A degeneração da Lava Jato, por Wanderley Guilherme dos Santos

Do Segunda Opinião

A degeneração da Lava Jato

Wanderley Guilherme dos Santos

A degeneração da Lava Jato deu cobertura ideológica ao reacionarismo embutido nas manifestações de junho de 2013. Com o sucesso e retroalimentação de público e de mídia, em 2015, a equipe investigativa cresceu em ousadia até a frustrada tentativa de prisão clandestina do ex-presidente Lula, em 4 de março de 2016. As dúvidas sobre a competência dos advogados ou cumplicidade de outras instâncias judiciárias com os alegados abusos dos Procuradores, da Polícia Federal e do juiz Sergio Moro foram superadas pela reação da esquerda à mal contada história do depoimento do ex-presidente no aeroporto de Congonhas. A decisão kamikaze de grampear a conversa de Presidente Dilma Roussef com o ex-presidente Lula e divulgá-la por canal de televisão historicamente associado a todos os golpes e tentativas de golpe de Estado, provocou unânime repúdio das correntes de esquerda, agora com a adesão de liberais democratas ao movimento de denúncia da partidarização da Lava Jato. O movimento reacionário nas ruas e associações arrefeceu, não obstante a vergonhosa e temporã, embora não inédita ajuda da seção nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, e o continuado vazamento seletivo de depoimentos sem confirmação segura, delações controversas e reportagens pré-condenatórias.
 
A Lava Jato foi despida por seus operadores, despidos a si próprios e, finalmente, desnudou-se o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, abrigando entre os “indícios convergentes” de seu parecer negando o direito da Presidente Dilma Roussef nomear e o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva ser nomeado ministro-chefe da Casa Civil, precisamente a escuta ilegal e divulgação inominável que havia, antes, dubiamente criticado. Foi mais um “indício convergente” ao estoque já robusto de todos os “indícios convergentes” de que os operadores da Lava Jato, supervisionados ou quiçá liderados pelo Procurador Geral, haviam subordinado a investigação à estratégia golpista da oposição derrotada e seus boletins midiáticos. Pois foi da catadupa de interpretações e ilações altamente polêmicas de seus soldados, que o Procurador Rodrigo Janot pescou e sancionou a acusação, perfilhada pelo Legislativo, de que a Presidente Dilma Roussef cometeu crime de responsabilidade por tentativa de obstruir a Justiça. Realmente, era só o que faltava!

 
Segundo a denúncia do PSDB, a nomeação do ex-presidente Lula visava impedir sua prisão com base em alegadas provas colhidas pelos Procuradores. Rodrigo Janot engoliu e quer que todos engulam essa, mas não deu explicação para o fato de que, não obstante a suspensão pelo ministro Gilmar Mendes do ato presidencial que, supostamente, visava proteger o ex-presidente, este continue livre, leve e solto, fazendo política e ajudando a derrotar o golpismo. Justo o que a presidente Dilma sempre disse que era o objetivo da nomeação. Estando a Justiça virginalmente desobstruída, valha o oximoro, por que cargas d’água, então, Lula permanece solto se não porque, vasculha daqui, dali e dacolá, os derrotados justiceiros de Janot não conseguiram “indícios convergentes” de crime algum? Onde está o efeito a ser obtido pela negação da causa (obstrução da Justiça), que seria a prisão do ex-presidente? Já não digo Hegel e Marx, mas morreram Aristóteles e Kant? E a dialética jurídica de que se orgulham os constitucionalistas, vai patrocinar essa barbaridade? Se o parecer do Procurador recomendasse negação de eventual pedido de habeas corpus, caso o ex-presidente Lula caísse na armadilha do aeroporto de Congonhas, em 4 de março, a narrativa de agora não faria sentido porque não seria necessária. Por onde se demonstra, contra-factualmente, que se trata, agora, de um sofisma.
 
A nomeação de Lula para ministro da Casa Civil buscava impedir o arbítrio de fanáticos, saídos das páginas de Os Miseráveis, de Vitor Hugo, e incorporar a experiência e argúcia de extraordinário líder político às tratativas contra o golpe, agora assim reconhecido a cada dia por novos contingentes de brasileiros. Só absoluta insensibilidade e vocação para a desordem justificam, nessa corrida em busca da racionalidade contra o desatino, congratular-se com uma investigação que, degenerada, ameaça transformar-se em organização merecedora do qualificativo de criminosa ao apresentar como defesa a prisão de certo número de vilões, incomparavelmente inferior ao número de degradações públicas de inocentes e de incontáveis assassinatos de caráter.
Redação

11 Comentários

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  1.  
    O Judiciário escreve, mais

     

    O Judiciário escreve, mais uma vez, como no golpe de 64 e no julgamento do Caixa 2 do PT,  uma  negra página de nossa história.

    Talvez a mais negra de todas.

    Permitir ao Cunha destruir livremente a democracia e os poucos avanços que conquistamos com tanto sofrimento não tem perdão.

     

     

     

     

     

  2. Ladrões querem prender “corrupta” para continuar a ladrar.
    Ladrões querem prender “corrupta” para continuar a ladrar. Quem tiver o mínimo de racionalidade percebe-se tal movimento.

    “Sempre achei mais fácil convencer uma grande massa, do que convencer uma só pessoa.” Benito Mussolini (1883-1945).

  3. Aparentemente o golpe terá

    Aparentemente o golpe terá sucesso e a Dilma será derrubada. Penso se tratar de golpe comandado por potência estrangeira com interesse geopolíticos divergentes dos nossos.

    Porém, para obter sucesso, cooptaram parte do STF, Judiciáro, PF e MPF. Esta cooptação não é de agora. Deve ter começado já em 2003. Acharam que o Lula seria um fracasso como presidente e o seu fracasso aniquilaria com ele e o PT de uma vez.

    Como as coisas fugiram ao controle e o Lula teve sucesso, tiveram que partir para outros meios. Sempre com orientação do DEA americano.

    A primeira tentativa de incriminar os líderes petistas e atingit o PT foi o famigerado mensalão, não por acaso com uma fábula criada pelo MPF que ignorou estatutos, documentos bancários, presatações de contas de campanha, relatórios e o laudo 2828/2006 produzido pela própria PF. O presidente do STF manipulou dados, escondeu provas que beneficiavam os réus e, na falta de provas, importou uma teoria alienígena do “Domínio do Fato” para condenar os líderes petistas. Ainda tentou manipular a tal dosimetria para aumentar as penas dos réus. OU seja, foi uma vingança maligna que deveria envergonhar o STF.

    Hoje sabemos porque o JB manobrou para condenar os petistas. Sempre acreditei que aquele apartamento em Miami era propina, agora tenho certeza visto que não há provas de que o JB pagou por ele.

    Nos tempos atuais, a lava jato também sob orientação do DEA e execução da República do Paraná e do PGR/MPF, sob a desculpa de combate a corrupção estão criando outra fábula. Uma fábula onde os ladrões estão do lado do PT. Para isto, fazem o mesmo que fizeram no mensalão, ou seja, criminalizam doações de campanha, remuneração de palestras, comissões por lobby e ignoram 8 delações contra o  Aécio(marionete birrenta que fica gritando por golpe), roubos do Cunha e seus asseclas, stc atc 

    Pegam até legalidades do PT e teantam criminalizar e ignoram todas as roubalheiras dos golpistas.

    Penso que o Moro e o Já NOT são os bancam o golpe seguindo orientações do DEA. Para isto, acredito que estão chantageando o Eduardo Cunha, com a ameaça de prisão da mulher e da filha alem da prisão do próprio para que dê andamento do golpe na câmara dos deputados. Como 64% dos deputados tem problema na justiça se dispõe a fazê-lo.

    Noto que o mesmo MOro e Já NOT já começaram a chantagear o Presidente do Senado para que quando o impeachment chegar lá, seja aprovado também.

    Então, um bando de pilantras, empregados de potência estrangeira pagos pelo estado brasileiro, corruptos de todos os tipos se mancomunam para em nome do combate a corrupção remover do poder os poucos que não são acusados e nem contra eles há provas de crime: Dilma e Lula.

    Assim será o nosso país se vencerem. Seremos tomados pelos maiores corruptos dp hemisfério sul. 

    Moro terá sua consagração pois o resultado da lava jato será o mesmo de sua fonte de inspiração. a Mani pulitte.

    Um país conflagrado, com a economia arruinada, empresas arruinadas e com os maiores corruptos do país no poder.

    Sucesso total. Parabéns Moro e Já NOT.

    Infelizmente vocês não serão explodidos como foram seus correspondetes italianos.

     

    1. Outro fato que corrobora com
      Outro fato que corrobora com esta perspectiva é que Paulo Maluf e filho tenham sido retirados da lista de procurados da interpol. Questões de convergência burocrática normal podem ter acontecido, mas dentro do contexto atual serve muito bem como prova das promessas apresentadas pelos golpistas aos seus comparsas.

      Se isso aconteceu de fato, ainda é preciso considerar como se procedeu para entender melhor a hierarquia do golpe:
      1. Se o cara ia sair da lista por questões corretas, mas a informação foi vazada justamente para ser utilizada na trama ilusionista.
      2. Se houve solicitação incomum e manipulação direta para que isso.

      Talvez ainda vaze algum audio do evento premonitório deste acontecimento exemplar.

  4. Os golpistas se utilizam

    Os golpistas se utilizam desta operação coomandada pelo camisa preta do Paraná para chantagear os políticos de uma forma geral e para salvar a própria pele.

    Essa gente está envolvida até o pescoço e sabe que eles só tem o golpe como saída. Para eles é matar ou matar. Não há outra saída.

    O país está ameaçado. A democracia está ameaçada. O povo está ameaçado.

    Só a rua garante nossas conquistas e nossos direitos.

     

    Todo sacrifício pela democracia é pouco.

  5. Wanderley, Lava-Jato = golpe made in USA!

    Confiram as “coincidências” e tirem suas próprias conclusões. 

    Publicado em El Pais:

    José Sócrates governou Portugal de 2005 a 2011. Inicialmente, foi o único primeiro-ministro socialista a obter maioria absoluta em eleições, mas a partir de 2009 governou em minoria, até aceitar a intervenção da troika composta por Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional e ser substituído por uma coalizão de centro-direita, dos partidos PSD e CDS. Mudou-se para Paris e, em novembro de 2014, foi detido ao desembarcar em Lisboa. Passou nove meses preso, mais algum tempo em prisão domiciliar, e agora espera que o Ministério Público apresente alguma acusação formal contra ele. A investigação, iniciada há três anos e meio, é sobre supostos crimes de corrupção, fraude fiscal e lavagem de dinheiro.

    Pergunta. Como está o processo?

    Resposta. A pergunta já diz tudo. Deveríamos estar a discutir sobre fatos e provas, infelizmente se discute quanto tempo mais precisam para investigar. Depois de 16 meses da minha detenção, [não há] nem fatos, nem provas, nem acusação. Quem deveria responder é o procurador que tem descumprido todos os prazos legais. Agora a Procuradoria-Geral anuncia que o novo prazo para apresentar a acusação ou encerrar o caso termina em 15 de setembro, mas adverte que se for preciso o ampliará.

    P. O senhor passou nove meses na prisão sem acusação?

    R. Sem acusação e sem acesso ao sumário. Não há um caso similar em nenhum país europeu, em nenhuma democracia ocidental, de alguém que passe nove meses encarcerado sem acusação. Detêm um ex-primeiro-ministro, imputam-lhe delitos ignominiosos, e um ano e meio depois não são capazes nem sequer de apresentar a acusação. Os mesmos encarregados de fazer justiça saltaram todas as regras do direito processual. Só um ano depois da detenção meus advogados tiveram acesso ao sumário, graças a uma reclamação ao Tribunal Tutelar.

    P. Parece que será acusado de fraude fiscal, lavagem de dinheiro e corrupção.

    R. Sim, está na moda. A acusação de corrupção se transformou no instrumento jurídico para a destruição política; antes, para eliminar um político acusavam-no de atentar contra a segurança do Estado. O golpe de força moderno é a falsa acusação de corrupção. Não são necessários fatos nem provas, basta acusar para que tenha o efeito de um assassinato político.

    P. E teve efeito?

    R. O objetivo era impedir minha candidatura à presidência do país e que o Partido Socialista não ganhasse as eleições. Conseguiram os dois.

    P. Embora o sumário seja secreto, sabemos bastante pelos vazamentos à imprensa marrom: conversas telefônicas, viagens do seu motorista, conexões na Suíça, Angola, Brasil…

    R. Sim, em outro fato insólito, o investigador-chefe do caso apresentou uma denúncia pelos vazamentos e observou que só podiam partir do procurador ou do juiz de instrução. Parece que o Ministério Público não tem consciência de que, com estes procedimentos, se está transformando em uma máquina sinistra que promove a culpabilidade pública através da imprensa marrom, em lugar de velar pela presunção de inocência; provoca a condenação popular antes de qualquer julgamento. O procurador não precisa apresentar provas, disso se encarrega a imprensa sensacionalista.

    P. Seu caso coincide no tempo com o de Lula no Brasil. Inclusive foram recordados os encontros entre vocês [coincidiram sete anos no poder]

    R. Até o comparecimento de Lula na apresentação de meu livro agora parece delituoso. Mas é curioso o paralelismo; como em meu caso, houve detenção abusiva e querem julgamentos populares sem possibilidade de defesa; o que ocorre no Brasil é uma tentativa de destituição sem delito, sem fundamento constitucional. O impeachment de Dilma Rouseff é uma vingança política da direita, que não aceita a derrota nas urnas. Não basta fazer acusações, é preciso fazer julgamento; condenar alguém sem direito a defesa acontece no Brasil e em Portugal, condenar sem julgar; destituição sem delito e sem fundamento. É um golpe político da direita, porque agora não mobilizam os militares; é impedir a candidatura de Lula à presidência de 2018. É utilizar a Justiça para condicionar eleições.

    P. Lá também vazaram à imprensa conversas telefônicas entre Lula e Dilma, mas o juiz reconheceu que foi ele.

    R. E? O juiz cometeu um delito; pedir perdão não o exime da culpa. A legitimidade de um juiz se baseia na imparcialidade, com esse gesto a perdeu. Já não o vejo como um juiz, mas como um ativista político.

  6. A única saída é opor à violência deles, a violência do povo.

    Todos às ruas para delas não mais sair até a derrota e a prisão dos conspiradores contra a democracia. 

  7. Na verdade, vários são os

    Na verdade, vários são os derrotados, por incompetência mesmo, por não terem conseguido até o momento prender Lula. Este, uma vez tendo sido provado seu crime possível de prisão, já estaria, de há muito atrás das gradas, quiçá sofrendo mais que José Dirceu, como um troféu a ser levantando ao mundo. Não prenderam Lula, Dilma e não cassaram o registro do PT porque nada encontraram na Lei que respaldasse tais prisões. E pra ficarem ainda pior nos filmes, a quantidade de parlamentares denunciadas – com provas robustas – não é do PT.

     

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