Midiacentrismo da cobertura Bolsonaro-Putin oculta digitais do hackeamento eleitoral do PMiG
por Wilson Roberto Vieira Ferreira
O jornalismo corporativo é midiacêntrico e tautista: os fatos só acontecem para serem transmitidos e noticiados, numa espécie de auto lisonja do jornalismo corporativo. Disso decorre uma perigosa ingenuidade: acreditam que a verdade só pode estar no próprio fato que noticiam. Ignoram que muitas vezes os acontecimentos são diversionistas (simulações, não-acontecimentos, factoides etc.) para desviar a atenção de todos da verdadeira cena. A escalada da crise Rússia-OTAN-EUA e a visita de Bolsonaro ao líder russo Putin revelou tudo isso: como jornalistas e “colonistas” são capazes de acreditar em qualquer coisa. Até em canastrices. Dia da invasão na Ucrânia com data marcada? Uma operação de hackeamento russo das eleições brasileiras feito às vistas da imprensa num encontro oficial de presidentes? Como sempre, a operação psicológica da dobradinha PMiG (Partido Militar Golpista) e mídia corporativa (no modo Alarme!). Para ocultar as digitais que comprovariam que o PMiG já deu um golpe híbrido (por isso, a mídia não viu) e que as eleições já foram hackeadas, desde 2018 – mesmo com as “pontes” construídas entre militares e civis no STF e TSE para “as instituições funcionarem”…
“Jornalistas são perigosamente ingênuos… não se interessam pela verdade, mas apenas por uma boa história”, afirmou Joey Skaggs, principal criador da estratégia antimídia chamada “media prank” (“pegadinha”) – costuma enganar jornalistas ao fazê-los acreditar em personagens e histórias fictícias, clique aqui.
Em outros termos, podemos dizer que jornalistas são mediacêntricos: ingenuamente acreditam que os fatos somente ocorrem para que eles possam noticiar. Baseado numa espécie de empirismo grosseiro, acreditam que a verdade só pode estar no próprio fato que estejam noticiando. Por isso, confundem apuração com investigação – incansavelmente apuram as notícias como se a verdade só pudesse estar no acontecimento narrado.
Ignoram que muitas vezes os acontecimentos são diversionistas (simulações, não-acontecimentos, factoides etc.) para desviar a atenção de todos da verdadeira cena.
Essas últimas semanas da escalada da “tensão” no conflito Rússia-Ucrânia-OTAN-EUA, culminando com o surto midiático pelo encontro de Bolsonaro com Putin e, depois, com o “irmão” primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, foram exemplares para entender essa modus operandi vicioso dos jornalistas.
Diariamente as manchetes internacionais do jornalismo corporativo davam conta de que “a qualquer momento” a Rússia poderia invadir a Ucrânia. Nos telejornais, essas manchetes diárias são invariavelmente acompanhadas com imagens de arquivo em loop mostrando movimentação de tropas e blindados russos, com ênfase em tanques disparando – na verdade imagens aleatórias de exercícios militares russos cuja contaminação metonímica induz à percepção que são imagens atualizadas do avanço russo em direção às fronteiras ucranianas.
Invasão com data marcada
Como a conflagração real nunca acontece, deu-se início a uma estratégia retórica absurda, mas, principalmente, canastrona: a invasão com data marcada! Primeiro, que a conflagração final ocorreria durante as Olimpíadas de Inverno que estão sendo realizadas na China. Depois, de que Putin estava apenas aguardando o final das Olimpíadas para dar a ordem de ataque.
E para reforçar a canastrice desse teatro, a recorrente notícia (semanal) de que a Inteligência norte-americana descobriu que a Rússia planeja criar false flags para justificar a invasão – vídeos fakes simulando agressões da OTAN nas fronteiras russas, com o requinte de contar com atores e efeitos especiais. Aliás, prática comum dos canais de notícias ocidentais, como, por exemplo, a simulação feita por repórteres e produtores de supostos protestos muçulmanos nas ruas de Londres contra o Estado Islâmico – clique aqui.
A canastrice e o overacting em tudo isso está na inverossimilhança que parece passar batido para jornalistas: que estratégia militar é essa em que a invasão tem data marcada e divulgada pelas mídias? Inteligência militar deixando vazar informações estratégicas? Cenário de ações militares sem o fator surpresa?
É quando a informação e propaganda se confundem. Mas para os jornalistas é “notícia”. Por quê? Pelo tautismo dos sistemas de comunicação, pela forma como as mídias noticiam o mundo exterior a partir da autodescrição que o jornalismo faz de si próprio. Se o secretário de Estado Antony Blinken convoca a imprensa para alertar false flags russas ou se o governo ucraniano chama cinegrafistas e repórteres para mostrar como “cidadãos” comuns treinam tiros em prédios abandonados para enfrentarem os invasores russos (na verdade esses “cidadãos” não passam de milícias de extrema-direita), o jornalismo corporativo sente-se “lisonjeado” ao confirmar a natureza midiacêntrica dos acontecimentos – os fatos acontecem para que possam ser transmitidos.
Portanto, tautismo: tautologia + autismo midiático.
Os malvados favoritos
O que Bolsonaro foi fazer na Rússia? Essa era a pergunta dos “colonistas” da grande mídia que atravessou toda a semana. E as operações psicológicas do PMiG (Partido Militar Golpista) entraram em cena – na verdade, todo o tour do presidente foi composto por bem calculados não-acontecimentos à espera de que a grande mídia lhes desse pernas.
Tudo começou com o próprio significado simbólico da visita de Bolsonaro ao líder russo Vladimir Putin. O PMiG ofereceu para a mídia um prato cheio: dois malvados favoritos, nacional e internacional, juntos, apertando as mãos, sorrindo.
De imediato, foi um acontecimento para colocar mais energia no desfibrilador que tenta ressuscitar a “esperança branca” da terceira via, ou melhor, o ex-juiz Sérgo Moro. Para dez em cada dez “colonistas”, foi a evidência que Lula e Bolsonaro, esquerda e direita, se equivalem: Putin que apoia Venezuela que era aliado de Lula no BRICS que aperta as mãos de Bolsonaro que vai visitar o monumento de homenagem soviéticos mortos durante a Segunda Guerra Mundial, e assim por diante. O reforço semiótico da narrativa da “polarização dos extremos”.
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