Deisy Ventura: ‘O Brasil pode se orgulhar da sua capacidade de resposta internacional graças ao SUS’

A análise é da professora e pesquisadora Deisy Ventura, da faculdade de Saúde Pública da USP, especialista em Ética e Saúde Global.

do CEE Fiocruz

Deisy Ventura: ‘O Brasil pode se orgulhar da sua capacidade de resposta internacional graças ao SUS’

Um Sistema Único de Saúde forte, com acesso universal, gratuito, com capilaridade em todo território nacional, que promova a atenção integral à saúde é decisivo não apenas em momentos de emergência, mas continuamente, para que possamos falar de segurança e de soberania nacional. A análise é da professora e pesquisadora Deisy Ventura, da faculdade de Saúde Pública da USP, especialista em Ética e Saúde Global. Em vídeo gravado para o blog do CEE-Fiocruz, após participar da aula inaugural da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, em 4 de março de 2020, a professora tomou como ponto de partida o atual cenário do coronavírus no mundo para tratar de desigualdades e iniquidades sociais.

Deisy faz um breve resgate das emergências em saúde pública de importância internacional anunciadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo a professora, a primeira emergência ocorreu em 2009, durante a pandemia do vírus H1N1. Na sequência, em 2014, deu-se a emergência do vírus causador da poliomielite; e, logo em seguida, o surto de ebola na África Ocidental. A quarta emergência global, relata, foi dos casos de microcefalia associada ao zika vírus no Brasil, em 2016. Essa, destaca Deisy, conhecemos bem e temos falado pouco dela. “O Brasil deu uma resposta que só foi possível graças ao Sistema Único de Saúde. Médicos do sertão nordestino identificaram a relação entre a infecção pelo vírus zika e a microcefalia e outras malformações e as instituições públicas de pesquisa confirmaram essa relação, publicando no mundo inteiro publicar e beneficiando muita gente, seja no meio científico, seja nas populações atingidas por essas doenças”.

A quinta emergência internacional citada por Deisy refere-se a um novo surto de ebola observado no Congo, em 2019. E, por fim, a sexta, o novo coronavírus, que teve como epicentro a China.

“Temos várias emergências internacionais no mundo e só falamos de uma, que é o coronavírus. Com certeza, isso está relacionado às desigualdades”, aponta Deisy, observando que a poliomielite, por exemplo, é considerada emergência há seis anos – o que lhe tira o caráter emergencial. “E só permanece como tal porque não tem a atenção merecida”, avalia. “Somos mortais, mas as doenças chegam a nós de formas diferentes. Todos vamos morrer, mas por razões diferentes, de formas diferentes e com impactos diferentes sobre as nossas famílias”, assinala a professora, afirmando que “é preciso ter muito cuidado com coronavírus não por conta da forma de contágio em si, mas pelo risco de alterar de forma artificial nossas prioridades em saúde pública. “Saúde pública não pode ser aquilo que sobra entre uma emergência e outra”, alerta.

 Se pararmos de financiar pesquisas independentes no Brasil, iremos depender de outros países do mundo desenvolvido que não fazem caridade para ninguém

Deisy enfatiza, ainda, a importância de fortalecer o nosso sistema nacional de saúde com acesso universal e gratuito, com cobertura em todo território nacional, com profissionais de saúde valorizados e preparados. “Hoje é o coronavírus, amanhã, vai ser outro vírus, uma bactéria, ou qualquer outra ameaça. Nós jamais teremos a capacidade de prever o que é. Mas o Brasil já pode se orgulhar da sua capacidade de resposta internacional graças ao SUS e poucos brasileiros sabem disso”, afirma.

“Precisamos de financiamento do SUS e de valorização dos profissionais de ensino de ciência. Se nossas instituições de pesquisa não tivessem capacidade, não teríamos a descoberta da síndrome congênita do vírus Zika e agora nós não estaríamos sequenciando genomas, oferecendo condições científicas de resposta como instituições nacionais. Portanto, se pararmos de financiar pesquisas independentes no Brasil, iremos depender de outros países do mundo desenvolvido que não fazem caridade para ninguém, fazem investimentos em empreendimentos rentáveis”, observa. “Um país soberano precisa ter instituições de pesquisa fortes e valorizadas”.

Acesse aqui a cobertura completa da aula inaugural.

 

Redação

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