A reforma ministerial e o esgotamento do ciclo político, por Vladimir Safatle

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Sugerido por Gunter Zibell

Esquerda Zumbi

Por Vladimir Safatle, na Folha

Dilma conseguiu criar uma situação politicamente inusitada. A confirmar as previsões, seu ministério será um dos mais conservadores desde o fim do governo Collor.

Caso seu governo “dê certo”, ela terá provado quanto seu partido é atualmente desnecessário, já que foi simplesmente alijado da política econômica, assim como das políticas industrial e agrícola, limitando-se a ser um gestor das relações políticas do Estado e do sistema estatal de cooptação da sociedade civil.

A política a ser implementada é dificilmente distinguível do que seria um governo tucano ou marinista. Ao contrário, caso o governo “dê errado”, então Dilma terá mostrado como nem na base do transformismo brutal o consórcio governista consegue ainda ficar de pé.

Esse é apenas um sintoma clássico de esgotamento de ciclo político. Em várias partes do mundo, vemos a mesma história envolvendo partidos que vieram da esquerda.

Na França, o governo do Partido Socialista tem o presidente mais impopular da história da Quinta República a aplicar políticas sociais e econômicas que deixam seus opositores conservadores vermelhos de inveja.

Na Alemanha, os sociais-democratas do SPD acostumaram-se a fazer parte do gabinete de Angela Merkel, sendo nada mais que um aliado meio incômodo com quem, no entanto, é possível governar.

Nos casos francês e alemão, tais partidos de esquerda são apenas “conservadores com um rosto humano”, o que –há de se dizer as coisas às claras– é também a situação no Brasil. Esta esquerda não existe mais enquanto tal.

O problema é que nem sempre o que deixou de existir desaparece. Às vezes, ele continua a vagar como zumbi, entre a vida e a morte, à espreita de sangue novo para continuar seu vagar arrastado, melancólico.

Vagar de choques recessivos anunciados com olhares depressivos, de “planos de austeridade” vindo do além-túmulo. Deste sangue novo vampirizado, ela não fará nada, a não ser paralisar todo movimento possível e transformar outros corpos em mortos-vivos que vagam junto ao zumbi governamental alimentados pela ilusão narcísica de estarem perto do poder. Sim, meus amigos, preparem-se para a esquerda zumbi.

Enquanto isto, em países que cansaram desse show de horrores, uma vida política reconstruída começa a aparecer.

Olhem para a Espanha do Podemos! e a Grécia do Syriza: dois partidos de uma esquerda renovada que estão atualmente em primeiro lugar em todas as pesquisas.

Pois o que há de pior quando se está diante de um tempo morto é acreditar que todos os tempos são iguais.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

12 Comentários

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  1. Aguardemos! Essa ‘renovada

    Aguardemos! Essa ‘renovada esquerda’ da Grecia e da Espanha, por enquanto, estão somente  liderando as pesquisas. Chegando ao poder, se chegar, veremos como será.

  2. Ou seja, o esquerdista é
    Ou seja, o esquerdista é convicto até por a mão na massa, então, percebe que sua ideologia é utópica e inconsequente.

  3. O PiG não é lugar para esquerda criticar esquerda.

    O PiG é o adversário.  É o verdadeiro partido da direita.

    Alimentar os golpistas da direita é o que faz o Sr. Safatle escrevendo para o frias.

    O PiG é inimigo do povo… e assim deve ser tratado.

  4. Provar que estão vivos

    É a dura realidade na aparente esquizofrenia vivida entre um governo que se diz socialista gerindo uma sociedade que se diz capitalista. O melhor é achar rapidinho as soluções para os nossos problemas, que não são poucos, porque a direita já começou a campanha eleitoral para 2018.

  5. lamentável análise.
    é a

    lamentável análise.

    é a esquerda esquisofrenica -a esquerdofenica –

    dando munição no pig para a direita cada ve mais hegemonica….

  6. O PSOL poderia ter eleito uma bancada maior

    O PSOL poderia ter eleito uma bancada maior, como na Grecia e Espanha, embora reconheça a importante contribuição dos psolistas para a vitória de Dilma. Com a população elegendo um Parlamento conservador, como governar sen essa gente?

  7. Prezado GunterAinda bem que

    Prezado Gunter

    Ainda bem que estamos comparando nossa “fragil democracia” com outras, porque se fossemos comprarar com ditaduras (Ex.: China e Russia), com certeza o resultado seria “quase o mesmo”.

    Não podemos criticar agora a presidenta, pois seu discurso de campanha foi de mudança.

    É um prazer te-lo novamente aqui no GGN.

    Abração

  8. o pragmatismo de Dilma

    A gestão Dilma caracteriza-se por um experimentalismo, aos moldes cientificos. Com Guido Mantega no comando da economia este crivo experimentalista teve viés desenvolvimentista. O maior exemplo foram as concessões públicas de rodovias, aeroportos e o modelo de partilha da Petrobras que sempre lograram o maior retorno possível ao interesse público. Com o PAC os investimentos em energia, habitação, saneamento foram bastante satisfatórios. Num balanço preliminar pode-se afirmar que tratou-se de um ciclo virtuoso que resultou em baixo desemprego e distribuição de renda. O ciclo apresenta sinais de esgotamento. A realidade exige ajustes fiscais. Acredito que o experimentalismo desenvolvimentista do ciclo anterior será amplamente utilizado pela exemplar gestora que é Dilma e será catalizador do novo ciclo ortodoxo. Por esta razão não cabe a comparação com eventuais governos Aécio ou Marina que jogariam toda experiencia acumulada no esgoto e partiriam para uma nova farra ideológica  . As farras ideológicas no Brasil sempre tiveram consequências desastrosas. Caro Gunter, dificil imaginar um governo Aécio que não entregasse o comando da Petrobras aos acionistas, algo impensável com Dilma. Há diferenças qualitativas e quantitativas significativas em governos Dilma, Aécio ou Marina, mesmo num padrão ortodoxo.  

  9. “Olhem para a Espanha do

    “Olhem para a Espanha do Podemos! e a Grécia do Syriza:”

    Nem precisa cruzar o Atlântico. Olhem, admirme e defendam a luta do governo e do povo argentino, que reergueu o país de um caos promovido por essa mesma ideologia, e que hoje resistem bravamente à sua volta, conseguindo imponentes vitórias contra a mídia oligárquica, contra a especulação financeira, contra a elite nacional prostituída.

    Nunca a situação dos hermanos foi tão digna dessa admiração como hoje, mas infelizmente o que vemos no Brasil é justamente o contrário. Uma campanha de difamação sem tréguas promovida por nossas oligarquias e uma solidariedade excessivamente retraída da esquerda local, ou do que restou dela.

  10. CORRETO MA NO TROPPO

    O Safatle tem razão. As vezes destila um antipetismo de bom tom (ele é PSOL e precisa marcar a “diferença”), mas nesse artigoa análise é sensata. Entretanto ele esquece de dizer quais foram os reais avanços para a população com uma coalização como a que Lula, PT e Dilma fizeram. O análise é realmente de observador, pois se Safatle estive no lugar de Dilma, aí seriam outros quinhentos. Por outro lado não temos o clima realmente caótico de Espanha e Grécia, para uma formação partidária outra. Talvez esteja sendo gestada, mas nosso tempo (do Brasil) é outro. É de ascencão de classes secularmente prejudicadas ao mínimo que o capitalismo pode oferecer. Tudo bem. É uma guinada aparentemente conservadora, mas Safatle precisava comparar o governo do PT com os dos conservadores do PSDB e não com o Podemos! da Espanha (que ainda não tem legado de governança para se saber se funciona efetivamente). Devia cotejar o governo de São Paulo e Paraná, por exemplo, em matéria de avanços sociais e os avanços do PT. De resto, o Safatle é excelente.

  11. Qdo a gente começa a pensar q o PSOL é capaz de aprender

    Eles mostram novamente que nao. Para ver se “fazem bonito” diante de uma esquerdinha voluntariosa eles nao têm pejo de se aliar à Direita. 

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