Observatorio de Geopolitica
O Observatório de Geopolítica do GGN tem como propósito analisar, de uma perspectiva crítica, a conjuntura internacional e os principais movimentos do Sistemas Mundial Moderno. Partimos do entendimento que o Sistema Internacional passa por profundas transformações estruturais, de caráter secular. E à partir desta compreensão se direcionam nossas contribuições no campo das Relações Internacionais, da Economia Política Internacional e da Geopolítica.
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Argentina, a crise e o ministro Sergio Massa, por Andrés Tzeiman e Leonardo Granato

Não há como não chamar a atenção para o fato de que parte da pressão econômica que hoje a Argentina vive se deve ao próprio acordo com o FMI

Kristina Kirchner, Alberto Fernandez e Sergio Massa: a missão de derrotar a extrema-direita na Argentina. Foto: Presidência da Argentina

do Observatório de Geopolítica

Argentina, a crise e o ministro Sergio Massa

por Andrés Tzeiman e Leonardo Granato

Em meio à crise socioeconômica argentina, as recentes medidas anunciadas pelo ministro da Economia, Sergio Massa, abrem novos interrogantes acerca da sua gestão e das possibilidades de levar adiante as suas aspirações presidenciáveis. Desde o começo, com seu particular pragmatismo, o atual ministro da Economia soube aproveitar as divisões na coalizão governista Frente de Todos, assim como as desavenças entre o presidente Alberto Fernández e a vice-presidenta Cristina Kirchner. Crítico do ex-ministro da Economia Martín Guzmán, com o apoio da vice-presidenta, e depois da troca de outros três ministros, Massa não hesitou em assumir para si a desafiadora tarefa de estabilizar um cenário socioeconômico nacional marcado por aumentos expressivos da inflação e da pobreza.

Em um contexto de déficit fiscal e comercial, e de escassez de reservas do Banco Central, ficou evidenciado que medidas como aumento da taxa de juros, emissão de moeda, controle de preços e acudir a renegociações com o FMI para liberação de empréstimos não constituem um verdadeiro programa que ofereça uma alternativa à crise no país vizinho. Inclusive, não há como não chamar a atenção para o fato de que parte da pressão econômica que hoje a Argentina vive se deve ao próprio acordo com o FMI.

A referida pressão expressa-se, fundamentalmente, em dois dilemas que constituem uma autêntica encruzilhada para o governo argentino, e em particular para o ministro Massa, pelo menos até o encerramento do mandato presidencial de Fernández. O primeiro dos dilemas refere-se à insistência do FMI em acelerar a eliminação dos subsídios a tarifas dos serviços públicos. Tal eliminação irá repercutir desfavoravelmente tanto nos índices de inflação, bem como no poder de compra dos salários, em meio a um contexto geral de desvalorização dos salários da classe trabalhadora.

O segundo dilema remete à renegociação de certas condições do acordo com o organismo multilateral, sobretudo face ao fato, inesperado e catastrófico para a economia nacional, representado pela seca. Em meio ao quadro crítico representado pela falta de divisas internacionais, estima-se que a Argentina perderá ainda entre 15 mil e 20 mil milhões de dólares devido à referida crise hídrica com repercussões negativas nas atividades socioeconômicas. Contudo, tal situação de caráter extraordinário não tem sensibilizado as autoridades do FMI, que têm se mostrado inflexíveis à alteração das cláusulas do acordo, a despeito das novas circunstâncias que vêm agravando a crise argentina.

A disparada do dólar, o qual, na última semana do mês de abril, continuou a pressionar o aumento dos preços, alcançando-se uma inflação de mais de 100%, é evidência das dificuldades que Sergio Massa vem atravessando para conseguir sua prometida estabilização da economia argentina. Provavelmente, porque esse programa não irá vir de uma única pessoa, de um “superministro”, mas de um esforço de articulação política maior no âmbito da própria Frente de Todos, de cuja falta de unidade hoje a extrema-direita se aproveita para avançar.

Muito menos são a dolarização da economia, a abertura irrestrita, as privatizações e o plano “Motosserra” (do gasto público) do deputado da extrema-direita Javier Milei que vão solucionar esse quadro de crise. Diversificação da matriz produtiva, inserção externa soberana, geração de emprego e distribuição de renda são questões, dentre outras, que não dependem apenas da figura de um ministro, mas de um consenso mais amplo em torno de um programa de desenvolvimento nacional coordenado pelo Estado em articulação com a diversidade de forças produtivas e sociais. São essas as questões que deveriam pautar hoje o debate político e intelectual no país.

Andrés Tzeiman e Leonardo Granato são docentes da Universidade de Buenos Aires e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, respectivamente, e integram a Rede de Pesquisas sobre o Estado na América Latina com sede na Universidade Nacional de Villa María (Argentina).

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. A publicação do artigo dependerá de aprovação da redação GGN.

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