Haddad acerta no problema do crack, por Marcos Fernandes

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

O programa do prefeito Fernando Haddad “não veio do nada, mas da aplicação de literatura científica de políticas públicas de saúde: isso é inovação de tecnologia social”

 

Por Marcos Fernandes

Do CEPESP (Centro de Polícia e Economia do Setor Público)

A política pública para o crack do Prefeito Fernando Haddad está sendo criticada de forma injusta e, diria, irresponsável e ignorante. Injusta, pois não levam em consideração as alternativas (quem propõe internação propõe uma higiene social oitocentista), irresponsável, pois aparentemente atrelada somente à crítica partidária e ignorante, pois ipsis litteris ignora a literatura sobre o tema.

Leio os livros e acompanho o trabalho, há anos, de Carl Hart, psicólogo experimental, ativista, professor e divulgador científico que trabalha com o problema da adição e do vício, duas coisas, aliás, bem diferentes, como abaixo explicarei. Não foi surpresa minha que quando a política do crack foi implementada em São Paulo noticiou-se que o prefeito estava lendo um livro dele, pois o que foi feito teve base em seus trabalhos.

Em matéria recente da Folha de S. Paulo,  ficamos sabendo, como se fosse sinal de fracasso, que 4 em cada 10 participantes do programa não conseguem abandonar o uso da droga.

Seria interessante dizer que 6 em cada 10 que se recuperam e não usam a droga está dentro da expectativa e é indicador de sucesso, e não fracasso, pelo menos como nos mostra a literatura e a experiência, prática e científica.

Por falar em experiência científica e não em jornalismo enviesado e achismo etílico de boteco, valeria a pena ver um experimento – explicado em cartoon para os mais preguiçosos – de Hart e outros pesquisadores neurocientistas.

Aqui simplifico a estória. Imagine 10 ratinhos confinados numa caixa de 1 metro quadrado que somente têm acesso a uma solução de cocaína e nada mais. Eles obviamente não pararão de usar a droga. O desavisado já diz: “tá vendo, ficou viciado”. Agora imagine os mesmos dez roedores na mesma caixa, mas agora com um acesso a outra, de 3 metros quadrados com comidinhas gostosas, brinquedos (aqueles rodinhas que eles adoram…..) tudo verdinho e bonito. Considere o seguinte resultado: agora 6 de cada 10 ratinhos não voltam para a outra caixa. São viciados? Precisam ser internados?

Acima comentei: tratar todos os usuários por viciados é um erro, erro de sete cabeças que alimenta clínicas de alguns psiquiatras e poucos, mas perigosos, religiosos picaretas: moralismo, dinheiro e higienismo social, coisas oitocentistas, mais uma vez.

Bem, de volta a São Paulo: troque os ratinhos por usuários de crack e considere o programa de oportunidades criado pela prefeitura como a caixinha mais bacana dos mickeys. Pois é, o programa de Haddad não veio do nada, mas da aplicação de literatura científica de políticas públicas de saúde: isso é inovação de tecnologia social.

Não é um deus ex machina, mas nenhuma política o é. Atire a primeira pedra! Espero, ansioso.

Marcos Fernandes Gonçalves da Silva possui Graduação em Ciências Econômicas pela Universidade de São Paulo (1984), Doutorado em Economia pela Universidade de São Paulo (1994) e pós-doutorado no SAS (http://americas.sas.ac.uk/) – University of London (1997/1998). Foi consultor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD/ONU), é consultor da FAPESP na área de corrupção e políticas públicas. Atualmente é Professor Adjunto em tempo integral, foi colaborador do Programa de Pós-Graduação em Economia, Coordenador da Graduação em Economia, Pedagógico e Coordenador do Centro de Pesquisas dos Processos da Decisão da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio (FGV/EESP).
 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

16 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. O cara quer curar vício com

    O cara quer curar vício com conversa mole.

       É inacreditável como não é do ramo.

          E ainda, por cima, deu emprego pros viciados na doce ilusão que o vício seria resolvido.

            Resutado: Com mais dinheito mais vício.

                Alerto aos interessados: O primeiro passo pra curar um viciado é NÃO fornecer dinheiro.E nem algo de valor ao seu alcance,porque ele rouba e vende. Nem que seja uma vassoura de gari.

               E Haddad fez EXATAMENTE o contrário.

    1. Parece que os paulistanos não conseguem entender

      Claro, Anarquista, e na proxima operação, o Haddad vai te consultar, grande expert que você é sobre esse caso, para ver qual a melhor maneira de se proceder face a algo tão dificil de combater, quanto ao vicio.

      Vi outro dia um documentario sobre a industria do açucar nosso de cada dia. Cientistas fizeram a seguinte experiência: no primeiro dia colocaram cocaina para os ratos e eles foram la e lamberam. No outro dia, colocaram açucar, a mesma coisa. No terceiro dia colocaram cocaina num canto e açucar no outro, os ratos preferiram o açucar… Que vicia mais rapidamente que a cocaina, poderemos constatar dessa forma. O crack é um vicio terrivel, assim como o alcool, cacaina, heroina etc. Viciados não largam seus vicios facilmente e a falta de dinheiro no caso das drogas pesadas gera mais violência. 

      1. ”Claro, Anarquista, e na

        ”Claro, Anarquista, e na proxima operação, o Haddad vai te consultar,”

          Deveria por duas razões:

           Sou academicamente formado no assunto.

               Fui viciado e tenho recaidas como drogado.

                Sou,literalmente, do ramo.

        1. Fica bem distante do teclado

          Fica bem distante do teclado então, quando tiver suas recaidas ou sob efeitos do tratamento. Senão acaba nos brindando com estas pérolas que acabou de vomitar.

    2. Seis em cada dez se

      Seis em cada dez se recuperaram. Isso mostra que a maioria das pessoas que pegaram o caminho errado quando têm uma segunda chance aproveitam. O seu raciocínio é tão raso e sua visão de mundo tão curta, que se não lhe dessem várias segundas chances você provavelmente teria abandonado a escola.

    3. É muita mentira e má-fé

      Incrível como a trollagem tucana se vale apenas de mentira e má-fé. Com tamto espaço para uma crítica e um debate qualificado eles insistem em boçalidades tostas do mais baixo nível e mentiras descaradas. Será que são tão ruins assim mesmo ou optam por descer ao nível do esgoto como estratégia?

      É mentira dizer que o projeto do Haddad deu dinehiro aos dependentes. Ele deu TRABALHO, exatamente o tipo de coisa que é necessário para quem quer se recuperar.

      Trabalho, dignidade, orientação, assistência médica e social. É nisso que se baseia o projeto.

      Mas para falar mal eles tem que mentir e falar que o Haddad está “distribuindo dinheiro aos viciados”.

      Por que optam pela mentira e por mentiras tão descaradas.

      Pior, caem no ridículo: Vender vassouras para comprar crack? Só um idiota acreditaria numa asneira dessas.

      Do jeito que o trollzão fala, parece que a única solução é matar os dependentes. Que eles não tem a menor chance de recuperação, que o trabalho, o apoio médico e psicológico e a assistência social são absolutamente inúteis. REsta então trancar todos em um campo de concentração e matar, porque não tem solução.

      Essa é a posição do PSDB, isso é o que sobrou para a oposição. E o babaca ainda escreve como se entendesse alguma coisa mais que o Haddad.

      Entende de nada, esse neonazista tosco.

      1. Esse papo furado de

        Esse papo furado de ”trollagem ‘ é irritante.

          Na sua minúscula cabeça quem critica o PT é do P S D B .

                 EU ODEIO AMBOS.

                       Isto posto e colocado, quero dizer que a prefeitura de SP errou rotundamente nesse caso.

                          E AS PREFEITURAS ANTERIORES ERRARAM MAIS AINDA.

                            Por que? Porque nem tentaram resolver.

                          Lula diz que o caixa 2 de campanha é normal,porque todos fazem.

                           Ruy acquaviva  diz que sou troll e questão resolvida.

                       De Troll só guardo um brinquedo da empresa falida.

                            Mas se prestarmos muita atenção,vc  é uma ignorância exposta a serviço do governo.

                                 Vc escreveu:

                         ”É mentira dizer que o projeto do Haddad deu dinehiro aos dependentes. Ele deu TRABALHO, exatamente o tipo de coisa que é necessário para quem quer se recuperar.”

                        Digo eu: Essa sua salientação pra TRABALHO SIGNIFICA ZERO PRA VICIADOS.

                          Vai aqui uma dica sem detalhes: VICIADO CONTUMAZ PRECISA DE TRATAMENRO DE CHOQUE

                          ”TRABALHO”, nesse caso”, NÃO ADIANTA NADA.

                           Até piora porque recebe e consome mais.

                            Entendeu, Cabeçudo?

    4. ANARCA, PLEASE, POUPE-NOS!

      Você sabe muito mais do que nós que o vício é difícil de ser sanado, mediante tratamento.

      Na verdade, não temos condições nenhuma de tratar a grande quantidade de viciados que existem – mesmo aqueles que gostam apenas do álcool –

      Assim, o programa de braços abertos é a melhor saída. Custa pouco, mas é importante porque está tendo resultados e resgata um pouco o sentimento de solidariedade humana que está muito esquecida.

       

    5. Claramente você não mora em

      Claramente você não mora em São Paulo e não tem ideia de como o centro melhou com esse programa. Então pare de falar do que você não conhece e pare de tentar sabotar uma coisa que está dando certo.

       

  2. Pergunte aos vizinhos do

    Pergunte aos vizinhos do crack o que eles acham desta política: provavelmente eles iriam querer a volta radical à “higiene oitocentista”, bem à moda do tucanato ou da PM brutal.

    Uma pena, mas uma verdade.

  3. A grande imprensa paulista é

    A grande imprensa paulista é viciada em mentir. Muitos de seus leitores/ouvintes/telespectadores têm adição ao antipetismo e ao higienismo oitocentista.

  4. Todos merecem novas oportunidades

    Fico preocupado com a insensibilidade de algumas pessoas, lendo comentários que simplesmente acabam com aquelas pessoas que caíram no vício. Faço uma pergunta pra vocẽ que está contra dar um emprego ou oferecer uma formação, um curso a um dessas pessoas que encontraram esse caminho das drogas nas suas vidas: e se fosse seu filho ou sua filha, ou seu pai ou mãe? Gostaria que fosse dada uma nova oportunidade a ele ou também sugeriria que fosse tratado como um estorvo na sociedade? Pénse nisso… A vida dá muitas voltas e não sabemos onde estaremos nós e aqueles que amamos estarão caminhando ‘amanhã’.

     

  5. Faço questão de atentar pra

    Faço questão de atentar pra um detalhe importante: Carl Hart é negro, professor da Columbia University. Detesto ver negros talentosos passarem como brancos, porque afinal de contas, a despeito do nosso imaginário social jurar que não, aqueles existem. 

  6. Faço questão de atentar pra

    Faço questão de atentar pra um detalhe importante: Carl Hart é negro, professor da Columbia University. Detesto ver negros talentosos passarem como brancos, porque afinal de contas, a despeito do nosso imaginário social jurar que não, aqueles existem. 

  7. Marcos Fernandes Gonçalves da Silva

    Marcos Fernandes Gonçalves da Silva

     

    Um bjo para você!!!  Que texto bom de ler  =)) 

    Vou começar a ler Carl Hart.  

    Obrigada!!! 

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador