileiro. Não sempre, mas muitas vezes por visão ideológica equivocada, academicismos e ilusões combatemos até o que é SOLUÇÃO. Combatemos a própria Nação, seu Futuro e sua Juventude. Por que, mesmo em tamanha inocência, alguém acha que a primeira das Empresas Brasileiras a serem Privatizadas, na Privataria de FHC há 20 anos, foi a Produtora de Fertlizantes? E depois por caminhos ideológicos ilusórios, mesmo Lula teve a oportunidade de formar uma Gigante em Fertilizantes na associação Petrobrás/Vale do Rio Doce. E não o fez !! E sabotou (Estado) vários ‘Projetos’ com este proposito, não é mesmo sr. Rui? Depois não adianta Vitimizações nem Fatalismos. Existe alguém reclamando ou combatendo o MST por ter se tornado o maior produtor de arroz orgânico do país? Ninguém. Trabalho e Resultados. É o que Todos queremos. E um Meio Ambiente o mais puro possível. Mas primeiramente onde estão os Brasileiros. Nos rios e território das Cidades. Os Rios Pinheiros e Tiête cortam a exuberante Mata Atlântica. Onde ela está dentro da Capital? O Homem é a medida de todas as coisas. E o Brasileiro é a medida de todo o Brasil. “A América para os Americanos”. Monroe. “O Brasil para os Brasileiros”. Zé Sérgio. abs.      

  2. Excelente artigo

    Como sempre, Rui Daher, profundo conhecedor das questões rurais,  mostra-nos o perigo que estamos passando, diante de modificações inaceitáveis para a vida do povo brasileiro, já tão devastado pela ausência de Saúde Pública.

    Na verdade, o  campo foi invadido por uma “moderna”  agricultura, verdadeiras monoculturas regionais, que produz alimentos em desacordo total com as necessidades do ser humano, alimentação imperfeita, impregnada por pesticidas e agrotóxicos. A “moderna” agricultura, ecologicamente imperfeita, predatória, não respeita os limites impostos pela natureza e está detonando nossas reservas florestais, destruindo nossa flora, fauna, a biodiversidade, tudo o que, mais para o futuro, tornará impossível a manutenção perene da água, como se isso tudo não fosse essencial para a continuidade da vida no planeta.

    Agora, esta chegando no limite. Temos que protestar contra este projeto de lei, que irá legalizar, coisas que já, infelizmente, estão acontecendo em nosso País, pelos transgênicos, inseticidas e agrotóxicos, utilizados por poderosos conglomerados do setor agrícola, que estão e,agora, com muito mais força, irão destruir nosso solo, contaminr nossas águas, destruir o futuro agrícola de nosso País e, ainda, legar à Saúde de nosso povo gravíssimos danos, muitos irreparáveis.

     

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